BIOGRAFIAS: 'Quem não deve não teme'!
O ponto alto de debates nos mais diversos blogs brasileiros tem como assunto principal o ‘jogo de braço’ entre artistas, autoridades e celebridades, com os escritores de uma maneira geral. De um lado defende-se o direito à privacidade e de outro o direito à informação e à liberdade de expressão. Os biografados querem manter intactas as suas facetas individuais, conquanto os escritores (de olho em um mercado gordo) querem explorar aquilo que o leitor tem fascinação que é conhecer as particularidades alheias.
No rol de artistas que defendem o direito à privacidade, estão Roberto Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e muitos outros. Estes artistas se defendem contra o exagero. Eles são sabedores de que o leitor tudo sabe sobre seus dons naturais no ramo que se consagraram. Por isso têm consciência de que a biografia que interessa ao leitor são os anseios e as condutas privativas de cada um deles, explorando-se, quando muito, os vícios de cada um deles, caso possam servir a esse propósito.
De outro lado os jornalistas (de uma forma geral) que vêm externando o seu desagrado com essa atitude desses artistas em se manterem blindados. Trata-se das biografias que chamam de não autorizadas. São aquelas em que o escritor tem livre opção de escrever pequenas verdades que extrapolam a vida profissional do biografado. Esses jornalistas reconhecem que em certas obras os seus autores atravessam a linha do limite tolerável. Entretanto, justificam que há meios de defesa para esses casos, que é o direito de resposta. Esquecem-se, contudo, que para se alcançar tal direito é necessário acionar a justiça, mas a ação custa caro.
Sucede que tramita projeto de lei no Congresso Nacional dando rumos definitivos à questão. Esse projeto dá alcance ao direito de cada um dos envolvidos. Ou seja, estabelece critérios para que tanto o jornalista (ou escritor) como o biografado se achem protegidos nas suas aspirações, regulando o que é permitido e o que não é permitido divulgar. A lei dá ensejo a biografias de homens que por sua natureza ativa se interligam com as relações públicas. Dá alento para que os escritores explorem a atividade pública, mas estabelece reservas para o alcance de interesses que circundam a vida particular do biografado. A lei proíbe ofensas pessoais e dá direitos a quem tiver sido ofendido.
O fato é que a pessoas de uma forma geral, na vida cotidiana e no refúgio do lar se deixam levar pelos seus deleites pessoais. Há aquele que bebe. Há aquele que se vê livre das sentinelas que dão regras à união e ao casamento. Há aqueles que de uma foram ou de outra são considerados introvertidos e tratam os terceiros de forma ostensiva grosseira. Há aqueles que são arrogantes e impertinentes. Há aqueles que tratam mal seus animais. Há aqueles que são viciados em algum tipo de comportamento imoral, como jogos; homossexualismo; consumo de drogas etc.
Na verdade para que o escritor possa fazer a biografia de uma pessoa ele tem de fazer uma estreita pesquisa em dados históricos ou em fatos concretos colhidos alhures através de depoimentos ou outros meios de prova. A princípio a aparência da iniciativa paira sobre o histórico profissional do biografado. Mas, há que se levar em consideração que o maior interesse para o jornalista são ‘os furos’ que a investigação irá trazer à tona. Assim, o trabalho jornalístico também visa algo que sempre ficou obscuro publicamente na vida daquele personagem. É aí que mora o perigo. É nesse ponto que surge a divergência.
As celebridades não querem revelar aquilo que faça parte de sua privacidade. Há aí direitos antagônicos. O biografado de manter-se assegurado no seu direito à privacidade e o escritor de manter-se no alcance no seu direito à informação à liberdade de expressão. Creio que a partir daí surge um interesse difuso que passa a ser o vínculo com o público de uma maneira geral, visto que a nossa sociedade exige conduta moral ilibada das pessoas públicas. Se essas celebridades não ostentam esse requisitos é curial que todos saibam. Por exemplo: A Xuxa. Ela cresceu fazendo televisão para criança. Caso houvesse uma investigação e dela sobressaísse uma personalidade que demonstrasse tratamento áspero com essas crianças acho perfeitamente louvável que essa ‘índole dissimulada’ viesse à tona em sua biografia, porque isso demonstraria que sua idolatria não passou de uma farsa. Quem for fazer a biografia de Adolf Hitler não poderia jamais deixar de ilustrar que foi um ditador e que tinha nas suas aspirações políticas a determinação para exterminar a raça judia.
Enfim, cabe ao legislador dar a ‘pincelada’ final. Entretanto, continuo achando que é perfeitamente aplicável aquele provérbio popular: - “Quem não deve não teme”!