HINO

HINO

Nada ouço, nas sem margens do agora inexistente Ipiranga, o povo acovardado não brada, não retumba,

o sol pálido da escravidão, cai como um raio sobre as

nossas cabeças, que não brilham em nenhum instante.

Se penhoramos a igualdade, com nossos fracos braços,

se os seios murcharam de tanta mamação, a liberdade

só existirá após a morte.

Socorro, socorro, pária desamada, help, help.

Brasil, um sono intenso, um raio de desamor e desesperança, um céu carregado em que a imagem do cruzeiro desaparece, um gigante que dorme, feio, desdentado, magérrimo e olha no espelho e não se vê.

Mãe gentil, povo gentio, que dorme macunaimicamente

em chão duro, sem som, na escuridão, sem fulgor, num mundo velho. Os campos estorricados pelas queimadas,

os bosques sem vida, sem amores. Ó pária desamada, help, help.

Desamor sem fim, sem bandeira, cheio de estrelas cadentes, sem futuro, sem paz, fruto de passado inglório.

Os filhos fogem a luta, com medo da morte e da justiça injusta em que a forte clava ergue-se contra si.

Ó pária desamada, help, help.

Todos ao solo.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 06/07/2013
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