DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Em homenagem a Zumbi, um escravo negro fugitivo, formador e líder do Quilombo dos Palmares, perseguido ferozmente e morto no dia 20 de novembro de 1695, esta data é dedicada anualmente à consciência negra pelo Brasil inteiro.

Não sei qual o adjetivo mais condizente para qualificar minhas reflexões que seguem. Engraçado não é com certeza. Ao contrário, é tristemente impressionante como a sociedade reprime de imediato e com força brutal qualquer manifestação de insatisfação e revolta contra o status vigente, como nos Palmares, massacrando suas lideranças, e anos depois transforma esses manifestantes em heróis.

Nem é preciso virar muitas páginas de nossa história para recordar nossos heróis da Independência, para ilustrar estas considerações. Basta lembrar Antônio Conselheiro, líder da Guerra dos Canudos, e Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, rei do cangaço nordestino, ambos perseguidos e mortos por forças repressoras e hoje tidos como heróis, a exemplo de Zumbi.

Minhas considerações não terminam aqui. É muito justa a homenagem prestada Zumbi, um herói, de fato, para seus irmãos de cor, fugidos da escravidão. Mas sobre o Dia Nacional da Consciência Negra... Eu tenho minhas dúvidas sobre sua validade e que não seja vista pelos brancos com outra forma de inferiorização. É bem verdade que a Lei Áurea não apagou de imediato o estigma da escravidão. Devemos lembrar, contudo, que a vergonha da escravidão deve pesar, sim, na consciência dos brancos e não nas mentes dos negros. Pois o fato de terem sido escravos não revela neles a suposta inferioridade étnica e sim de luta. Pegos desprevenidos e desarmados nas aldeias africanas pelos brancos belicamente superiores, os infelizes negros viam-se acorrentados e trazidos para cá nos porões imundos dos navios negreiros.

No meu fraco entender, se há um objetivo válido para o Dia Nacional da Consciência Negra, é unicamente honrar, venerar essas vítimas primeiras da ambição branca.

Provas de igualdade e até mesmo de superioridade intelectual dos negros temos várias, por este Brasil afora. Basta lembrar Luís Delfino e Cruz e Sousa, nossos imortais poetas catarinenses, Antonieta de Barros, a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, e nosso destemido ministro Joaquim Barbosa, em quem o Brasil inteiro deposita a mais ardente esperança de moralização das leis e da justiça nacionais.

Nós, brasileiros, precisamos com urgência é da formação de uma consciência democrática nacional sadia em todos os níveis da sociedade, que acabe com a corrupção política, que freie a ganância dos poderosos, que despreze toda forma de apadrinhamentos e favoritismos em troca do voto sagrado. Sem isso, não há como despertar o colosso que dorme em berço esplêndido neste sagrado florão da América, chamado Brasil.