NELSON MANDELA: DIGNIDADE NA BUSCA POR RECONCILIAÇÃO E PAZ
Capacidade de perdoar, influenciar outros a fazer o mesmo e seguir em frente. Tais ações não são fáceis como as palavras. Mas, Nelson Mandela conseguiu provar ao mundo que, mesmo após quase três décadas de prisão, é possível deixar o passado para trás.
A morte do ex-presidente da África do Sul, aos 95 anos, decorrente de uma infecção pulmonar, foi anunciada na última quinta-feira, 05, pelo o presidente do país Jacob Zuma. O fato gerou comoção não apenas continente africano.
Mandela tornou-se exemplo de dignidade ao estimular a reconciliação entre negros e brancos. Ele pediu que armas fossem deixadas de lado e que o diálogo fosse instrumento de aproximação entre os povos.
O legado do líder africano, que escolheu promover a paz, serviu de inspiração para o mundo, sobretudo pelo discurso de superação do ódio. Mandela acreditava que as feridas feitas no corpo eram curadas pelo tempo, mas as invisíveis não. Assim, somente o perdão e o combate ao egoísmo e a ignorância poderiam criar meios para alcançar o fim das dores.
Madiba, como é chamado carinhosamente pelos sul-africanos, decidiu que a culpa e a amargura não seriam os motores propulsores de sua vida. Ele alimentou o sonho de as mudanças poderiam ser construídas mesmo sob os ventos fortes da adversidade.
Luta pela igualdade
A admiração mundial nasce com a luta de Mandela contra o apartheid. O brutal regime político, que significa separação, começou na África do Sul por volta de 1944 e durou até 1990. Uma minoria branca de cerca de quatro milhões governava aproximadamente de 20 milhões de negros. Essa maioria da população, não tinha direito ao voto e a propriedade. Até mesmo a liberdade de ir e vir lhes era negada, assim como oportunidades iguais de moradia, emprego e escolaridade.
Naquela época, todos aqueles que discordavam do tal regime foram exilados ou enviados para a prisão da Ilha Robben. O aguerrido militante e advogado Nelson Mandela era um destes opositores, membro do Congresso Nacional Africano (ACN). Em 1964, foi condenado à prisão perpétua após ser acusado de traição.
Na prisão, foi obrigado a fazer trabalhos forçados, como quebrar pedras. Teve cartas censuradas e visitas extremamente supervisionadas. Ficou na solitária e foi vítima das mais diversas ofensas às quais eram comuns para um terrorista, como foi considerado na época. Mesmo encarcerado, tornou-se símbolo da luta dos negros contra a opressão.
Somente depois de cerca de 20 anos pode abraçar a família. Depois de ser transferido, junto com outros aliados, para o presídio de segurança máxima “Pollsmoor”. Lá, Mandela plantava tomates e preservava o respeito pelas raízes de seu povo e até por quem o oprimia. A mensagem de luta contra o apartheid sem violência chamou a atenção do mundo.
Com a pressão de grupos e personalidades internacionais, pedindo a soltura de Mandela, pensaram em dar-lhe mais conforto com a intenção apenas de impressionar. Pois, a liberdade significaria a derrota dos que mantinham o poder no país. Então, ele foi transferido para uma prisão rural Victor Vorster, cercada de montanhas e vinhedos.
Mandela permaneceu em uma casa de campo, isolada e segura até 1990, quando chegou ao poder o presidente Frederik de Klerk, que também almejava uma nova África do Sul e queria por um fim no clima de guerra civil que explodia pelos quatros cantos da nação.
O regime racista chegou ao fim em junho de 1991. Os negros tiveram todos os direitos civis e políticos recuperados.
Mandela tinha 72 anos quando deixou a prisão. Por causa das iniciativas De Klerk e Mandela dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993. No ano seguinte, ocorreram as primeiras eleições multirraciais da África do Sul e Mandela foi eleito presidente no dia 27 de abril de 1994. Governou até 1999, depois continuou atuando na política e em junho de 2004, aos 85 anos, decidiu que se dedicaria apenas a causas humanitárias.
Uma estratégia
A união, independente da cultura, é vista como um tipo de poder no mundo todo. Durante o governo, Mandela investiu no esporte como forma de estreitar os laços entre negro e brancos, depois de quase 40 anos de separação. O rugby, um esporte coletivo, que lembra o futebol americano, foi um dos meios usados por Madiba para atrair os olhares de jovens e adultos a um único objetivo: torcer pela vitória da seleção.
De fato a África do Sul se sagrou campeã da Copa Mundial de Rugby, em 1995, sob a batuta do jogador Francois Pienaar, que foi o capitão do time e apoiador da ideia de Mandela na busca por união.