Experimentando
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Viver sem reflexão não faz muito sentido. Todos nós erramos – é fato. Se não podemos agir sempre como sábios, que sejamos, na medida do possível, minimamente inteligentes.
Estamos nos desumanizando – é verdade. A correria da vida e as experiências animalescas a que nos submetemos diariamente retiram muito da nossa sensibilidade e da nossa humanidade. Por isso, devemos nos ater a simples gestos e sutilezas do outro, viver mais as maravilhas da vida. Necessitamos reaprender a simplicidade das crianças – elas se aproximam mais facilmente, sem tantos receios nem julgamentos. Ser simples e infantil, sem que isso nos torne tolos, é razoável possibilidade existencial.
A vida nos põe cara a cara com diversos enfrentamentos. E nos faz percorrer muitos caminhos. No percurso, enxertado de descaminhos, muito de nós se esmaece e perdemos parte da essência singular da idade infantil. As crianças sabem expressar o amor e a ojeriza mais fácil e francamente. Nós, adultos, maquiamos demais, pensamos demasiadamente para falar o que nos afeta, principalmente quando o que diremos tem a ver com afetividade. Críticas e ofensas são ditas sem muita cerimônia... Nós adultos temos, por exemplo, vergonha de falar que amamos, que sentimos saudade, que gostamos? (Não estou me valendo da taxatividade, apenas generalizando. Há exceções, claro!). Temos vergonha, sim, de amar e, principalmente, de externar nosso amor. Parece que o pavio do ódio e da animosidade são menores que o da paz, fraternidade e amor. Por isso, talvez, existem tantos programas policiais em nossos horários nobres – a tragédia e a desgraça alheia dão IBOPE! Como seres gregários, estamos reproduzindo, dentro de nós mesmos, a estrutura midiática que nos assola diariamente.
Como saída, sugeriria a arte! Quem é flechado pelo cupido da sensibilidade poética, por exemplo, sente a vida com menos rancores. Quem se emociona com melodias, músicas de qualidade; quem se deleita com singular obra de arte tem, acredito, ligação direta com o Criador.
Isso não nos faz imunes a desequilíbrios, nem deveria. Nossos limites dependem das provas a que estamos e somos submetidos. De repente, o espanto do novo pode revelar dentro de nós o que julgávamos inexistir. O que fazer quando diante disso? Experimentar e julgar – daí a importância da reflexão. Toda experiência é valida e deve ser incrustada na alma de quem sentiu e a produziu. Viver, ultima ratio, seria sucessão de degustações – algumas não nos apetecem, mas todas, quando postas, merecem o crivo do paladar, independentes de serem ou não palatáveis. Afinal, a vida, se mansidão eterna, seria tediosa demais.
Iguatu-CE, 19 de novembro de 2013.
16h13min
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