QUEM É O PIRATA?
QUEM É O PIRATA?
A gente se acostumou, pelo menos a minha geração, a ver piratas como os aventureiros bucaneiros, em filmes ou em fantasias de carnaval, com a badana com a marca da caveira na cabeça, o brinco de argola, a espada, a mão de gancho, tatuagens e a perna de pau. Assim eram as imagens de piratas que alimentávamos em nosso imaginário. Há um jogador de futebol por aí que foi cognominado de “o pirata”, que faz tudo menos gols.
Hoje tomou vulto a expressão pirataria, que aponta para algo ilegal, fraudulento, uma apropriação de bens ou direitos sem autorização de seus proprietários. O pessoal costuma fabricar artigos (roupas, CDs, peças automotivas, etc.) além de cópias xerográficas de livros, revistas e periódicos, bem como a baixa de textos da Internet como criação própria. Estas são as versões modernas e criminosas da pirataria.
Agora, se a gente for olhar por aí tem mais pirataria no pedaço. Há dias assisti em um programa de televisão em que fabricantes de uma indústria têxtil nacional se queixavam contra a pirataria da rua 25 de Março de São Paulo, onde modelos de suas famosas camisas eram, vendidos a R$ 75,00, enquanto os originais autênticos, em lojas de grifes dos shoppings as mesmas peças eram vendidas a R$ 700. Ora, produzir uma camisa com um tecido inferior, com um tipo de mão-de-obra que foge ao projeto original do design do fabricante é uma quebra de todos os paradigmas de ética ou, em outras palavras, uma pirataria vergonhosa, que dá um prejuízo de centenas de milhares de Reais por ano.
Mas, embora não se deva invocar uma compensação de culpa, não se pode deixar de classificar, também como uma pirataria grosseira, a ambição vergonhosa do empresário que não se constrange em praticar preços exorbitantes como o já citado aqui. Ele é tão pirata quanto aquele que falsifica o produto para vendê-lo mais barato ao povo de baixo poder aquisitivo.
De outro lado, também assisti pela tevê a campanha de alguns bancos e financeiras, com vistas à redução da inadimplência no final do ano. Em muitos acordos houve redução de débitos atrasados, como por exemplo, um montante de R$ 13.700 que baixou para R$ 3.900. Ora, se baixaram para este patamar, porque o financiamento alcançou níveis tão altos? Quem é o pirata aqui?
Coisa parecida ocorre no terreno dos remédios. Nas farmácias os piratas cobram valores altíssimos pelos medicamentos, para depois, na competição entre elas, baixá-los em 50%. Se praticam esses preços, e é certo que não estão tendo prejuízos, porque não cobravam menos antes?
O empresário que assisti na tevê disse que era preciso uma fiscalização do poder público contra a pirataria. Concordo, desde que essa vigilância atinja todo tipo de deslizes éticos!