De onde vem a calma daquele cara?
Eu me esforcei a melhorar, e consegui, eu melhorei o meu humor, e como consequência a minha vida. Mas não me pergunte como consegui essa proeza, pois, a minha fórmula de felicidade não é a mesma do resto do mundo. Alias, parece que o mundo ainda não aprendeu nem a dar ‘Bom dia’, simples frase essa que para mim faz enorme diferença.
Existem pessoas que sofrem com a vida, e sofrem tanto, que teriam milhões de motivos para nem sequer gostar de viver, porém, surpreendem até a própria alma, e sorriem por qualquer situação. Digo isso, pois vi há alguns dias uma criança na cama de um hospital, com uma doença de nome impronunciável, respirando com a ajuda da tecnologia, e que sorria muito mais do que eu, que tenho uma saúde intocável.
Resisto à ideia de que criança não sabe o que está acontecendo ao seu redor e por isso consegue sorrir diante às adversidades. Tenho a opinião de que a criança, por ainda não ser moldada pelo mundo, consegue ter a verdadeira noção de tudo o que se acomete. Enfim, cheguei à conclusão de que o sorriso de uma criança doente, na cama de um hospital, com aparelhos ligados ao seu corpo, é a verdadeira resposta às dificuldades que imaginamos passar diariamente. A nossa dificuldade é a solução de muitos outros problemas.
E com essa perspectiva enxerguei a mudança, e fui atrás dela. Assim, de uns dias até aqui me senti melhor. É claro que me sentiria tão melhor mesmo se eu visse aquele garoto sair andando e pulando, quebrando todo aquele hospital, com peripécias de crianças não doentes. Mas me senti um tanto bem em saber que se ele pode sorrir, mesmo com um problema maior até que ele, eu também posso com os meus problemas inúteis.
Outro dia o sol me acordou, vazou a janela e deu de cara em mim. Levantei junto com o Galo, e liguei a televisão para um café matinal. Não deveria ter feito aquilo. O café, um tanto quanto doce, contrastava com a difícil notícia que a âncora do jornal noticiava, logo nas primeiras horas do dia.
Dizia a moça jornalista que na madrugada anterior três pessoas morreram em decorrência da chuva que em duas horas caiu sobre aquele lugar o previsto para todo o mês. As pessoas morreram soterradas, pois, a casa de madeira, carcomida pelo tempo, em que moravam, não aguentou a mais uma tempestade. E eu reclamei do sol que me acordou sem pedir licença...
E com essa notícia começou o meu dia. Dia comum que terminou numa cama aconchegante, dentro de uma casa segura de qualquer revolta da natureza. Como em tantos outros dias. Cama boa, comida boa, chuveiro quente, felicidade particular.
Não demorou muito para essa rotina boba e boa me mostrar a maior conclusão de meus dias até aqui: a felicidade não pode ser particular. E quando é assim todos os seres do mundo estão errados. E é por isso que esse nosso mundo está de cabeça para baixo. A felicidade de uma pessoa deve ser contagiante e um sorriso de uma criança deve ser o combustível para que possamos um dia mudar a nossa realidade.
É assustador perceber o consenso de qualquer roda de conversa ao surgir um assunto dizendo que esse nosso mundo está perdido. Não vejo ninguém defender a ideia de que todos nós somos tão pessimistas em achar tudo errado nesse universo.
Porém, ainda alimento a esperança de tudo mudar ao ver o também consenso da maioria em afirmar que existem perspectivas, e que um dia tudo pode ser diferente, nem que o mundo comece novamente.
Mas, efetivas razões por vezes me desanimam, e me deixam à vontade para jogar tudo pro alto, me abaixar ao mundo, e desistir de todas as minhas inspirações. Pois, recebi a notícia de que o garoto doente de cama, não se sustentou apenas por seu sorriso doce e encantador.
Milhares de outras famílias morreram em tempestades, por não terem onde morar. E nas rodas de conversas o principal assunto é o mesmo, e as soluções as mesmas, porém, ninguém se meche para ser o salvador.
Então, eu mantenho a calma; a calma que não sei de onde vem. Talvez seja de um Ser superior, ou da lembrança de um sincero sorriso. Sorriso salvador que só poderia vir de uma criança que não estava nem aí pra esse mundo perdido.
Kallil Dib – Jornalista
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