Aos que não teve pai, ao pai ausente, ou o verdadeiro pai.

Ser pai é fazer uma trajetória na trilogia, biológica, político social e educacional. Foi isso que a vida me ensinou a duras penas. Para os que não tiveram pai para os que nunca o tiveram – morreu -, ou –suicidou-se – ou desapareceu, para os que nunca compareceram na paternidade.

Quando pequeno, digo ha uns cinquenta anos atrás, onde a “sociedade”; tratava o assunto, não ter pai, às crianças da escola dizia: Não tem paaaaaiiiiiiii! Não tem paaaaaiiiiii! O bulling corria solto, ninguém acreditava sobre o pai que não se apresentava e que era tido como morto..., ficava-se ao canto desolado e irritado com as manifestações dos que tinham pai, mãe, avô, etc..., e você na calada da discriminação por não ter pai. No meu caso tinha, era vivo, porém nunca apareceu, talvez por situações com a minha mãe, que ninguém sabia do que se tratava..., então, era isso. Uma infância travada pela falta de pai e a discriminação fazendo história e traumas. Sabendo disso, todas às vezes, até em sala de aula, quando se lembravam de coisas sobre pai, lá vinha à musiqueta: Não tem paaaaaiiiiiiii! Não tem paaaaaiiiiii! E, por causa dessa musiqueta, um deles, certa vez ficou com o olho roxo, e fora me pedido para sair da Escola. Na outra escola, por sorte, ou devido ao Diretor, parecer-me que não teve pai, mantinha-se, certa atenção, sobre o meu comportamento, mas mesmo assim, quando na fila da merenda, de quando em vez, eu ouvia: - Não tem paaaaaiiiiiiii! Não tem paaaaaiiiiii! Parecia que se tinha lepra, por não ter um pai presente.

Essa condição acompanhou-me a vida toda. Até que, já adulto fora procurar na cidade em que morava, o tal pai, que nunca apareceu, nunca deu nada. Foi a pior e a melhor coisa, que já fizera sobre o assunto. Primeiro que a pior foi à decepção de ver um pai, que se imaginou toda a infância, de ser ele o que era: apenas um cidadão, simples, humilde e ignorante. Tinha um caminhão velho que levava verduras para a feira. A melhor foi sai de lá com a sensação de que iria matar aquele pai, que nunca existiu, que fora sempre uma necessidade calcada na falta, e ou nos traumas adquiridos na infância que me levou a ter imagens e imaginar um dia esse pai ausente. Para tal, escrevi a pior poesia que pude, alias, nem poderia chama-la, assim, era um vomitório um escárnio, para matar uma nefasta história, de uma imaginação baseada no desejo de que fosse assim, ou fosse assado.

O bolling bulia comigo o tempo todo, então, foi bom matar aquele pai, enterra-lo, buscar novos horizontes, novas explicações. Uma dessas explicações, era a negação de ter uma mulher e um filho, talvez seja isto, a geração massacrada pelo afastamento das condições paternas, e às chamadas – pães -, assumindo esse lado paternal da formação do indivíduo cidadão.

O tempo correu, e vi, durante essa trajetória, várias condições de paternalidade presentes no cotidiano da vida. Desde o pai presente na suficiência, o pai presente e dedicado e pai presente dedicado e fiel a seus princípios. Dentre eles, sabedor da condição de não ter tido um pai, via por outro lado os que saíram de suas casas, cedo, por conta do pai, perverso, agressor. Um desses, “amigo”, sofria das mesmas angustias, sobre o assunto quando se conversava sobre, geralmente nesse dia – Dia dos Pais -, sempre era motivo de saber da força e da emoção dos que não tiveram esse pai, e se acovardaram em ser um pai, para cumprir com sua devoção, suprindo para outra, geração o que a sua própria, lhe negara e o decepcionara. O outro, que tivera um pai, agressor, sentado à mesa grande de jantar, olhava o pai já idoso, brincando com o neto, o que era tudo o que ele queria na vida, pois, não se falavam, devido às surras, de cinto de couro, que o pai lhe dera a vida toda, - sofria com isso -. Por outro lado, convivi com um – companheiro -, de ideais políticas, que sequestrou um avião para salvar o pai – (está nos anais da História do Brasil). O tal amor incondicional, por um pai excepcional, que além de ser pai, era um pai que sua força carismática, o levava a ser um paternalista, mesmo negando que essa condição.

Ser pai é ser reconhecido, como tal. É ser o representante de uma condição, que pode a partir de você construir, toda uma qualidade de vida e sustentabilidade, na formação da grande sociedade mais justa e solidária. Assim, se fez, e assim se fará mesmo uma geração massacrada em todas as suas necessidades, falo de hoje, quem tem de cinquenta a sessenta anos, que sofreu muito com as mudanças e intervenções bruscas da sociedade; mesmo assim, às leis constitucionais, nos faz lembrar que mesmo tendo estado em uma sociedade brutal e perversa, e que para muitos levam até hoje sequelas, essas mesmas leis, são leis humanistas em busca de melhores cidadãos.

Ao fazer cinquenta anos, por forças de uma mulher - super guerreira -, foi que me vi, na condição de pai de uma menina, e essa condição veio junto uma tarefa grandiosa, de além de sê-lo, teria que suprir toda uma lacuna de dupla ou tripla função, a de não repetir nada do que não tivera e ainda criar às melhores condições para essa criança, lhe reconhecer como um pai de verdade. O biológico o político social e o educacional. Tarefa essa que vem mudando o comportamento de sociedade, cultural e estrutural.