Greve dos Rodoviários
Todo Mundo Odeia os Rodoviários
A paralisação dos trabalhadores do transporte público de Porto Alegre é o grande tema desses dias. O impasse entre grevistas e empresários do setor, acirrado por uma medida proposta pela prefeitura e acatada pelo TRT da 4ª Região (que determinou que 70% da frota fosse colocada nas ruas em horário de pico), evoluiu para uma greve com 100% de adesão, ou seja, sem ônibus nas ruas da cidade. E coloca uma reflexão básica: o que é mais importante, o trabalho ou o trabalhador?
Nas comemorações do 1º de Maio essa questão sempre aparece de forma ideológica e retórica: é o Dia do Trabalho ou o Dia do Trabalhador? Na greve ela é concretude pura: se o trabalho é imprescindível, porque o salário do trabalhador não é? Ou seja, se esse serviço é essencial, porque os rodoviários não recebem um salário a altura da importância da função social que executam?
Há uns poucos anos atrás eu assistia na TV uma entrevista com Arnaldo Sussekind, ex-ministro do TST e um dos quatro autores da CLT, em 1943, durante o Governo Getulio Vargas. O que me impressionou na entrevista de Sussekind (falecido em junho de 2012) foi ele observar que, mesmo o Brasil sendo governado por um presidente oriundo da classe operária (referia-se a Lula), nunca tinha visto uma correlação de forças tão desfavorável para o trabalho ante o capital. E com certeza ele sabia muito bem do que estava falando...
A greve dos rodoviários confirma a observação de Sussekind. O enfrentamento que vários atores sociais fazem contra o movimento paredista é sintomático. Além de tentar sufocá-la por todos os meios legais, destacam insistentemente seus aspectos negativos para a população a fim de colocar esta contra o movimento dos trabalhadores.
O prefeito José Fortunatti chegou a pedir ao governo do Estado a intervenção da Brigada Militar (BM) na greve, o que foi (corretamente) negado tanto pelo governador quanto pelo TRT, esse respondendo a solicitação formal da prefeitura e da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). O TRT, por sua vez, declarou a greve ilegal e determinou multa diária de 100 mil reais ao sindicato da categoria. Os rodoviários, entretanto, responderam radicalizando o movimento.
A grande mídia, que sempre se preocupa com o trabalhador só quando este tem de ir trabalhar (para garantir os interesses dos empresários), mas que sempre manifesta uma postura contrária a movimentos grevistas em geral, tem feito sua parte: coloca todos os dramas advindos da paralisação nas costas dos rodoviários, açulando a população contra eles. As crônicas lamentáveis que Paulo Sant’Ana vem escrevendo sobre o movimento são exemplo disso. Chegou a pedir a prisão das lideranças grevistas. Uma pena nosso maior cronista gaúcho estar sendo tão reacionário.
As entidades patronais de outras áreas também partem para a ofensiva: o Sindilojas de Porto Alegre vai entrar com uma ação contra o Sindicato devido as perdas sofridas pelo setor em virtude da greve; a Associação dos Oficiais da Brigada lançou nota onde defende a intervenção da BM. É quase como aquela série de TV: Todo Mundo Odeia o Chris!
Apóio totalmente a greve dos rodoviários, pois entendo que o trabalhador é tão ou mais importante que o trabalho, visto que, sem o primeiro, o segundo não acontece. Quem vive de salário sabe (ou deveria saber) que uma categoria só avança quando briga por seus direitos. E o trabalhador que vai à luta é geralmente o mais comprometido com sua profissão. Os omissos, em regra, fazem de conta que trabalham enquanto o patrão faz de conta que paga.
Os rodoviários estão pedindo só 14%. Pela importância que os detratores da greve estão atribuindo ao seu serviço, deveriam estar pedindo muito mais!
Publicado no jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br
Todo Mundo Odeia os Rodoviários
A paralisação dos trabalhadores do transporte público de Porto Alegre é o grande tema desses dias. O impasse entre grevistas e empresários do setor, acirrado por uma medida proposta pela prefeitura e acatada pelo TRT da 4ª Região (que determinou que 70% da frota fosse colocada nas ruas em horário de pico), evoluiu para uma greve com 100% de adesão, ou seja, sem ônibus nas ruas da cidade. E coloca uma reflexão básica: o que é mais importante, o trabalho ou o trabalhador?
Nas comemorações do 1º de Maio essa questão sempre aparece de forma ideológica e retórica: é o Dia do Trabalho ou o Dia do Trabalhador? Na greve ela é concretude pura: se o trabalho é imprescindível, porque o salário do trabalhador não é? Ou seja, se esse serviço é essencial, porque os rodoviários não recebem um salário a altura da importância da função social que executam?
Há uns poucos anos atrás eu assistia na TV uma entrevista com Arnaldo Sussekind, ex-ministro do TST e um dos quatro autores da CLT, em 1943, durante o Governo Getulio Vargas. O que me impressionou na entrevista de Sussekind (falecido em junho de 2012) foi ele observar que, mesmo o Brasil sendo governado por um presidente oriundo da classe operária (referia-se a Lula), nunca tinha visto uma correlação de forças tão desfavorável para o trabalho ante o capital. E com certeza ele sabia muito bem do que estava falando...
A greve dos rodoviários confirma a observação de Sussekind. O enfrentamento que vários atores sociais fazem contra o movimento paredista é sintomático. Além de tentar sufocá-la por todos os meios legais, destacam insistentemente seus aspectos negativos para a população a fim de colocar esta contra o movimento dos trabalhadores.
O prefeito José Fortunatti chegou a pedir ao governo do Estado a intervenção da Brigada Militar (BM) na greve, o que foi (corretamente) negado tanto pelo governador quanto pelo TRT, esse respondendo a solicitação formal da prefeitura e da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). O TRT, por sua vez, declarou a greve ilegal e determinou multa diária de 100 mil reais ao sindicato da categoria. Os rodoviários, entretanto, responderam radicalizando o movimento.
A grande mídia, que sempre se preocupa com o trabalhador só quando este tem de ir trabalhar (para garantir os interesses dos empresários), mas que sempre manifesta uma postura contrária a movimentos grevistas em geral, tem feito sua parte: coloca todos os dramas advindos da paralisação nas costas dos rodoviários, açulando a população contra eles. As crônicas lamentáveis que Paulo Sant’Ana vem escrevendo sobre o movimento são exemplo disso. Chegou a pedir a prisão das lideranças grevistas. Uma pena nosso maior cronista gaúcho estar sendo tão reacionário.
As entidades patronais de outras áreas também partem para a ofensiva: o Sindilojas de Porto Alegre vai entrar com uma ação contra o Sindicato devido as perdas sofridas pelo setor em virtude da greve; a Associação dos Oficiais da Brigada lançou nota onde defende a intervenção da BM. É quase como aquela série de TV: Todo Mundo Odeia o Chris!
Apóio totalmente a greve dos rodoviários, pois entendo que o trabalhador é tão ou mais importante que o trabalho, visto que, sem o primeiro, o segundo não acontece. Quem vive de salário sabe (ou deveria saber) que uma categoria só avança quando briga por seus direitos. E o trabalhador que vai à luta é geralmente o mais comprometido com sua profissão. Os omissos, em regra, fazem de conta que trabalham enquanto o patrão faz de conta que paga.
Os rodoviários estão pedindo só 14%. Pela importância que os detratores da greve estão atribuindo ao seu serviço, deveriam estar pedindo muito mais!
Publicado no jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br