ANTES QUE CHEGUE O NATAL
Aprendi, frequentando a Igreja, que antecedia a vinda do Filho de Deus um tempo de preparação. Semanas antes da tradicional festa religiosa, pregava-se o arrependimento, o perdão, a justiça e a promoção da fraternidade. E na noite de luz, a primeira atitude de um bom cristão era ir à missa. As comilanças, presentes, e o que fosse, estavam num segundo plano.
Não quero tratar aqui de religião, apenas mencionei a Igreja porque foi lá onde muito da minha formação encontrei. O que de fato eu queria trazer à reflexão é o quanto estão sendo esquecidos nossos valores. A essas alturas muitos estão com o pensamento voltado para a reforma da casa, a compra dos móveis e etrodomésticos novos, e as roupas para as festas de fim de ano. Contas e mais contas para saber como melhor aproveitar o tão esperado 13º salário. Incluo-me nesse “muitos”, claro, não sou hipócrita.
E não há nada de errado em tudo isso que fazemos, isso é a vida. Mas eu queria que, além dos interesses pessoais, motivados pelo clima de confraternização próprio desse tempo, também pudéssemos pensar no outro, olhando antes para dentro de nós mesmos. É muito difícil nos enxergarmos, às vezes encontramos o inaceitável. Mas se não reconhecemos as nossas próprias falhas, como fazer com as dos outros?
Somos humanos, temos defeitos. E mais que isso, temos dias difíceis. Mas algumas coisas me incomodam no ser humano. Eu vejo pessoas disputando não se sabe o quê, e por essa disputa fazem e dão ouvidos a intrigas, quando o maior mandamento diz que amemo-nos uns aos outros. Não é fácil amar, sabemos disso. O coração elege aqueles com quem nos envolveremos em relações mais estreitas.
Mas, à parte esse amor emocional, eu acredito no amor que respeita, que releva, e que trata com educação. Acredito no comportamento. Eu não preciso amar para tratar como gente àqueles que, por algum motivo, comigo convivem.
Acredito na restauração do outro. Ao me tratar mal, não o faço o mesmo, isso seria moldar o meu caráter ao dele. Eu penso que é possível fazer o contrário: ao invés de me fazer igual a ele, fazê-lo igual a mim. “Quem luta contra monstros deve ter cuidado para não se transformar em um deles" (Nietzsche).
Que o Natal chegue e encontre corações em paz.