Injustiça social
Em meados do século oitavo antes de Cristo, pelo ano de 760, um sitiante chamado Amós “caiu na arapuca” de Deus, deixou sua vida tranquila no Sul e foi anunciar e denunciar no Norte, onde reinava Jeroboão II. Um “leão começava a rugir”. Era Deus colocando em polvorosa todo um regime de injustiças. Amós acabou sendo expulso, mas antes rogou uma praga em cima do sacerdote Amasias que presidia o culto em Betel, de acordo com a vontade do rei. A palavra de Amós incomodava, porque ele anunciava que o julgamento de Deus iria atingir não só as nações pagãs, mas também, e principalmente, o povo escolhido; este já se considerava salvo, mas na prática era pior do que os pagãos. E Amós não se contentava em denunciar genericamente a injustiça social. Ele dava “nomes aos bois”: os ricos que acumulavam cada vez mais, para viverem em mansões e palácios, criando um regime de opressão; as mulheres ricas que, para viverem no luxo, estimulavam seus maridos a explorar os fracos; os que roubavam e exploravam e depois iam ao santuário rezar, ou orar, pagar dízimo, dar esmolas para aplacar a própria consciência; os juízes que julgavam de acordo com o dinheiro que recebiam dos subornos; os comerciantes ladrões e os atravessadores sem escrúpulos que deixavam os pobres sem possibilidades de comprar e vender as mercadorias por preço justo. Em cinco visões, Amós anuncia o fim do reino do Norte, porque aí a situação era insustentável diante de Deus. Na época os comerciantes eram duramente criticados, pois eles se enriqueciam graças à fraude e à exploração sistemática contra os pobres. Esses ricaços frequentavam o santuário e não faltavam a festas religiosas, porém mesmo quando estavam rezando, orando, ficavam maquinando o que poderiam fazer para ter mais lucro. Amós dizia: vocês ficam maquinando: quando vai passar o sábado, (naquela época tinha o costume de guardar o sábado) para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, para comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?
(...) Nos dias atuais, os “religiosos” que estão inseridos dentro de uma religião, que se sentem dentro do projeto de Deus e se consideram salvos, devem ficar atentos a esta passagem e principalmente na própria conduta, pois ninguém está imune de errar e cair, mesmo estando dentro de uma religião. Observar normas, regras, prescrições ditadas pela religião, costumes, frequentar um culto, (missa), realizar ofertas, pagar o dízimo, participar das festividades da sua igreja, tendo a consciência pesada por injustiças, isso de nada serve diante de Deus, será mais um culto vazio e sem sentido. A mudança terá que começar pelo nosso lado de dentro, no coração, lá onde mora tudo que possa ser acumulado de bom ou ruim, começar a purificação no nosso interior, só assim as nossas virtudes serão refletidas pelo lado de fora, e o nosso culto a Deus será um culto limpo, digno de aceitação da parte de Deus.
Tenham todos uma boa reflexão.
José Renato Bueno.