Tudo em mim

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Dentro de mim, tudo está descomposto. Os sons que me chegam são nefastos, funéreos... Por Deus que veias não pulsam, mas minhas artérias, filiformes, imploram por firmes alças e certeiras mãos que me conduzam ao sepulcro. Sim, o cerrar do amor não possui nenhuma beleza, posto ser a morte coirmã da fealdade. A morte não tem reflexos! O espelho que me criva o olhar dentro da minha própria materialidade está a me dizer: ‘Corra, defunto, corra! O amor que era teu agora navega, sem nenhuma moeda de prata... Caronte o esqueceu!’

A unidade desfocada provoca mal-estar. Cegando nosso olhar para além das ausências que nos cortam o discernimento, a brisa nos põe traves nos olhos, revelando tão-somente as vísceras da alma, cheias de vermes! Na solidão, ganhamos asas e medos. Qual pássaro, sofremos ao nos debatermos dentro do nosso limitado sonho.

Nenhuma pétala se perderá, pois a seiva das bactérias está na morte, na lágrima, no perdimento. Afinal, os jardins se erguem entre prantos e declarações de amor. Decida-se! Quer chorar ou fazer surgir indefiníveis lamúrias? Seja musgo, enquanto permitir que floresça a vida diante do sombrio, do implorável.

Minha dor é deveras profunda; a solidão também. Nessa viagem, entre mares e mundos, em razão da busca e da esperança, sinto você bem aqui, perto de mim, tornando-me eterno, na finitude. Busco ar. Respiro. Encho meus pulmões, respiro mais fortemente e me descubro como parte inseparável de você.

Iguatu-CE, 2 de abril de 2014.

01h35min

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Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 02/04/2014
Código do texto: T4753061
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