Renascimento
O homem com toda a sua glória e seu terrível desespero é endeusado em uma época particularmente fascinante. O Humanismo não se limita a tornar a vida do homem apetecível, ele consagra a este homem as mais inefáveis lisonjas e o considera com extrema complacência. A Beleza deixa o seu pedestal etéreo e se incorpora nos afrescos, nas esculturas, no sorriso gentil e puro da donzela, nas rubras bochechas do saltimbanco. Ela está em toda a parte, para o prazer dos olhos, até na dor angustiosa de Maria ao pé de Cristo. Ela pode tornar-se extremamente subjetiva, intelectual, mas quase nunca espiritual.
O homem se liberta das pedras anônimas e lisas das catedrais da Idade Média. Individualiza-se mostrando seu valor; é o apageu do único, do incomum, do raro. O homem reconhece suas qualidades, destaca-se, forçando o mundo a admirar a beleza física imposta ao mármore.
A Renascença, diversificando do modo mais evidente os povos uns dos outros e o indivíduo do povo, colovou em seus devidos lugares as respecivas aptidões. A Renascença sucedeu ao grande murmúrio confuso da Idade Média, onde a escultura, a pintura, o teatro, a música, o canto dos sinos se confundiam num sorvedouro obscuro. Escolhendo entre os estilhaços de uma civilização extinta, a Renascença soube prender e revigorar o que havia de indestrutível e único.
Certamente cada indivído entre o povo, e cada povo na História caminha em direção à unidade espiritual do homem. Talvez, esta unidade esteja destinada a jamais se concretizar em moldes humanos. Talvez a infinita variedade das formas de expressão individuais ou específicas, seja preferível a alguma uniformidade esplêndida cuja monotonia não tardaria a conduzir o espírito inquieto a uma nova dispersão.
Cada povo garantiu para si uma forma de expressão que, por muitos séculos caracterizou uma nacionalidade. Os franceses, antes de tudo eram arquitetos; os italianos, antes de tudo, eram pintores; os alemãe músicos, os espanhóis trágicos. O gênio da pintura e da plástica está tão presente em Rafael, como em Dante. Os alemães transportam seu espírito musical para seus poemas; sua filosofia e até em sua ciência encontramos matérias confusas e sem delimitação, reunidas por mil entreatos obedientes e uma espécie de hábito sentimental de edificar sobre o nada, um monumento metafísico devido a sua própria vontade.
A Renascença particularizou e definiu o que a Idade Média deixava sem contornos nítidos. Particularizou os aspectos infinitamente variados do mundo, para refazer os elementos de uma mística onde a antiga unidade da ciência e da arte pudesse se reconstruir um dia. O homem não tem outra razão para viver sem ser recriando seu poder de amar, na construção das formas que se renovam incessantemente sem aguardá-lo, pois guando o homem consegue retratar a vida da flor, ela já feneceu; o entardecer de seu quadro já é agora noite fechada; a angústia destas mãos crispadas no estertor da morte, já é placidez ao lado do Senhor.
O termo Renascença é comumente interpretado como significando que no século XIX houve um súbito reviver do interesse pela cultura clássica da Grécia e Roma. Entretanto, esta conclusão carece de autenticidade. Não foi raro, na Idade Média o interesse por obras clássicas.
"Já no fim do século XIII os artistas de Fréderic de Hobenstaufer e Nicolau Pisano tinham recorrido a motivos antigos". (Hautecoueur, Luiz — "Histoire da L'Art", — volume II, página 34, Flamarion, 1959)
John de Salisburg, Dante e os poetas galiardos eram os grandes admiradores da literatura e arte greco-latina como quaisquer outros que tenham vivido posteriormente. E já se tinha noção do universalismo característico da Renascença: "pode-se comparar algumas ilustrações que Botticelli compôs para a Divina Comédia com os desenhos chineses". (Hautecouer, Luis – "Histoire da L'Art – volume II, página 33, Flamarion, 1959). A Renascença foi em verdade, a culminância de uma série de renascimentos, cujo início talvez se encontre no século XI: "pode-se sustentar como sendo verdade ou que os Templos Modernos nasceram antes do século XV ou que a Idade Média se prolongou até o século XVI ou mesmo XVII", (Hautecoeur, Luis – "Histoire da L'Art – volume II, página 34, Flamarion, 1959)
Tanto Cícero quanto Virgílio, Sêneca e Aristóteles, eram estudados atenciosamnte nas catedrais e mosteiros, como os próprios santos. A Renascença abrangeu um imenso acervo de novas conquistas, tanto artísticas como científicas e políticas. Basearam-se nos fundamentos clássicos, mas ultrapassaram de muito os limites da herança romana, principalmente no campo da ciência onde os romanos foram paricularmente rudimentares. E de todo seria impossível contentar um povo que já se tornava mais exigente pelas próprias conquistas culturais com as inovações greco-latinas. Eles foram aos clássicos para deles retirar o sumo precioso, que se transformaria graças a mãos infinitamente hábeis, uma catarata aparentemente inesgotável, cujas gotas cintilantes a opulenta, a generosa Itália esparziria por toda a Europa.
Leone Battista Alberti construiu em Florença o Palácio Rucelai em 1450 usando os estilos toscano, jônico e corinto, em superposição de ordens tipicamente renascentista.l
Houve, realmente, uma dedicação mais extremosa, um estudo mais acurado das letras clássicas, notadamente nos mosteiros, com o fito de aprimoramento da cultura, o que motivou obviamente, uma amplitude do panorama intelectual, já que se ia diretamente à fonte, não se bastando com traduções mais ou menos falhas, e está aí uma das causas da Renascença.
O desenvolvimento de uma nova classe social, que tinha poderio econômico bastante para rivalizar com os senhores feudais, embora não tivesse suficiente condições intelectuais que facultassem a percepção de obras elevadas, nem por isso deixaram de admirá-las. Porém deram então maior apoio, de início, aos goliardos e fabliau, autores satíricos e licenciosos por excelência, não repeitando nem a mulher nem a religião. Chegaram ao ponto de satirizar os Evangelhos. Esses burguesia favorece também o desenvolvimento científico e cultural. Ela pode pagar a cultura dos outros, que é posta assim a seu serviço. Da burguesia esclarecida surge o mecenato – os mecenas são os protetores das culturas e das artes. Entre estes encontramos não só leigos (os Médici, os Sfarza) como os Papas Leão V, Pio II e Leão X.
"Nos séculos Xii e XIII, Pisa, e Gênova e principalmente Veneza encabeçavam o comércio cristão no Oriente; Milão dominava na Lombardia; Florença, cidade democrática por excelência distribuia por toda a parte suas sedas. Este crescimento de riquezas nas populações inteligentes devia trazer o progresso das artes... os burgueses opulentos desejavam os mais belos edifícios" (Bayet, C. "Précis d'histoire de L'Art, página 194, F. dédition d'art - Paris)
Há a fuga progressiva à atmosfera e ascetismo características da primeira fase da Idade Média. A carne que devia ser fusgigada, ignorada, passa a ser celebrada pelas tintas e cinzéis dos renascentistas. A influencia das civilizações sarracena e bizantina se torna presente não somente no fausto real das famílias abastadas, como nas telas onde o brilho das gemas rivaliza com o fulgor dos olhos apaixonados.
A revivescência do estudo do Direito Romano, que sempre havia sido empregado em Bizâncio, passa a ser usado e aplicado por todos; a literatura dá-lhe maior relevo. O aristotelismo da Filosofia Escolástica com o seu apelo para a autoridade, de um pensamento pagão, os progressos do naturalismo na literatura e na arte, o que consequentemente auxilia a expansão do pensamento e daí a das cidades, são outras causas da Renascença.
A pesquisa cada vez mais intensa da natureza, do humano, a divinização do homem, contemporâneo, anterior e ulterior, impulsionam os renascentistas, entre os quaiso exuberante Miguel Ângelo, e o extraordinário Da Vinci, muito além de limites até então suspeitados. Eles transmitiram a realidade, não só em seus aspectos puramente materiais mas em toda a patética beleza do sofrimento espiritual e moral. Até então a arte estava a serviço do misticismo, agora ela se liberta e é espelho: "a arte, até aquele momento existia em função de uma fé religiosa que da natureza só tolerava o que pudesse ser suscetível de servir a seu ideal, se metamorfoseia, ao se ver livre desta escravidão teológica, em meio de conhecimento do mundo exterior" (Bazim, Germain – "Historia de la Arte" – página 183, Edição Omega, Barcelona, 1956).
Aplauda-se o homem onde quer que ele esteja – no trono, ao lado da amada. na cruz, nos campos de batalha, fazendo o que for. É o homem, a natureza que vai ser refletida em cada obra. E o humanista Rabelais, um humanista por excelência, dá a ordem para que o talento flua num arrrebatamento imparm: "Faze o que quizeres".
O homem com toda a sua glória e seu terrível desespero é endeusado em uma época particularmente fascinante. O Humanismo não se limita a tornar a vida do homem apetecível, ele consagra a este homem as mais inefáveis lisonjas e o considera com extrema complacência. A Beleza deixa o seu pedestal etéreo e se incorpora nos afrescos, nas esculturas, no sorriso gentil e puro da donzela, nas rubras bochechas do saltimbanco. Ela está em toda a parte, para o prazer dos olhos, até na dor angustiosa de Maria ao pé de Cristo. Ela pode tornar-se extremamente subjetiva, intelectual, mas quase nunca espiritual.
O homem se liberta das pedras anônimas e lisas das catedrais da Idade Média. Individualiza-se mostrando seu valor; é o apageu do único, do incomum, do raro. O homem reconhece suas qualidades, destaca-se, forçando o mundo a admirar a beleza física imposta ao mármore.
A Renascença, diversificando do modo mais evidente os povos uns dos outros e o indivíduo do povo, colovou em seus devidos lugares as respecivas aptidões. A Renascença sucedeu ao grande murmúrio confuso da Idade Média, onde a escultura, a pintura, o teatro, a música, o canto dos sinos se confundiam num sorvedouro obscuro. Escolhendo entre os estilhaços de uma civilização extinta, a Renascença soube prender e revigorar o que havia de indestrutível e único.
Certamente cada indivído entre o povo, e cada povo na História caminha em direção à unidade espiritual do homem. Talvez, esta unidade esteja destinada a jamais se concretizar em moldes humanos. Talvez a infinita variedade das formas de expressão individuais ou específicas, seja preferível a alguma uniformidade esplêndida cuja monotonia não tardaria a conduzir o espírito inquieto a uma nova dispersão.
Cada povo garantiu para si uma forma de expressão que, por muitos séculos caracterizou uma nacionalidade. Os franceses, antes de tudo eram arquitetos; os italianos, antes de tudo, eram pintores; os alemãe músicos, os espanhóis trágicos. O gênio da pintura e da plástica está tão presente em Rafael, como em Dante. Os alemães transportam seu espírito musical para seus poemas; sua filosofia e até em sua ciência encontramos matérias confusas e sem delimitação, reunidas por mil entreatos obedientes e uma espécie de hábito sentimental de edificar sobre o nada, um monumento metafísico devido a sua própria vontade.
A Renascença particularizou e definiu o que a Idade Média deixava sem contornos nítidos. Particularizou os aspectos infinitamente variados do mundo, para refazer os elementos de uma mística onde a antiga unidade da ciência e da arte pudesse se reconstruir um dia. O homem não tem outra razão para viver sem ser recriando seu poder de amar, na construção das formas que se renovam incessantemente sem aguardá-lo, pois guando o homem consegue retratar a vida da flor, ela já feneceu; o entardecer de seu quadro já é agora noite fechada; a angústia destas mãos crispadas no estertor da morte, já é placidez ao lado do Senhor.
O termo Renascença é comumente interpretado como significando que no século XIX houve um súbito reviver do interesse pela cultura clássica da Grécia e Roma. Entretanto, esta conclusão carece de autenticidade. Não foi raro, na Idade Média o interesse por obras clássicas.
"Já no fim do século XIII os artistas de Fréderic de Hobenstaufer e Nicolau Pisano tinham recorrido a motivos antigos". (Hautecoueur, Luiz — "Histoire da L'Art", — volume II, página 34, Flamarion, 1959)
John de Salisburg, Dante e os poetas galiardos eram os grandes admiradores da literatura e arte greco-latina como quaisquer outros que tenham vivido posteriormente. E já se tinha noção do universalismo característico da Renascença: "pode-se comparar algumas ilustrações que Botticelli compôs para a Divina Comédia com os desenhos chineses". (Hautecouer, Luis – "Histoire da L'Art – volume II, página 33, Flamarion, 1959). A Renascença foi em verdade, a culminância de uma série de renascimentos, cujo início talvez se encontre no século XI: "pode-se sustentar como sendo verdade ou que os Templos Modernos nasceram antes do século XV ou que a Idade Média se prolongou até o século XVI ou mesmo XVII", (Hautecoeur, Luis – "Histoire da L'Art – volume II, página 34, Flamarion, 1959)
Tanto Cícero quanto Virgílio, Sêneca e Aristóteles, eram estudados atenciosamnte nas catedrais e mosteiros, como os próprios santos. A Renascença abrangeu um imenso acervo de novas conquistas, tanto artísticas como científicas e políticas. Basearam-se nos fundamentos clássicos, mas ultrapassaram de muito os limites da herança romana, principalmente no campo da ciência onde os romanos foram paricularmente rudimentares. E de todo seria impossível contentar um povo que já se tornava mais exigente pelas próprias conquistas culturais com as inovações greco-latinas. Eles foram aos clássicos para deles retirar o sumo precioso, que se transformaria graças a mãos infinitamente hábeis, uma catarata aparentemente inesgotável, cujas gotas cintilantes a opulenta, a generosa Itália esparziria por toda a Europa.
Leone Battista Alberti construiu em Florença o Palácio Rucelai em 1450 usando os estilos toscano, jônico e corinto, em superposição de ordens tipicamente renascentista.l
Houve, realmente, uma dedicação mais extremosa, um estudo mais acurado das letras clássicas, notadamente nos mosteiros, com o fito de aprimoramento da cultura, o que motivou obviamente, uma amplitude do panorama intelectual, já que se ia diretamente à fonte, não se bastando com traduções mais ou menos falhas, e está aí uma das causas da Renascença.
O desenvolvimento de uma nova classe social, que tinha poderio econômico bastante para rivalizar com os senhores feudais, embora não tivesse suficiente condições intelectuais que facultassem a percepção de obras elevadas, nem por isso deixaram de admirá-las. Porém deram então maior apoio, de início, aos goliardos e fabliau, autores satíricos e licenciosos por excelência, não repeitando nem a mulher nem a religião. Chegaram ao ponto de satirizar os Evangelhos. Esses burguesia favorece também o desenvolvimento científico e cultural. Ela pode pagar a cultura dos outros, que é posta assim a seu serviço. Da burguesia esclarecida surge o mecenato – os mecenas são os protetores das culturas e das artes. Entre estes encontramos não só leigos (os Médici, os Sfarza) como os Papas Leão V, Pio II e Leão X.
"Nos séculos Xii e XIII, Pisa, e Gênova e principalmente Veneza encabeçavam o comércio cristão no Oriente; Milão dominava na Lombardia; Florença, cidade democrática por excelência distribuia por toda a parte suas sedas. Este crescimento de riquezas nas populações inteligentes devia trazer o progresso das artes... os burgueses opulentos desejavam os mais belos edifícios" (Bayet, C. "Précis d'histoire de L'Art, página 194, F. dédition d'art - Paris)
Há a fuga progressiva à atmosfera e ascetismo características da primeira fase da Idade Média. A carne que devia ser fusgigada, ignorada, passa a ser celebrada pelas tintas e cinzéis dos renascentistas. A influencia das civilizações sarracena e bizantina se torna presente não somente no fausto real das famílias abastadas, como nas telas onde o brilho das gemas rivaliza com o fulgor dos olhos apaixonados.
A revivescência do estudo do Direito Romano, que sempre havia sido empregado em Bizâncio, passa a ser usado e aplicado por todos; a literatura dá-lhe maior relevo. O aristotelismo da Filosofia Escolástica com o seu apelo para a autoridade, de um pensamento pagão, os progressos do naturalismo na literatura e na arte, o que consequentemente auxilia a expansão do pensamento e daí a das cidades, são outras causas da Renascença.
A pesquisa cada vez mais intensa da natureza, do humano, a divinização do homem, contemporâneo, anterior e ulterior, impulsionam os renascentistas, entre os quaiso exuberante Miguel Ângelo, e o extraordinário Da Vinci, muito além de limites até então suspeitados. Eles transmitiram a realidade, não só em seus aspectos puramente materiais mas em toda a patética beleza do sofrimento espiritual e moral. Até então a arte estava a serviço do misticismo, agora ela se liberta e é espelho: "a arte, até aquele momento existia em função de uma fé religiosa que da natureza só tolerava o que pudesse ser suscetível de servir a seu ideal, se metamorfoseia, ao se ver livre desta escravidão teológica, em meio de conhecimento do mundo exterior" (Bazim, Germain – "Historia de la Arte" – página 183, Edição Omega, Barcelona, 1956).
Aplauda-se o homem onde quer que ele esteja – no trono, ao lado da amada. na cruz, nos campos de batalha, fazendo o que for. É o homem, a natureza que vai ser refletida em cada obra. E o humanista Rabelais, um humanista por excelência, dá a ordem para que o talento flua num arrrebatamento imparm: "Faze o que quizeres".