O pensamento coletivista e as torcidas de futebol.

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É comum, há muito tempo, críticas às torcidas de futebol, especialmente as organizadas. No entanto, repete-se um erro crasso, terrível, de culpar-se toda uma instituição - ou grupo - pelo erro de um indivíduo ou conjunto que agiram sem nenhum consentimento do todo. E isso vai totalmente contra todo o progresso da ótica utilizada nos direitos humanos, é algo absurdo, injusto.

Houve um tempo em que era certo que, por se pertencer a uma nação, você poderia ser morto pelo povo inimigo. No momento em que romanos lutavam contra persas, bretões contra saxões, o mais comum é que a hostilidade tornasse-se algo cultural. Isso quer dizer que o conflito não era feito só de batalhas e guerras que são incontáveis vezes transformadas em filmes, esse confronto também incluía a difamação e ódio contra o povo ao qual se enfrentava, muitas vezes resultando em extermínio étnico e forte preconceito contra pessoas que muitas vezes não possuíam nenhuma relação com o exército de seu país de origem ou até mesmo eram descendentes de diversas gerações daquela população – não mantendo laços com esta.

Com o passar do tempo, maior fluxo de informações, pessoas, bens – tudo isso graças aos avanços tecnológicos que marcam a própria história da humanidade -, e o fortalecimento de um pensamento mais humanista e democrático, essas atitudes hostis contra pessoas não hostis foram fortemente criticadas. Isso, auxiliado a maior agilidade com que se recebem notícias - chocando as pessoas -, fez com que, gradualmente, o comportamento coletivista de atacar um povo por causa da atitude de alguns indivíduos, junto com o preconceito generalista, fossem cada vez mais odiados.

Essa lógica coletivista - que gerou genocídios étnicos como o provocado pelo governo nazista contra os judeus e o provocado pelas forças sérvias lideradas por Ratko Mladić contra bósnios muçulmanos – e é tão criticada por quase todos os ocidentais ao lembrar-se de inúmeras guerras, é a mesma usada ao punir uma torcida de futebol pela atitude de um torcedor ou um grupo específico. Ao se punir o todo por causa da parte, uma pessoa por uma atitude ao qual ela não cometeu - ferindo os direitos humanos -, usa-se o mesmo pensamento empregado por legisladores que achavam justo matar uma criança porque seu pai matou o filho de outra pessoa – como se essa criança fosse culpada pelo que seu pai fez, ou como se ambos tivessem a mesma consciência.

Obviamente, o caso das torcidas é algo bem menos grave, ninguém será morto, nenhuma limpeza étnica ocorrerá. Contudo, é um bom ponto para se observar que a lógica continua ali, o raciocínio que gerou tanta destruição não foi rejeitado, apenas houve um choque com o número de mortos, nada mais que isso. E enquanto esse tipo de pensamento não for rechaçado por um povo – ou pelo menos a grande maioria deste -, haverá sempre a chance do passado se repetir.

Nesse ponto, não interessa a dificuldade de se punir um indivíduo. Repreender 10 pessoas para atingir uma delas é algo extremamente controlador e autoritário, típico de ditaduras genocidas. Isso vai contra os direitos humanos. Os responsáveis por agressões e destruição nos estádios devem ser responsabilizados... sozinhos, não junto com cidadãos que nada fizeram para terem que arcar com consequências negativas, por menores que sejam. Deixem os torcedores torcerem!

OtavioZ
Enviado por OtavioZ em 10/08/2013
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