SOU O ROLEZINHO, DÁ LICENÇA.
Durval Carvalhal
Na minha adolescência, décadas de 60 a 70, era comum um amigo preguntar ou sugerir: “Vamos dar um rolé?”. E um grupo de dois a cinco jovens andava a esmo, até dizer: “chega”!
Recentemente, o “rolezinho” ressurgiu de forma bem diferenciada, acompanhando a natural evolução da sociedade, recheada de praças, ruas, parques, shoppings, etc.
Mas esse ressurgimento ocorreu com um viés humano inusitado: milhares de moços querendo “zoar” ou curtir; mas uma curtição carregada de ânimo político ideológico. Aí é que a porca torce o rabo.
Como se viu em São Paulo, foram muitos jovens adentrando, de uma só vez, um estabelecimento comercial, portando faixas, correndo, gritando palavras de ordem, pulando, escalando, pixando, depredando e saqueando. Isso é normal? Não é! E quem garante que não havia baderneiros pagos para criar tumultos?
Diante do tumulto generalizado, os administradores da organização tomaram as providências necessárias para garantir a normalidade comercial, acionando seus seguranças e a Polícia Militar, cuja missão é garantir a ordem e defender o cidadão.
Logo, logo, os defensores gratuitos da cidadania ilimitada entraram em campo e jogaram o jogo sujo do “politicamente correto”, que é um eufemismo estúpido, debitando o espanto e o medo dos consumidores, vendedores e lojistas na conta do RACISMO, o que é uma forma covarde de simplificar coisas sérias.
É preciso ter dignidade e coragem para rejeitar essa infâmia de se concordar com tudo para se sentir progressista e aceito. É a morte da dialética. Não há mais dúvida. Modernamente, pode-se tudo, menos ser inteligente, coerente, independente e decente.
Impressionante, mormente em Salvador, como personalidades públicas se arvoraram a condenar a cautela tomada com os “rolezeiros”, no afã de reafirmar alguma liderança político-cultural e social.
Até uma ministra de Estado não teve o menor pejo em evocar a expressão “reação de pessoas brancas” para caracterizar a proibição do rolé, como se fosse normal fazer compras em ambiente tumultuado. Sem vendas, os lojistas não pagam seus custos, e aí? Comerciante não pode se interessar pela cor do cliente. A única cor que lhe interessa é a cor do dinheiro.
Esses oportunistas tolos levaram frei Leonardo Boff a se queixar dessas “disparatadas interpretações”, condenando aqueles que “identificam cidadania com capacidade de consumir”. É o que ele chama de “Indigência analítica de fazer vergonha”.
Critica-se idiotamente a sociedade de consumo como se fosse possível, modernamente, existir sociedade que não consuma. Parece que o cubano ou o coreano do norte não compram bens e serviços para satisfazer desejos e necessidades. Quem é que vai produzir seu sabonete, seu sapato, seu perfume, seu tênis? Quem é?
Aliás, no Brasil, o consumo é endeusado pelo próprio PT. Lula pediu exaustivamente aos brasileiros para ir às compras. Atualmente, até tributos são reduzidos para estimular o consumo. Diz a socióloga e escritora marxista Valquíria Padilha que “é uma falácia enorme, um erro que direciona inclusive as ações do governo petista no Brasil”, cujo consumo desenfreado endivida as pessoas.
Não é tendo acesso aos shoppings que se tem acesso à cidadania. Cidadania é ter retorno dos tributos pagos, em forma de educação, saúde, transporte, trabalho digno, cultura, lazer de qualidade e segurança. Para defender o patrimônio público municipal, praças e parques são fechados à noite para evitar a ação dos vândalos.
Shopping é espaço privado aberto ao público. É lugar de trabalho, de negócios, de compras, coexistindo com áreas de alimentação, lazer, entretenimento, cultura artística, livremente frequentada pelo público generalizadamente. É um espaço construído pela iniciativa privada que o administra e, tacitamente, reclama um comportamento educado e civilizado. Temos que ensinar, aos nossos jovens, civilidade e não barbaridade.
É um lugar frequentado por famílias de todas as classes, por crianças, jovens, adultos e nossos velhinhos paternos. É um espaço físico, sobretudo, limitado, não comportando excesso de pessoas zoando. Se não houver controle, poderá ser “crônica de uma morte anunciada”, como aconteceu com a boate Kiss, no rio Grande do Sul, onde morreram centenas de pessoas. Depois da tragédia, todos criticaram os responsáveis e a polícia pela tragédia. Falta-nos, tão-somente, bom senso.