A questão da mulher na luta por igualdade de gênero

As últimas pesquisas sobre a violência contra a mulher chamaram a atenção por algumas respostas. Em uma, os entrevistados defendem que a roupa curta é provocativa e pode justificar um caso de estupro. Noutra, as mulheres foram divididas em duas categorias; as mulheres para casar e as mulheres para fazer sexo (as mulheres casadas não fazem sexo, tadinhas). Obviamente, logo surgiram nas redes sociais campanhas contrárias a essas manifestações, consideradas machistas, mesmo que entre os entrevistados também estivessem mulheres.

É indiscutível que o estupro é de longe o pior tipo de violência praticada contra a vida e não existem justificativas para isso. Mas, é interessante que essa pesquisa seja lida e compreendida de forma mais ampla, naquilo que está nas entrelinhas do que foi dito. Pensando nisso, é no mínimo curioso que mulheres tenham compartilhado da mesma opinião desses homens; mas, pensando bem, não são essas mesmas mulheres que geram os filhos, os educam e os transformam em seus maridos?

Isso me faz pensar que talvez a pesquisa tenha evidenciado uma cultura machista enraizada na educação dos lares brasileiros e daí, eu comecei a me recordar de frases e ditos populares que ouvia na infância, nas rodas dos adultos e em programas de TV. Coisas do tipo: “prendam suas cabras que o meu bode está solto”. Isso lhe soa familiar? Ou seja, cara leitora, não se assuste com as pesquisas, compreenda-as como um alerta: os homens foram educados por mulheres para consumir mulheres. Para dividi-las entre as prestadoras de serviços domésticos e serviços sexuais e você não foge à regra, mesmo que se ache independente, esperta e decidida. Para manter-se viva você precisa entender que homem é homem e mulher é mulher. Não existe a tal igualdade de gênero.

Igualdade na prática nunca existiu e jamais existirá, pelo menos biologicamente. E é essa diferença biológica que torna a mulher sim, o sexo frágil. Aquele que precisa ser protegido e resguardado. E esse princípio deveria ser considerado para se pensar políticas públicas, políticas educativas, políticas de segurança. E, não se trata de qualquer lei, haja vista o que acontece com a Lei Maria da Penha. A mulherada tem denunciado mais, porém os assassinatos continuam. Isso porque não basta ameaçar o marido, indiciá-lo, determinar a distância mínima entre vítima e algoz, é necessário criar uma rede de proteção para a vítima, casas de apoio que não se pareçam prisão. Muitas precisam entrar num programa de proteção, mudar de nome, mudar de cidade para poder viver. Absurdo? Não, queridinha. É a dura realidade de quem é de carne e osso e se torna objeto do desejo obsessivo do outro.

Sem falar que um homem que agrediu reiterada vezes a sua companheira tem que ser monitorado, andar com tornozeleira apitando toda vez que se aproximar de sua presa. É. Mas, tudo isso custa caro, é bem mais fácil culpar a mulher, a vítima; responsabilizá- la por não se dar ao valor, não saber vestir-se adequadamente, não ser misericordiosa diante das fraquezas dele com bebida, drogas e outras mulheres, não ser obediente as regras esdrúxulas que ele cria para saciar seus desejos sexuais, por não ficar no seu lugar de mulher. Ou seja: homem é homem e mulher é mulher.

Então você me diz, mas eu sou solteira, não tenho nada a ver com conflitos entre casais. E voltamos ao tema das pesquisas, o que pensam (homens e mulheres) sobre as mulheres. E o pensamento é uma construção cultural que leva décadas para se estabelecer, às vezes, séculos. Portanto, se queremos que essa pesquisa no futuro apresente outros dados, precisamos investir na educação das novas gerações; na educação formal, aquela que se oferece na escola e aquela corriqueira, dentro de casa, que se expressa pela forma como tratamos filhos e filhas; na distribuição do serviço de casa; na linguagem que utilizamos para nos referir a homens e mulheres. Lembre-se: aquilo que fazemos para incentivar a virilidade dos garotos agora, pode se tornar no futuro, violência contra mulheres. A gentileza, a educação, o amor ao próximo não são qualidades exclusivamente femininas, como muitos pensam. E, o palavreado chulo, as atitudes rudes, a prática sexual sem regras não são comprovações inequívocas de virilidade masculina.

Mas, não quero concluir esse texto falando de educação, apesar de acreditar que a educação pode tudo. Quero concluí-lo falando de representatividade; de leis protegendo a mulher, de vagões no metrô exclusivos para elas, de bolsas de estudo, de cotas nas representações públicas e políticas, de creches, de horários flexíveis no trabalho, para que a mulher não tenha que se expor de madrugada ou no fim da noite, em becos e ruelas mal iluminadas. Condições dignas de trabalho e sustento para que seu corpo não seja seu ganha pão, pois a prostituição só é bonita no cinema, pois ao término das filmagens, as belas atrizes voltam para o aconchego de seus lares e aos braços de seu marido e filhos, sem carregar consigo a alma devastada pela subjugação do outro.

Por isso, quando você for se manifestar contra o estupro, ao invés de colocar um cartaz repetindo uma frase clichê, coloque um cartaz exigindo que a nossa diferença biológica seja compensada por ações governamentais que de fato criem a igualdade de gênero.

#VIOLÊNCIACONTRAMULHER:NÃO!

P.S.: E não é que o IPEA errou no percentual, mas não vibre; os números de B.O nas delegacias não mentem jamais, a mulher ainda é a bola da vez.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 04/04/2014
Reeditado em 07/07/2014
Código do texto: T4756233
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