O LIVRO DO TEMPO
Não nos é possível capturar o tempo. Tudo que podemos fazer é capturar instantes. Sempre chamo a atenção para esse ser alado e belo. Belo porque nos permite saborear a vida a cada dia, alado porque voa mais rápido do que desejamos. A cada dia que nasce temos sempre listas de prioridades ou deveres a serem cumpridos e isso nos conduz a uma série de erros.
Um dos erros que pode nos custar muito caro é distribuir migalhas do nosso tempo às pessoas que amamos. Fazemos isso porque a maior parte do tempo ocupamos com projetos que massageiem nosso ego ou que resultem no que equivocadamente elegemos como uma grande conquista. A vida é efêmera e muitos de nós prefere ignorar essa verdade. Despertamos pela manhã como se fôssemos senhores do tempo. As vezes é preciso caminharmos pelas ruas para percebermos como o tempo vai nos substituindo por outras pessoas e outras histórias. Quantos foram arrastados nas asas do tempo? Quantas histórias nas casas dessa rua já se apagaram? Quantos vieram ocupar o espaço que antes pertencia a velhos ou jovens rostos conhecidos?
Eu juro que não sei a quantas pessoas essa observação faria sentido. Afinal, pessoas são tão diversificadas e há as que preferem como bem maior o acumulo de bens e que tenha transformado amores em fotografias, emoldurado-os. Há pessoas assim, que ficam saciadas apenas com lembranças de tempo compartilhado, de risos soltos, de abraços, de conversas ao pé da lareira ou do fogão a lenha, à mesa ou onde tenham acontecido.
A qualquer segundo um de nós estará se despedindo da rua, do portão da casa, da sala de estar, das reuniões de família, dos amigos, do trabalho. Pessoas que o tempo irá sequestrar e conduzir eternamente em suas asas para muito, mas muito longe do nosso alcance.
Um dia tentaram me convencer de que precisamos escrever um livro no tempo. Nessa hora olhei à minha volta a procura dos personagens mais importantes para a minha obra. E então, percebi que meu livro vinha sendo escrito dia após dia. Cuidadosamente escrito. Carinhosamente escrito. Eu havia economizado em aquisições de bens de consumo e decidido pelos "bens duráveis" que eu pudesse carregar dentro de mim.
Ao perceber o quanto eu já havia escrito, algo fantástico ia acontecendo. Imagens desfilavam à minha frente. Retratos lindos do tempo compartilhado, das horas, das descobertas, das alegrias, de medos e vitórias. Família! Não houve um dia em que eu me distanciasse e precisasse me contentar apenas com velhas imagens, eu estava cheia de fotografias feitas sucessivamente nos dias das nossas vidas. ( pausa para emoção). Magnifica sensação!
O mundo é feito de valores e cabe a cada um eleger o que lhe é mais valioso. A vida é um fio preso às asas do tempo e a qualquer instante alça o voo eterno. Mas cada um deve descobrir o sentido dessas palavras, pois somos seres tão diferentes e nenhuma verdade é imutável. O ideal é que nesse instante, cada um saísse para caminhar na sua rua e observasse atentamente as casas. O que o tempo já levou para sempre? Eleja assim o seu valor, pois ao que parece ainda há tempo para você. Há?.