ECOS DO UNIVERSO PARALELO - RESPOSTA AO SR. GILBERTO SCOFIELD JR.

http://oglobo.globo.com/rio/o-universo-paralelo-dos-taxis-9064484

ECOS DO UNIVERSO PARALELO – RESPOSTA AO COLUNISTA GILBERTO SCOFIELD (JORNAL O GLOBO)

http://oglobo.globo.com/rio/o-universo-paralelo-dos-taxis-9064484

Não é difícil perceber quando uma matéria é escrita sem embasamento, passando ao largo até de uma pesquisa superficial. Por isso, talvez, o artigo do colunista Gilberto Scofield Jr possa nos parecer tendencioso na primeira leitura. Todo o artigo é tramado com ingredientes apimentados, onde fica translúcida a intenção de denegrir uma classe de trabalhadores castigados pela aridez de asfaltos irregulares e que trabalham, em sua maioria, a média de 12 horas diárias. Por que uma jornada tão longa? O taxista vive da produtividade e precisa compensar os longos períodos parados no trânsito de uma cidade que se transformou num imenso canteiro de obras. No entanto, para o Sr. Scofield, os companheiros taxistas interagem em animadas conversas e em almoços de quatro horas de duração, como se participassem de uma abastada elite corporativa. Em que país vive o Sr. Scofield?

A foto da matéria mostra, estrategicamente, um novelo de táxis engarrafados na Avenida Rio Branco, a intenção é transmitir uma imagem caótica e associá-la a essa opção de transporte. Também seria fácil fotografar um emaranhado de ônibus entalados em algum ponto da cidade, uma pane no metrô ou um engavetamento de carros de luxo. Questão de oportunidade e malícia.

“Apesar de muitos motoristas corretos, o serviço é ruim de um modo geral: motoristas que perguntam para onde vai a pessoa, grosseria, carros horrorosos, direções irresponsáveis, recusas a aceitar passageiros” – Assim o Sr. Scofield descreve a classe dos taxistas, afirma que muitos motoristas são honestos, mas escolhe generalizar pelos piores. Afinal, como dizia um sábio: Generalizar as coisas é o meio mais rápido pra querer ter a razão. Desconhece o afeiçoado jornalista que grande parte dos taxistas atua em regime cooperativado, onde são fiscalizados por conselhos de ética e punidos quando não se comportam com profissionalismo. Em sua aversão aos táxis, o colega Gilberto fala dos “carros horrorosos”, no entanto, não teve o trabalho de investigar sobre a fantástica burocracia que emperra a conquista da isenção do IPI para que o taxista possa comprar um novo carro. Essa burocracia termina, quase sempre, por jogar nas mãos de despachantes parasitas os taxistas que querem trocar de carro e que são obrigados a pagar valores extorsivos para verem o processo andar.

O bravo jornalista insiste na necessidade de maior fiscalização, o que é ponto indiscutível. Quando o Sr Scofield reclama da bandidagem nas portas de aeroportos e rodoviárias ele brada, certamente, contra táxis piratas, sem documentação que os autorize a exercerem o ofício, transitando nas sombras da lei. Tudo isso passa longe da realidade dos profissionais licenciados, que pagam taxas para renovar a concessão e descontam impostos para exercerem a sua atividade.

O colunista se mostra intrigado com o sumiço dos táxis em dias de temporal. Será que não ocorre à inteligência dedutiva do Sr. Scofield que os dias de chuva aumentam a demanda pelo serviço? E se faltam táxis em dias de tempestade como explicar a frota sobreabundante que alardeiam? Além disso, esquece o Sr Scofield que vivemos numa cidade que padece de enchentes e tumultos diante do mais tímido aguaceiro?

O combativo jornalista se mostra um defensor da licitação para concessões de autonomias e delega à miséria um substancial universo de motoristas auxiliares que dependem das transferências para sustentar as famílias e que, muitas vezes, se revezam em turnos com os titulares. O jornalista, com sua aparente falta de boa vontade em se aprofundar nos fatos, não comenta que todo o transporte licitado do Rio não é sinônimo de sucesso e que a prática da licitação, no caso dos táxis, também só iria beneficiar as grandes empresas e nunca o trabalhador que sonha com a independência do próprio negócio. Segundo o jornal Tribuna da Imprensa, o sócio de uma das maiores empresas de Táxi do Rio é da família Cesar Maia.

O Sr. Scofield mostra absoluto repúdio pelo que chama de “capitania hereditária”, ou seja, o direito que havia sobre o repasse das concessões de táxi para auxiliares, viúvas (no caso de falecimento do titular). e em forma de doações permitidas pela SMTR. Seria de extremo valor se o Sr. Gilberto Scofield questionasse no mesmo tom as “capitanias hereditárias” vigentes nas concessões de rádio e televisão, que incluem as Organizações Globo, empresa para qual ele colabora.

Por fim, o Sr Gilberto Scofield protesta contra a permissão da bandeira 2 concedida pela prefeitura aos taxistas durante a duração da Jornada Mundial da Juventude. Ao mesmo tempo em que se mostra insatisfeito com o desempenho dos táxis, não considera que o taxista é uma das portas de entrada para um evento que atrairá um movimento turístico pela nossa cidade. Por desconsiderar os taxistas, não compreende que a bandeira 2 venha a ser um incentivo para que os motoristas profissionais prolonguem as 12 horas que trabalham diariamente. Quem sabe a bandeira 2 foi oferecida para compensar o taxista durante um período em que o movimento na cidade será mais intenso? O Rio de Janeiro consta como o quilômetro rodado mais barato do Brasil, o que deve fazer do taxista carioca o profissional com a pior remuneração do país. Mas isso o Sr. Scofield deve desconhecer, faltou pesquisa.