Só as pobres é que acham que a gravidez na adolescência é legal!
Existem alguns mitos que são vistos pelo senso comum como verdades absolutas e estes precisam ser quebrados para o bem da nossa sociedade. Uma delas é que todas as adolescentes têm gravidezes indesejadas. Isso pode até ser verdade, mas depende muito de alguns fatores internos e externos tais como as condições econômicas da família, grau de escolaridade, localização geográfica e religiosidade. Antes, é necessário fazer uma reflexão sobre a diferença que existe entre “gravidez indesejada” e “gravidez não planejada”.
Receio que alguns leitores possam fazer uma interpretação errada sobre as minhas explanações acerca desse assunto e até vendo-o como preconceituoso, entretanto, elas são baseadas em levantamentos de dados feitos ao longo dos quase 20 anos em que trabalhei em escolas de bairros periféricos, sobretudo quando lecionei ciências de 5ª a 8ª séries e coordenei alguns trabalhos de pesquisas sobre gravidez precoce, aborto, DSTs e outros.
Existe uma gritante disparidade entre o pensamento das meninas ricas e das meninas pobres. Adolescentes de famílias ricas costumam ter objetivos bem diferentes daquelas que nascem em lares mais modestos e em geral veem a gravidez precoce como um impedimento a realização das suas metas profissionais, tais como concluir uma faculdade de medicina, direito, artes cênicas ou jornalismo.
Já as adolescentes pobres, de forma geral, encaram a gravidez precoce como algo mais natural, até porque já convivem com um histórico familiar no qual ter filhos com 13, 14, 15 anos é comum. Além disso, um bebê passa a ser para elas uma atração e uma forma de identificação perante a sociedade. Elas não têm ciência das consequências da maternidade precoce e não planejada para a sua saúde, educação, emprego e seus direitos basilares. Ter filhos muito cedo pode se tornar um obstáculo ao desenvolvimento de seu pleno potencial, ou seja, aquela menina que no futuro poderia ser uma juíza de direito, uma advogada, uma médica ou qualquer outra atividade profissional acaba se transformando apenas numa mulher frustrada que viveu somente em função dos seus filhos sem qualquer perspectiva de ascensão profissional ou financeira.
Certa vez falando sobre esse assunto para alunos da 4ª série em Laranjal do Jari, uma garotinha de 10 anos disse que é normal uma garota de 14 anos ter filho, pois a sua irmã de 16 estava grávida pela segunda vez e continuava muito bonita de corpo e que os pais das crianças a ajudavam nas despesas. Eu prontamente interpelei: “É normal ter filhos aos 13, 14 ou 15 anos quando dentro dessa família não é ensinado que as adolescentes precisam primeiramente estudar, adquirir estabilidade financeira e só depois constituir uma família”.
As estatísticas revelam que realmente ter filhos precocemente em Laranjal do Jari é normal, pois a gravidez de mulheres com idade entre 15 e 19 anos é a principal causa de internação no hospital deste município. Além dos problemas de saúde para a imatura mamãe e para o bebê, a gravidez precoce expõe uma situação talvez ainda pior: a de que essas meninas fazem sexo sem prevenção, sendo totalmente vulneráveis a contaminação de doenças Sexualmente Transmissíveis incluindo o vírus da AIDS.
As complicações psicossociais relacionadas à gravidez na adolescência são, em geral, mais importantes que as complicações físicas. Entre os fatos que devem ser levados em consideração, inclusive pela equipe que faz o pré-natal, estão: o abandono do lar dos pais pelas adolescentes, o abandono pelo pai da criança, a opressão e a discriminação social, empregos menos remunerados, a dependência financeira dos pais por mais tempo, dentre outros.
Um fato que nos chama a atenção é de que apesar da orientação sobre métodos anticoncepcionais e da distribuição gratuita nas Unidades Básicas de Saúde, o número de adolescentes grávidas continua crescendo principalmente nas periferias das cidades das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Isso ocorre, talvez, por não terem grandes perspectivas de vida, por descuido ou simplesmente por emoção. Afinal, ainda há mulheres que acreditam que a melhor forma de “segurar” o homem amado é tendo um filho dele!
O estudo anual "Situação da População Mundial", divulgado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), conclui que o Brasil conseguiria acumular R$ 7 bilhões a mais na arrecadação anual se "adolescentes adiassem a gravidez até depois dos 20 anos".
A pesquisa também revela que, nos países em desenvolvimento, 70 mil meninas com menos de 18 anos dão à luz e 200 morrem por causa de complicações da gravidez ou parto, todos os dias. Em todo o mundo, 7,3 milhões de adolescentes se tornam mães a cada ano, das quais 2 milhões são menores de 15 anos. O estudo estima um aumento para 3 milhões até 2030, se a tendência atual for mantida, ou seja, por enquanto nos PAÍSES POBRES É NORMAL TROCAR OS BANCOS DAS FACULDADES PELOS CARRINHOS DE BEBÊS!