MENINO COMUM

Milton Pires

Não é sem um certo constrangimento, sem um certo sentimento de culpa, que começo esse artigo. De uma forma ou de outra, é como se eu estivesse fazendo aquilo que se sempre critiquei tão duramente na imprensa brasileira: explorar tragédias e desgraças para fazer dinheiro ou agradar políticos. Sinto-me, pois, na obrigação de dizer, já no início, que não sou jornalista profissional, que não escrevo a soldo de ninguém e que não integro partido político algum.

É com esse parágrafo acima que começo agora o que vou escrever sobre o assassinato do menino Bernardo Boldrini, cujo corpo foi encontrado numa cova no município de Frederico Westphalen, aqui no Rio Grande do Sul, na última segunda-feira, 14 de abril. O que segue são as minhas considerações, não sobre a culpa do pai ou da madrasta (já que até agora estão presos na condição de suspeitos) mas sobre o sistema judiciário brasileiro, sobre as ações das promotorias e dos assistentes sociais no nosso país.

Antes de morrer, bem documentados foram os pedidos de ajuda deixados pelo menino, a história de abandono afetivo por parte da aberração que atendia pelo nome de “pai” e até mesmo uma suposta tentativa de sufocamento por parte de uma madrasta que parece saída das “estórias de bruxas”. Nada disso adiantou: não bastava avisar o Ministério Público que a madrasta tinha tentado lhe matar nem que seu pai o havia abandonado. Bernardo não era negro, nem índio nem gay, nem deficiente, nem pobre...A promotora e a assistente social pouca atenção lhe deram no sentido de considerá-lo “criança sob risco”.

É sobre esse ativismo nojento, é sobre essa “justiça social” que devemos, todos nós, pedir licença à memória de Bernardo para escrever...É para que sua morte, supostamente causada pela disputa da herança deixada pela mãe, não se torne ainda mais absurda e para que alguma mensagem se tire do seu martírio compreendendo a vergonha que se tornou fazer “assistência social” no Brasil Petista – profissão que, já na sua graduação, começa com uma verdadeira lavagem mental marxista dentro da sala de aula. Não bastasse a tragédia das crianças que procuram a ajuda desses militantes petistas, há ainda os promotores, promotoras e juizinhos de gel no cabelo que, oscilando entre o positivismo fanático e o “direito alternativo”, pautam sua sentença totalmente pela letra fria da Lei ou pela “manifestação” que está, naquele momento, na frente do fórum.

Desculpas peço aqui a todo honrado magistrado que me lê, ao promotor ciente do seu ofício e à assistente social não cooptada pelo PT. Sei perfeitamente que vocês, assim como a gigantesca maioria dos médicos brasileiros, todo respeito merecem mas peço agora que exercitem o que em Medicina chamamos de empatia – a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de sentir como ele, de escutar e sofrer como ele e colocar-se, afinal, no lugar dele. Coloquem-se pois, no lugar da classe médica brasileira, vocês que bons juízes são..vocês que promotores dedicados se mostram, pois que toda opinião pública do Rio Grande do Sul agora detém-se sobre a atitude de seus colegas que “erraram”..dos que foram “omissos ou negligentes” como muitos de nós, médicos, somos apresentados.

Médico se dizia o pai de Bernardo, ainda que de um monstro aparentemente não passe. Verdadeiros promotores e assistentes sociais se acreditam aqueles que o menino procurou, e vejam a desgraça que suas decisões produziram.

Todo sistema judiciário brasileiro está doente e não só pelo gigantesco número de ações acumuladas, pelo sistema penitenciário falido que favorece à liberdade de monstros, ou pelo fim da segurança pública. A Justiça adoeceu pelas mesmas razões que a Medicina e a Educação: tornou-se marxista e lida com uma espécie de Direito que só existe nos “excluídos”..nos “marginalizados”..nos “pobres” e nas “minorias”..categoria em que jamais se encaixou Bernardo que era apenas um “menino comum”.

Em memória de Bernardo Boldrini (2003-2014)

Porto Alegre, 19 de abril de 2014.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 19/04/2014
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