... Meu Tannat, por quem tu me tomas?
Por: Anderson Du Valle
Em uma discussão banal de boteco, me senti constrangido por não poder expressar minha opinião fora do senso comum de prós e contras, com conhecimento de causa, pareceu que me isolava da discussão e que defendia uma terceira tese, quando na verdade só lancei mão de conhecimentos adquiridos para validar minha posição. Foi constrangedora a reação das pessoas envolvidas, fui tratado como arrogante por ambos os lados, inclusive por aqueles em que o bojo da ideia se alinhava ao meu pensamento. Isso não foi legal, existe uma regra! Devo me manifestar fazendo coro a maioria, minha cultura, minhas habilidades e minhas preferências devem permanecer em clausura sob pena de serem rechaçadas e expostas de forma pejorativa. Não posso viajar a lugares, ou até posso, mas não tenho o direito de abrir aspas sobre isso, sendo que os gastos são menores que a prestação dos carros importados que infestam nossa periferia, comprar um bom vinho, e ainda por cima um tannat, é um sacrilégio, afinal uma garrafa custa trinta ou quarenta reais, mas fico liberado e até sou cultuado por gastar duzentos ou mais com cerveja e "super pop"... não conhecer uma frase do “filósofo contemporâneo” Michel Teló, foi motivo de risos - Como assim? Você não conhece a música? Não! - Olhares se entrelaçam e “rsrsrs”. A palavra adstringência provocou suspiros... aff! Um ingresso para o teatro, um insulto, livros então...surreal. O fato de ver na religião algo irrelevante, me deu um ar satânico. “Credo”! O padrão de arrogância é determinado por quem me vê, e que possui acesso as mesmas coisas que eu, porém escolheu colocar seu tempo à disponibilidade de outros interesses, agir de acordo com a média ou por causa da média e assim não entende que não custa caro ser de verdade e que isso passa longe da prepotência. Isso é custo-benefício. Assistir uma sinfônica no Teatro da Paz tem entrada franca! A imponência do teatro é que talvez os afastem! Não sou eu quem ostenta! Gosto de Bach, Wagner, vinho, literatura e progressivo, amo blues, e cito Nietzsche por hábito, acredito em coisas além da compreensão, não por que há provas e sim porque me parecem coerentes dentro da insustentabilidade e da impermanência humana, mas isso só a mim interessa e desta forma deve continuar sendo. Não posso seguir a unanimidade, mas também não posso viajar para o ostracismo imposto ao pensamento livre, a introspecção é boa companheira, mas talvez não se deva sempre lhe dar ouvidos, pelo menos quando não se está seguro do nível da interlocução, neste caso, ela não é boa conselheira. A partir deste ponto, deliberaremos então as “casualidades” e todos seguiremos convivendo, sorrindo para as imperfeições alheias, “balangando” pesadas correntes áureas e seus pingentes alfabéticos!
Du Valle