O Autoritarismo do Exército Brasileiro.
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Com o tempo nos acostumamos. Acostumamo-nos a muitas coisas, a quase tudo. Quando algo se torna comum, usual, isso também se torna, para a maioria, certo. Nesses casos, deixamos de perceber a monstruosidade daquilo que é constantemente feito, porque se tornou algo cotidiano e nem notamos mais que poderia ser diferente. E um desses absurdos diários – ou melhor, anuais – é o exército e seu poder autoritário.
Pode parecer só um rito de passagem, algo inofensivo, porém, a maneira como o exército trata os jovens brasileiros, obrigando-os a passarem por burocracia desnecessária e definindo de forma totalmente arbitrária quais dias eles devem destinar a essa atividade é completamente repugnante. A crença de que pensando em uma coletividade, representada por um grupo de poderosos que sabem a vontade da população e o necessário para um futuro melhor, pode-se acabar com a liberdade individual e até mesmo os sonhos de um garoto é uma das bases pútridas da sociedade brasileira.
Isso porque, primeiramente, acreditar saber da vontade geral da população e de poder comandar outros por isso é um claro exemplo da arrogância fatal, como descrita por Hayek. Ou seja, “iluminados” – pessoas que se creem superiores aos demais – tomam ações pelo “coletivo” – que por alguma razão geralmente não é consultado – culminando em consequências tenebrosas. Além disso, demonstra a tolerância brasileira à falta de liberdade e autonomia que tantas vezes permeiam nossa sociedade, representando também a entrega do país a ideias que há tanto tempo falham.
Essas ideias são as de ordem e progresso, retiradas do positivismo. Ordem essa que não é a mesma de Hayek, que é espontânea e gera prosperidade, na qual indivíduos livres cooperariam dentro de um Estado de Direito – em que as leis são iguais para todos – , a mesma forma de organização social que foi aplicada no início dos Estados Unidos, pelos founding fathers. Mas sim uma imposição hierárquica baseada em preceitos dos positivistas franceses, em que as decisões são tomadas de cima para baixo, e em que um cidadão pode possuir mais autoridade e valor – inclusive legal – que outro, tendo mais direitos e mais poder. Essa é a ideologia ultrapassada e corrompida na qual o exército acredita, a mesma que foi abandonada na maior parte do mundo por ter gerado apenas mandos e desmandos de um poder central e autoritário que não trouxeram vantagem alguma.
Como se já não fosse suficiente, a “desculpa” do exército para tal atitude é a crença de que a ordem militar positivista baseada em disciplina cega e hierarquia rígida e irracional gerariam o progresso – econômico, intelectual e moral. Entretanto, prova maior do abismo entre essas teses e a realidade foi a ditadura militar no Brasil, em que tantas tentativas de controle não geraram melhoras econômicas, pelo contrário, criaram uma terrível inflação além de obras gigantescas e inúteis, nem avanço intelectual, uma vez que o país continuou como importador de tecnologia, ou mesmo moral, visto que o máximo que esse regime alcançou foi “amordaçar” o que existia de errado - de acordo com os "iluminados" e em troca de diversos direitos -, sendo que no momento que essa mordaça foi solta, tudo continuava igual, ou até mesmo pior – na opinião dos mesmos.
Não é preciso muito esforço para concluir que o Brasil deve evoluir no que tange à Força Militar, tentando, ao menos, se igualar a países como Reino Unido, Países Baixos, Suécia, Estados Unidos, ou mesmo vizinhos, como Chile, Argentina e Uruguai, nos quais há sistemas consideravelmente mais flexíveis e o alistamento não é obrigatório. Já passou da hora dessa instituição pútrida que embasa nossa sociedade ser alterada, a época do positivismo e da ordem baseada em uma moral arcaica há muito tempo já passou.