PROFESSORES ME DESCULPEM, MAS...

PROFESSORES ME DESCULPEM, MAS...

Paulo Sergio Larios

1 – QUANDO O PROFESSOR É SERVO INÚTIL

Não há duvidas de que a profissão de professor é uma das mais bonitas; vai ai a de médico também - é lindo salvar vidas! E é lindo ensinar alguém que não tenha aquele conhecimento. Mas eu fico observando muitos abusos e erros crassos que ocorrem nesse meio e que acabamos sofrendo devido aos mesmos. Usando a linda profissão de médico, como exemplo, o Brasil já aprendeu a criticar o médico faltoso, relapso, preguiçoso, analfabeto, ladrão, abusado e abusador, entre outros. Acho interessante que o mesmo ainda não aconteceu no meio acadêmico. A sociedade parece ter medo de criticar o professor e ai seguem muitos do jeito que querem. A sociedade não aprendeu a criticar o professor preguiçoso, chato, inapto, antipático, mal-preparado, chato e abusado.

A profissão de professor é realmente linda e a sociedade elogia aos bons professores. Os bons professores... O professor é a pessoa usada para passar o seu conhecimento e formar cidadãos, pequenos cidadãos que vão crescer e alguns se tornarão professores também, devido ao lindo exemplo. O problema ocorre quando a sociedade fica – no linguajar desbocado da minha mãe: lambendo os professores. Elogia-se ao extremo o professor que ensina. Uai!? A profissão de professor não era para ensinar? Se o cara virou professor, o que ele deve fazer não é ensinar? É o que então? Criticamos duramente o professor que não ensina, mas tem que puxar o saco de quem está fazendo o que foi contratado para fazer? Ensinar não é a profissão dele? Ou dela? Na linguagem da Bíblia, que eu sigo o mais de perto possível, quem faz o que lhe é mandado fazer é considerado servo inútil: só faz o que lhe mandaram fazer.

“Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.” (Lucas 17:10)

Quando a pessoa faz o que lhe contrataram para fazer, ele não faz mais do que a sua obrigação. Mas falar de professor é terra que ninguém pode tocar. Eu faço uma pergunta: Por que não? Porque não podemos criticar os professores? Sendo que vemos abusos tanto dos professores, quanto das instituições que os mesmos defendem?

Mas vamos às vias de fato, para que entenda quem me lê, qual seja a minha critica e porque estou gastando tempo para escrever isso. Hoje é dia 5 de agosto, e hoje começaram efetivamente as aulas nas escolas publicas. Diz-se que as aulas começaram no dia 1, quinta-feira, mas não acredite nisso, pois é uma inverdade, para não dizer grosseiramente, que é mentira. O revoltante é que hoje, já no primeiro dia efetivo de aulas, não teve aula, e sim mais uma reunião de pais e professores. Tenho duas filhas pequenas em idade escolar, que fazem parte de duas escolas diversas. Uma escola avisou hoje, no primeiro dia de aula, que não haveria aula. O agravante é que descobre-se isso na hora em que se leva a criança para a escola. A sua rotina fica além de alterada, totalmente louca. Marca-se uma reunião obrigatória, numa segunda-feira, que nem sabia-se existir, até o ultimo minuto, sendo que agora você tem um problema nas mãos, urgente: onde você vai deixar o seu filho? Pois é, nem todo mundo tem uma mãe que ajuda a cuidar dos seus filhos, ou alguém em casa desempregado, e outros assim como eu, precisamos trabalhar. Desculpa ai gente, mas não dá pra ir na reunião, eu preciso trabalhar. Aliás, alguém precisa trabalhar nesse país, né?

As reuniões que a escola marcam são altamente suspeitas. Fala-se durante mais ou menos uma hora, pouquinho mais, assina-se uma lista e estão todos liberados. Diga-se que esses todos liberados são os pais dos alunos e os professores também. É!? Você entendeu isso? Os pais e os professores vão embora após a reunião. Talvez um ou outro professor fique mais um pouquinho, mas no geral, todos vão embora. A minha filha de seis anos, que está no primeiro ano, da Escola Augusto de Macedo Costa, na Freguesia do Ó, estuda das 7:30 às 16:30, e quando a escola faz uma reuniãozinha e se liberam, parece-me que algo não está correto. Escolas de poucas horas, até que disfarçam melhor a malandragem, mas quando existem várias horas, o hiato é gritante. Pô, por que não fizeram reunião nas férias, ou deixaram isso programado? Porquê é que tem tanta reunião, aliás?

Eu coloquei a minha filha menor numa escola de tempo integral, iludido com a idéia, que se vende, de que existiriam várias modalidades escolares. Entre outras inglês, informática, e outras didáticas. Na prática, o primeiro ano tem aulas normais, para a idade, até a metade do dia, havendo uma parada para almoço e na parte da tarde, o negócio é mais bagunçado. A informática, não funciona corretamente, o inglês cadê? Eu fico só observando as “aulas” de cinema, onde se pedem aos pais para mandar refrigerantes e pipocas. Nada contra, de vez em quando... Alguém pode alegar que a minha menina já sabe escrever, sendo a metade do semestre. É mesmo, ela sabe escrever, mas fui eu quem ensinou. As minhas duas filhas já entraram sabendo ler e escrever, porque fui eu quem ensinou. E não paro de ensina-las todas as matérias possíveis e até algumas que não estão na escola, como moral e cívica e teologia cristã.

Denunciando a malandragem das escolas, as duas escolas onde as minhas filhas estudam, respectivamente o 1º ano e a 5ª série, anunciaram uma quantidade de dias de férias, mas na prática, ficaram mais de uma semana antes em casa. Sendo que no mês anterior às férias, os professores já estavam com o breque puxado.

Digam o que quiserem, mas no primeiro dia de aulas não tinham aulas. E tinha-se, sim, sem avisar, uma reunião de pais, obrigatória. Desculpa viu gente, mas eu trabalho. Aliás, eu tenho mais o que fazer.

Qualquer profissional deve ser elogiado, principalmente quando ele está fazendo bem o seu papel. Mas que malandragem é essa com essas reuniões? Ou com essas férias encompridadas à força? Vocês professores acham que os pais são tão estúpidos assim?

Eu consigo tirar por ano apenas 30 dias de férias, sendo que consigo dividir em duas etapas de 15, uma em janeiro, a primeira época de férias do ano, que percorre os segundos 15 dias de dezembro e segue até fevereiro, até mais ou menos o dia 10. No meio do ano eu tenho mais 15 dias, para cobrir um período de mais ou menos uns 40 dias de férias efetiva da criança – fora as reuniões. Na escola da minha filha menor tiveram a ousadia de fazerem 3 dias seguidos de reunião, antes de entrar em férias oficiais. Vamos ser caras-de-pau, mas não vamos caprichar tanto, né?

Ah é, ninguém pode criticar os professores, ou suas escolas.

...parece, que isso vai valer quando os professores estiverem realmente dando aulas, não é?

2 - MAS PROFESSOR GANHA MAL

Uma pedra angular da docência, é que o professor ganha mal. Mas fica a pergunta: Quando você fez o concurso para professor, você não sabia quanto iria ganhar? A impressão que temos, nós, uma sociedade acuada e não levada a sério, é que a profissão de professor é diferenciada do resto da humanidade. Acho que professor não é gente! Professor deve ser uma raça superior, além da humanidade. Pelo menos é o que a mídia fica passando o tempo todo pra nós.

Mas professor ganha mal mesmo?

Salário:

De R$ 980 (20 horas semanais) a R$ 1,8 mil (40 horas semanais) na rede pública de ensino.

Em escolas particulares, no Ensino Médio, de R$ 1 mil a R$ 3,6 mil.

Professor doutor em universidade pública federal: R$ 6 mil.

Lembramos que o professor pode acumular cargo em outras escolas. Há quem trabalhe em dois ou três empregos. Que bom, ne´?

Alguém pode dizer: Mas você mesmo está comprovando que o professor ganha mal. Mas eu também ganho mal. Eu sou Técnico de Informática num Hospital e não ganho muito. O problema nem é o salário, mas a idéia de que só o professor ganha mal no Brasil. Isso sim é uma brincadeira de mau gosto.

A você que é professor e não agüenta mais ganhar esse salário que lhe pagam, eu tenho um conselho: muda de profissão. É! Muda de profissão. Vai ser político, isso sim dá futuro no Brasil. Vira um candidato a qualquer coisa. Mas por favor, parem de dizer que só o professor ganha mal nesse país. Se você não está contente com o seu salário, ou com a sua profissão, ainda está em tempo... Mas não me venham com essas louvações indevidas aos professores. Professor não é tudo isso. Pode até ter um ou outro, numa geração, mas no geral, cai na real e faça mais. Quem faz o que lhe é mandado é servo inútil.

Se o professor está fazendo o que lhe pagam para fazer, do que é mesmo que está reclamando?

Ah, mas professor trabalha muito – é o que dizem. A impressão que dá, é que só o professor é quem trabalha no Brasil e o restante não faz nada. Você acha que é verdade isso? Eu vivo esgotado, exausto, de tanto trabalho e correria. Eu tenho o meu trabalho oficial e atendo a quem me chama para arrumar algum micro, durante os meus horários de folga. Sou chamado à noite, nos fins de semana, em feriados. Já tive horário marcado para chegar às 23:00 horas na casa do cliente. Já sai 02:00 horas da manhã da casa de outros. Mais de uma vez fui chamado para arrumar algum micro, no domingo, na hora em que a comida estava no prato. E querem me dizer que só o professor é quem trabalha no Brasil? Professor, professora! Para com isso!

Tem professor se achando a ultima bolachinha do pacote. Oh bolachinha, se liga!

3 – PROFESSOR QUAL É A SUA PROPOSTA?

Um diretor que tínhamos no Hospital cunhou um dito, onde dizia que precisamos avançar mais do que o proposto e não devemos ficar o tempo todo “apagando fogo”. Quando a gente fica resolvendo só os problemas imediatos a gente não enxerga mais longe.

Mas quem deve dar a proposta devem ser os nossos governantes – pode dizer alguém. Eu não concordo de maneira alguma com isso. Quem deve gerar propostas são os professores na ativa e não políticos. Os políticos só dão as cartas porque não tem quem se sobressaia. Tem um monte de professor, por ai, mas quer saber a verdade: estão faltando professores! Não estou me referindo a quantidade, mas a qualidade. A maioria estuda tanto e dá aulas medíocres.

Qual é a sua proposta? Ir pra Paulista, ou outro lugar é fácil, mas qual é a sua proposta? Estamos no século XXI e o ensino vai continuar desse jeito ai e o professor só sabe dizer que o seu salário é baixo?

Na maioria do tempo os professores não tem proposta nenhuma e são só paus-mandados.

Me desculpa ai professora, ou professor, mas chega de se achar mais do que é. Faça pelo menos o que lhe pagam para fazer. Mas saiba que o ensino está carente de propostas melhores. Nossas crianças agradecem.

pslarios
Enviado por pslarios em 05/08/2013
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