A Justiça de São Paulo determinou que a Polícia Militar reforce o policiamento no shoping Iterlagos (zona sul) para evitar tumultos no “rolezinho”marcado para a tarde deste domingo. Também foi estabelecida multa de R $1000 para quem for flagrado em caso de vandalismo e  “algazarra”.
 
            Esta notícia saia no cotidiano da Folha de São Paulo de segunda-feira, 3 de Fevereiro de 2014. Tinha sido no dia 11 de Janeiro que os rolezinhos  realmente tinham despertado a curiosidade da media brasileira e da internacional.  Nesse dia  (11-01-20014), o mesmo jornal de São Paulo noticiava:
           
             A polícia usou bombas de gás lacrimogéneo  e efeito moral, além de balas de borracha contra um grupo de jovens que participava de um encontro conhecido como “rolezinho” em São Paulo.
 
            No dia 19 de Janeiro, uma semana depois do rolezinho no centro comercial de Itaquera,  The New York Times, dizia que a questão dos rolezinhos já tinha chegado aos mais altos níveis da governação. Que Dilma Rousseff se tinha reunido com os seus mais altos conselheiros para encontrar respostas apropriadas ao problema.
            Mas não era só nas paginas do grande jornal americano que se publicavam as noticias e comentários sobre os rolezinhos do Brasil. The Economist  de 25 de Janeiro trazia um artigo sobre o assunto, intitulado The kids are all right onde se dizia que no centro comercial de Itaquera, se tinham reunido 3.000 jovens. The Guardian, a 29 do mesmo mês, falava também  dos confrontos de Itaquera, entre a Polícia Militar brasileira e os jovens do rolezinho de 11-01-2014, na cidade de São Paulo..
            Mas afinal o que são esses rolezinhos, perguntarão os meus sobrinhos que tiveram a paciência de me ler até aqui?  Rolezinhos, pelo menos estes rolezinhos brasileiros que tanto estão dando que falar por esse mundo fora, são encontros. Encontros de jovens, na maior parte adolescentes, nos grandes centros comerciais do Brasil.
Em princípio, nada de mais inocente. Desde que haja bairros pobres, o que acontece em todas as grandes cidades, há adolescentes que vivem  em casas pequenas, em apartamentos exíguos, sem ar, sem luz, sem espaço... e, se houver um centro comercial acessível, com as suas grandes lojas, os seus enormes corredores, nada mais natural que eles (e elas), depois das aulas e nos fins-de-semana, se encontrem nos centros comerciais, para conversar, para namorar, para ouvir música... enfim para fazer o que os adolescentes, naturalmente fazem.
É isso que vem acontecendo há décadas, não só nas grandes metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, mas em todo o mundo.  Na vizinha cidade de Brockton,  onde decorreu a maior parte da minha vida profissional, vi muitas vezes, no West Gate Mall, estes grupos de adolescentes, e tenho a certeza que o mesmo acontecia (e acontece) em New Bedford, em Fall River, em Boston...
É claro que estes encontros nem se chamavam “rolezinhos”, nem davam nas vistas, porque os grupos eram tão pequenos e sossegados que não chamavam a atenção de ninguém.  
Em São Paulo, no Shopping Metro Itaquera, encontraram-se cerca de 3.000 jovens.
Era sábado. E é nos sábados que as famílias aproveitam para ir fazer as suas compras. Nas mais de duzentas lojas do Shopping Metro Itaquera, há de tudo. Só na área da alimentação, há mais de quarenta restaurantes, no Espaço Família, há Sala de amamentação, Fraldário, Sala de papinha, Banheiro de família... Não é difícil imaginar  o número de pessoas, famílias inteiras, que estariam então no Shopping, vendo, comprando, lanchando... Muita desta gente se assustou com tanto jovem “invadindo” o Shopping, os comerciantes tiveram medo... e a Policia Militar foi chamada. O resto é a notícia que correu mundo, nas páginas dos jornais, nos noticiários da televisão e da rádio.
E estes rolezinhos brasileiros não começaram nem acabaram naquele Sábado, no Shopping de Itaquera, em São Paulo.  Já antes tinham acontecido e aconteceram depois. No fim-de-semana seguinte, Domingo, 19 de Janeiro, o Shopping Leblon do Rio de Janeiro fechou as suas portas, para se “proteger” dum rolezinho que estava planeado para esse dia e em que se previa a afluência de 9.000 jovens.
Como se explica este novo fenómeno social que por enquanto parece ser exclusivo das grandes cidades do Brasil? A resposta não há-de ser fácil, nem para mim que tento compreender o que lá se passa, estando cá tão longe, nem para Dilma Rousseff por mais conselheiros que reúna à sua volta. Mas há aspectos, factores, que se apreendem facilmente. Os adolescentes carentes de espaço  por um lado, e os centros comerciais acessíveis, por outro, são dois pólos com carga diferente que não podem deixar de se atrair.
Na periferia das grandes cidades brasileiras, especialmente São Paulo e Rio, há favelas, bairros pobres, muitos e muito grandes. Adolescentes à procura dum lugar ao sol, são muitos. Os centros comerciais são amplos, limpos, seguros e ricos de recursos, restaurantes, cinemas... O acesso é fácil. Tem metro, comboio, terminal de autocarro... tudo barato e rápido. Mas há mais: na última década, o Brasil foi cenário duma verdadeira revolução económico-social. O número de brasileiros que nos últimos dez anos escaparam às malhas da pobreza é muito grande. Esta gente tem sonhos, aspirações. Os grandes centros comerciais são lugares de sonho. É lá que se encontram os bens de consumo, e eles, os brasileiros que há tão pouco eram paupérrimos, agora tem alguns recursos, recursos esses que, duma maneira ou doutra chegam aos adolescentes e aos jovens das favelas. Parece até que estes rolezinhos estão desenvolvendo uma cultura muito sua, tem a sua própria música. É o Funk Ostentação.
O Funk Ostentação que se toca se ouve e se dança nos rolezinhos, em vez de cantar a miséria social, a opressão, a violência policial, o crime, do Funk Carioca, enaltece os bens de consumo, a roupa de marca, bons carros, o lazer...
Há um outro aspecto que deve estar dando grandes dores de cabeça a Vilma Rousseff e é que os rolezinhos são espaço ideal à infiltração de criminosos e extremistas políticos que não deixarão de os utilizar em seu proveito.
Que Deus dê à Senhora Presidente e aos seus conselheiros muita prudência e muita coragem.