Crise: se não der para evitar, resolva!

A crise que se instalou no Brasil sob a égide da revolta popular diante da corrupção e passividade da justiça tem tomado rumos que nem um dos lados dessa história têm noção de onde vai parar. Nas grandes capitais, jovens encapuzados ocupam ruas, fecham avenidas importantes, invadem universidades, apedrejam prédios públicos, agridem barbaramente um comandante da polícia.

No interior do país a coisa se assemelha em parte, perde para a grandiosidade dos manifestos no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas conta com invasões, depredações, ocupações de prédios públicos, conflitos com a polícia. Em todos os casos a desculpa é sempre a mesma, “direitos desrespeitados”, “resposta a violência da polícia”. No meio disso tudo, a população, que paga os impostos que originam os salários e os investimentos que os manifestantes do país inteiro reivindicam.

Sair às ruas hoje é uma missão quase impossível. Todo dia alguém ocupa parte de uma avenida ou calçada de prédio público reclamando de alguma coisa, ou cobrando algo que foi prometido, mas é claro, não foi cumprido ou está no mínimo, com o cronograma atrasado. País das obras faraônicas e elefantes brancos, o Brasil vem passando por uma crise inexplicavelmente evitável, mas que se alastra como fogo em pólvora, pela simples falta de ação.

Não vemos por parte do poder público uma vontade real de resolver essas pendências. O piso nacional dos professores foi estabelecido através de lei federal, mas não há um professor no país que não reclame de ainda estar recebendo abaixo do piso. Se é ou não verdade, nenhum governante apareceu provando isso.

O passe livre se mostrou um sonho americano entre jovens estudantes brasileiros, todo economista sabe que se alguém entra de graça em um lugar que cobra por esse serviço, outro alguém está pagando em dobro em algum lugar, mesmo assim, os governos brasileiros esticam essa discussão, não dão alternativas e ainda seguem oferecendo um dos piores, senão, o pior serviço de transporte público do mundo. Mesmo assim, os jovens seguem reclamando, e os governos, prometendo aquilo que uma hora não poderão mais cumprir.

No interior do país, acredito, estão as maiores provas que nenhum governo em exercício no Brasil nos últimos anos vem cumprindo a risca o que diz a Constituição Federal. Os conflitos por terra não apresentam crescimento acentuado, porque já chegaram a níveis alarmantes. Os acidentes em rodovias federais e estaduais crescem a olhos vistos, mas as ações de recuperação das estradas caminham a passos lentos. As ocupações de terras por famílias de sem-terra já nem são mais notícias, quem notifica aquilo que não é mais novidade? O que não é novidade é a passividade da justiça e governos com a situação precárias dessas pessoas, e uma reforma agrária feita nas coxas que não resolve e ainda alimenta outro problema, a comercialização de terras públicas.

Quem não se comove com as lágrimas do trabalhador rural ao assistir a morte de sua última vaca, cansada e com sede? Quem não se incomoda com o quebra-quebra de bancos, orelhões e prédios públicos durante manifestos pelo país? Quem não fica indignado com o tamanho das filas de caminhões durante protesto em mais uma rodovia? Todos que assistiam TV naquele momento, o restante se ocupa com brasileirão, o MMA, a novela das nove e a promoção do avião que promete casa mobiliada para quem comprar produtos de limpeza. O problema, é que os grandes clubes, aqueles com maior torcida, andam ameaçados de rebaixamento, nenhum brasileiro anda vitorioso no MMA, a novela anda cada vez mais chata e esse avião, bom, esse aí, só dá prêmio para personagens bem interessantes. Quem acredita nisso hoje em dia?

Toda dona de casa sabe que ninguém conhece melhor a casa do que o próprio dono e que bagunça tem limite, se você não arrumar, uma hora o lixo começará a sair pela janela. Por mais organizada que a casa seja, os moradores precisam se harmonizar e seguir regras básicas de convivência. Ou isso, ou as contas nunca estarão em dia, jamais haverá roupas limpas, a louça vai se acumular na pia, a comida desaparecerá da dispensa e a pior parte, o banheiro nunca estará livre nos momentos de maior precisão. Em regra é regra, ou você segue, ou os problemas irão te engolir.