OS AMANTES NÃO DEVEM TER VERGONHA DOS SEUS ATOS
Prólogo
Todos sabemos que a cumplicidade, a discrição, o apoio incondicional, a lealdade, o amor, a confiança etc. deve fazer parte de uma vida a dois, em comum. Essas beatitudes não devem ser confundidas com promiscuidade e/ou devassidão.
Os amantes necessitam de pouco tempo para provarem um ao outro a lógica desse raciocínio. Claro que nem sempre basta dizer, às pressas, sussurrando, como se estivesse gemendo: "Eu amo ou estou amando você.". Algo muito mais forte precisa ser dito e feito para amalgamar princípios e necessidades afins.
Nos folguedos mais apimentados as promessas são feitas amiúde, mas, o cumprimento do que se prometeu quase sempre é condicionado a uma entrega mais solta e cada vez mais desavergonhada. Um amante poderá até dizer para si mesmo ou para sua parceira:
"Desde que você se foi eu posso fazer o que quiser, menos deixar de pensar em você.". Ora, isso é como segredar para alguém que se queira impressionar: "Todas as flores que você plantou no jardim de meu coração murcharam quando você partiu.". Palavras iguais a essas são de uma breguice inominável!
OS AMANTES NÃO DEVEM TER VERGONHA DOS SEUS ATOS
A submissão feminina ao cinto de castidade não era sempre consensual e havia um viés religioso intrínseco ao uso do aparato. O seu uso era compulsório, bastante desagradável e degradante à mulher, porém era justificado como forma de dominação, mortificação ou para evitar infidelidades, estupros ou o conceito cristão de "pecado da carne" e a "queda ao inferno".
A qualquer preço ou sofrimento a luxúria precisava ser controlada e a mulher, envergonhada de sua submissão, escondia o cinto de castidade da sociedade da época por debaixo das volumosas saias e vestimentas para evitar embaraço ou zombaria.
A invenção do cinto de castidade feminino representava uma possibilidade de controle e garantia de posse, em uma sociedade bastante primitiva nas questões das liberdades individuais e direitos da mulher e do homem. Hoje, nos costumes contemporâneos, o cinto de castidade foi substituído pelo escrachar do falso moralismo, pelo lamaçal obliterante e sujeira fétida que brota do fanatismo religioso. Não é de se espantar que na mesma época a prática da escravidão fosse aceita pela sociedade, religião dominante, e era praticada amplamente nas colônias como forma de exploração da mão-de-obra de negros e nativos.
PALAVRAS DE WILLIAM SHAKESPEARE:
"Há certas horas, em que não precisamos de um Amor... Não precisamos da paixão desmedida... Não queremos beijo na boca... E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama... Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado... Sem nada dizer... Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir... Alguém que ria de nossas piadas sem graça... Que ache nossas tristezas as maiores do mundo... Que nos teça elogios sem-fim... E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade inquestionável (...)".
EU NUNCA TIVE (TEREI) VERGONHA DOS MEUS ATOS
Gosto de abraços. Aprecio quem me chama de querido. Adoro quem me aceita difuso e insosso. Louvo a quem me entende ser emblemático ou espirituoso, careta, soberbo, inconsequente ou consciencioso. Jamais tive (terei) vergonha dos meus atos e já me envolvi seriamente com uma senhora comprometida, com família estruturada.
A essa esplendorosa menina-mulher dei o apelido carinhoso de "SANTA". Trata-se de uma pessoa casada, socialmente muito benquista, mas, segundo ela mesma, vivia uma relação marital de aparência, de engodo desditoso, infeliz e sofrido para ambos (Marido e mulher).
O desventurado esposo não a enxergava – não tenho como saber se essa situação foi alterada – com a cupidez de outrora. A falta de desejo sexual, associado à rotina, certamente foi o catalizador dessa aventura atrevida que nos aproximou para uma entrada triunfal no bosque encantado das nossas conveniências.
Provavelmente, à época, essa preciosíssima e cândida criatura também sofria com um problema que potencializou a sua (nossa) traquinagem. Refiro-me à dificuldade financeira vivenciada pelo casal. Desci de paraquedas em terreno alheio? Comportei-me como um cretino usurpador? Não! O destino pregou-nos uma peça.
Certamente não havia amor em nosso colóquio, mas, uma complementação tórrida de anseios. No tabuleiro enxadrezado da vida nos encontramos e foi ótimo o ocorrido entre mim e ela, mas tudo acabou e a nossa consensual e necessária discrição mantiveram (mantém) nossos casamentos incólumes. Uma subida alegria restou em mim: Tenho a absoluta certeza que a perdi para um ser supremo.
EVOLUÇÃO E RESPONSABILIDADE JUSTAS E MERECIDAS
Na nigérrima solidão de meu quarto, imagino-a murmurando, com as mãos unidas, uma prece:"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam”. (Salmo 23.4). Por isso creio tê-la perdido para um ser divino. Não mais sou eu quem a consola enxugando as copiosas lágrimas provocadas pelo desidioso marido. De apenas "Santa" ela se transformou, aos meus olhos e à luz de minha consciência, em uma sacrossanta mulher ligada à Igreja por votos monásticos.
Hoje continuo seu melhor professor porque sei que, nas madrugadas chuvosas e frias, na solidão de seu quarto e cama aconchegante, depois da supracitada prece (Salmo 23.4), ela lê com voracidade meus escritos quase sempre insurgentes, mas enaltecedores da autoestima e boa-fé; instigantes e, a depender da libido de quem os ler, profanos e excitantes.
AS INFIDELIDADES, DESDE OS PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE, SÃO RECORRENTES
Ora, ora, ora... Mesmo não sendo uma situação religiosa e socialmente bem aceita, a infidelidade acontece com frequência – e nem por isso deixa de ser polêmica, às vezes, perigosa e prazerosa ao mesmo tempo. Afinal, infidelidade sempre gera discussões acadêmicas acaloradas: em geral, quem é infiel, traidor, é sempre o (a) desonesto (a) e merece sofrer, enquanto quem foi traído (a) é injustiçado e deveria se vingar.
Mas e o terceiro elemento? Qual a parcela de culpa da pessoa com quem a traição ou infidelidade foi consumada? O que o julgamento moral, da sociedade quase sempre hipócrita, diz sobre o interveniente (ele ou ela)?
À primeira vista – só à primeira vista – parece óbvio que todo mundo prefira se relacionar com gente solteira, isto é, sem nenhum compromisso de ordem afetiva. Temos a impressão superficial de que ninguém deseja ser pivô da separação de casal algum. Todavia, asseguro-lhes do alto de meus muitos janeiros e algumas experiências extraconjugais bem-sucedidas e outras poucas malsucedidas.
Não é bem assim que a coisa funciona! As avenidas, ruas e vielas estão cheias de gente que tem verdadeiro fascínio por pessoas comprometidas. Sou uma dessas pessoas e por isso já corri sérios riscos de me machucar física, emocional e moralmente!
Para alguns seguidores do dom-juanismo, e até para algumas mulheres, ser a terceira pessoa dentro de um relacionamento é quase um esporte e, claro, não causa remorso ou arrependimento algum. Para eles, o motivo de terem se envolvido com alguém comprometido é justamente o tesão que essa condição proibida proporciona.
Claro que não é e tampouco foi esse o meu caso. Aliás, até hoje, as digníssimas senhoras casadas com quem me envolvi, sem linde, continuam casadas e, no âmbito social onde distribuem seus sorrisos carismáticos são benquistas e dignas dos mais efusivos louvores.
O PAPEL OU DEVER DA PESSOA COMPROMETIDA
Sem receio de estar escrevendo uma bobagem posso afirmar: O dever da pessoa comprometida é resistir à tentação. Sabemos que, às vezes, sem a menor pretensão, apenas na tentativa de ser gentil, o futuro amante ou o “terceiro elemento” manda um SMS (Short Message Service) para sua pretendida (o). Ai é quando a coisa muda de rumo, porque a tentação provavelmente vai fazê-lo (a) querer continuar o contato.
A tendência é que, mais cedo ou mais tarde, fique claro ao terceiro elemento que se trata de uma traição ou deslealdade para com seu parceiro (a) com quem tenha um compromisso anterior, isto é, mais sério, e não de um novo e promissor romance. E aí a consciência dele (a) também é colocada em xeque.
Uma outra categoria de terceiro elemento também merece uma análise acurada: Trata-se de o (a) amante que quer se tornar titular. É aquele tipo de pessoa que aceita ser “o outro” ou "a outra" e vive pedindo para que sua conquista termine com a pessoa com quem mantém um relacionamento de mais tempo.
Esses também não se sentem nem um pouco arrependidos, mas ao contrário dos que saem com pessoas comprometidas por diversão, sofrem constantemente pelo desconforto, por se sentirem sempre a segunda opção ou objetos de desejo que não são dignos de receberem atenções iguais as do seu (sua) amante (esposa ou esposo).
CONCLUSÃO
Homem ou mulher que tentar complementar suas necessidades sexuais fora do casamento ou de uma relação afetiva é condenado por todo mundo simplesmente porque, independentemente de qual foi a tentação, ele ou ela poderia ter evitado, negado, se colocado no lugar de quem é traído. E aí, por sua vez, ele ou ela culpa o terceiro elemento:
"Foi ela quem se ofereceu para me ajudar a estudar para a prova de português", ou, "Foi ele quem insistiu em me "destravar", em me ensinar a beijar, abraçar, a usar as mãos e dedos; manejar com maestria próteses e estranhos assessórios eróticos, tudo com a engenhosidade que lhe convém".
É verdade que muitas vezes aquele (a) que se interpõe entre cônjuges não se importa, (REPITO: NÃO É O MEU CASO) em causar sofrimento em alguém em nome de um prazer particular, da luxúria latente ou concupiscência depravada sob a ótica dos hipócritas – principalmente quando ele (a) não conhece o parceiro (a) da sua bem urdida conquista.
Mas, mesmo assim, a crítica nunca deveria ser atribuída inteiramente aos amantes considerados infiéis e, por isso, indignos de boa sorte. As relações interpessoais não conhecem fronteiras ou limitações impostas por uma sociedade decadente e carente de afetos básicos como os de um caloroso abraço, uma palavra amiga, um afago no ego por causa de um elogio sincero.
EIS UMA FRASE QUE EXPLICA A DICOTOMIA DO AMOR:
"Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia." – (John Lennon)