Da impunidade e proteção, a violência.
Réu confesso de um crime de assassinato sai pela porta da frente do tribunal. Vândalos mascarados destroem patrimônio público, casas comerciais, caixas eletrônicos e vão para suas casas como fosse natural. Ladrão liberado primeiro espera vítima à porta da delegacia para lhe prestar zombarias e fazer ameaças. Sitiantes tomados de assalto são humilhados e torturados por ladrões sem escrúpulos. Esses fatos são um pequeno exemplo de um vasto oceano de violência no Brasil. Nem mesmo a ditadura militar e seu AI-5 vestiram-se de tanto poder e autoridade como se vestem hoje os desmandos do crime neste país. Porque se aquela só torturava os que se lhe opunham, este martiriza a todos sem exceção.
Ruiu aquela como todo império autoritário, combatida durante vinte anos nos porões pelos que se sentiam sufocados e viam sua liberdade tolhida. Cresce este, no entanto, protegido pela grande imprensa e pela comissão dos direitos humanos que atribui violência à repressão dos atos e distribui complacência a ação dos bandidos. Hipocrisia desmedida essa que conduz a opinião pública para a ineficiência da polícia quando a causa é a justiça que não pune. Como diria Raul: “Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”.
Existem maus policiais? Sim, assim como existem maus médicos, maus garis, maus professores, maus pedreiros, maus políticos... Porém, em sua maioria são profissionais responsáveis e cumpridores dos seus deveres num quase sacerdócio, uma vez que em seu trabalho sofrem grande pressão e vigia. São julgados pela sociedade segundo a ótica das câmeras e das organizações que consideram humano qualquer coisa que ande sobre dois pés e tenha identidade civil; e assim, destitui os justos do direito à vida e a liberdade, acobertando animais verdadeiramente ferozes.
Entre o final dos anos sessenta e inicio dos setenta, havia um slogan que dizia: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Esta frase curta de fácil assimilação, embora tivesse uma conotação política de alerta e ameaça aos opositores do governo militar do presidente Médici, foi um tiro que saiu pela culatra e em médio prazo acabou por instigar o povo à luta pelo fim da ditadura. Certamente, o estado atual das coisas, não reflete o pensamento dos baluartes da liberdade que à época defendiam uma democracia ordeira. Está difícil amar um país tão injusto onde o cidadão de bem tem que viver trancado em sua casa, pois estão livres os infelizes à sua espreita.