GERAÇÕES REDE SOCIAL - O Brado do Gigante
- Tem duas manifestações marcadas para hoje, cada uma saindo de um lugar!
- Caramba, tenho que dar um jeito de voltar de taxi de novo!...
Foi este o papo ao final de mais um dia de expediente na Justiça, em que de repente me vi forçada a mudar de planos na hora de ir embora para contornar a volta para casa com a iminência de mais passeatas no Rio a partir das dezessete horas.
Há duas semanas tem sido assim. Mas não me queixo. Porque dia vinte de junho estava lá, fiz questão de também escrever a história - junto daqueles em torno de um milhão de manifestantes em festa cívica de reivindicações na Avenida Presidente Vargas.
E lá estava, em maioria, a geração rede social. A grande detonadora desta avalanche de passeatas tranca-rua que, em poucos dias, puseram em polvorosa todo este país de proporções continentais, de norte a sul! Em todas as suas tribos!
Tinha os de cabelo moicano. Tinha os de cabelos coloridos. De piercing. Caras pintadas! De oradores inflamados sobre o carro de som, à massa colorida em branco, verde, amarelo e outros matizes comprimida em volta, e ao longo da extensão da gigantesca avenida de quatro pistas, lá estavam eles urrando a plenos pulmões seus gritos de ordem: contra a corrupção! Contra a PEC 37! Por saúde, transporte e educação de qualidade!
Chegou um cavalo de Tróia! Não consegui fotografar da distância em que estava com meu grupo, lá na quarta pista, mas vibrei com a rapaziada pulando e correndo para clicar a sensação com a novidade!
Justiça seja feita: àquela altura do levante que apenas começava a tomar conta do Brasil, a eles já se juntara de ótima vontade as gerações detrás, das quais faço parte, entusiastas e pululantes como se tivéssemos retrocedido, nem que somente em fôlego e ideologia, aos anos vibrantes da nossa adolescência!
Lá estava eu de máscara de Anonymous e bandeira em punho. Apito a plenos pulmões! E fomos acompanhando a massa compacta e impressionante que principiava a sua marcha agora em meio a alarido ensurdecedor misturado a papéis picados chovendo aos magotes dos prédios altos que emolduram a importante via carioca, e ao estrondo de helicópteros cruzando os céus a toda, repórteres, artistas, jornalistas...
Fato histórico! Inesquecível!
Em Aracaju, meu pai, septuagenário, declara, eletrizado: lembra os meus tempos de 68, quando saí com cartazes nas ruas!! - Doido de vontade de voltar atrás no tempo! Não era para menos! Via repetir-se, inacreditável, e quando menos todos esperavam, o fenômeno social havido na época da Revolução, hoje presente nos livros de história!
Mas o que vivemos agora não é ainda o conteúdo imortalizado dos livros, porque está sendo escrito, todos os dias, a cada novo levante, em plena Copa das Confederações! A última ocasião a ser admitida como viável para acontecer uma revolta destas proporções no Brasil! Neste Brasil de há muito quieto, estranhamente letárgico, ao qual o mundo e nós mesmos nos víamos habituados - sem cobrar e reclamar da sucessão crescente e espantosa de absurdos e escândalos acontecendo no sistema político e social do país!
Sofrendo como rebanho dopado debaixo do efeito já tido como assegurado do pão e circo das ilusões do futebol e carnaval. A inércia, em muitos de nós, já se fazia asfixiante! E lançávamos, os mais lúcidos, o olhar desesperançado ao redor, para o gado dócil pastando em pleno charco fétido; e nos perguntávamos: será que ninguém acorda?!
Será que ninguém reage?!!
E, no meio da desolação, em muitas ocasiões, outro questionamento repetia-se, como eco pungente: e a juventude?! Onde foi parar a força dos jovens, dos estudantes, que presenciamos em levantes contra tantas mazelas sociais e humanas acontecidas não somente no nosso país, mas em todo o mundo?!
Mas, na era da globalização, em que por vezes nos aparenta ter, a humanidade, se calcificado num estilo de ser mecânico, frio, inumano, comentava-se que esta nossa juventude se alienara definitivamente diante da frieza das telas dos computadores!
- Jovens?! Eles não estão nem aí! Querem ficar as vinte e quatro horas do dia falando abobrinhas nas redes sociais, fechados em egoísmo, sem se ligar em nada, sem se preocupar com nada, nem com ninguém!
Que ledo engano, meus leitores!
É hora de se penitenciar!
É hora de aprender mais - e de se admitir que sempre podemos aprender! Também com os nossos filhos!
Com essas gerações rede social!
E digo com propriedade, porque tenho dois filhos, em fases diferentes da chamada adolescência! Uma mais nova, um mais velho! E, de público, quero confessar!
Quantas vezes não atormentei meu rapazinho com a preocupação mórbida a respeito dos excessos justamente com o uso das redes sociais?! Com o número de horas, que julgava excessivo, diante da tela do computador, achando, como muitos pais e mães certamente responsáveis, que nada de útil se extraí de uma tal overdose de web?! A
Angustiada e aflita, muito naturalmente, com os riscos que de fato existem - mas considerando que nada mesmo se aproveita de bom, numa modalidade de convivência que, a meu ver, seria fria e distanciada, nunca substituindo a qualidade da interatividade no nível pessoal, olho a olho!
E veio num rompante histórico a geração rede social em peso, atropelando todo mundo: políticos, nas suas agendas! Pais e mães preocupados! Mídia impressa e televisiva! Autoridades, intelectuais, do nosso país e do mundo! Para ensinar que, ao contrário do que talvez a maioria de nós pensávamos - nós, das gerações mais velhas, condicionados por conceitos talvez bem intencionados, mas emperrados em percepções em descompasso com a dinâmica da atualidade - eles estão articulados, sim!
Conectados com o mundo, sim! E, principalmente, preocupados com o que acontece ao redor e aos que os cercam, mais ainda!
Mesmo em se considerando que todo impulso altruísta parta, primeiro, de uma perspectiva egoística, meus amigos, essa garotada que está aí nos deu uma lição inesquecível, indelével, e não necessariamente inédita: não se engane pelas aparências, das pessoas ou das situações! Porque correm o risco de que não reflitam exatamente a realidade!
Nossos garotos e garotas foram para as ruas num levante maciço, devastador, irresistível - manifestaram o gigantismo do país adormecido em décadas de insatisfações engasgadas em ilusões improdutivas e em sofrimento! E mudaram em dias o que não conseguimos em décadas de meros murmúrios embalados por cerveja e carnaval! No "país da Copa"! No "país do samba"! Mas no que, de fato, isso nos levou à condição de povo feliz, num país com qualidade de vida digna, real?
E isso exige coragem! Isso exige abnegação!
Isso exige, sobretudo, amadurecimento, meus amigos!
Nossos garotos e garotas estão prontos!
Sejamos gratos! E que Deus os abençoe na sua missão, como seres humanos, e como brasileiros!
Já temos, neste país de tão falsos e poucos heróis, de quem nos orgulhar!...
- Tem duas manifestações marcadas para hoje, cada uma saindo de um lugar!
- Caramba, tenho que dar um jeito de voltar de taxi de novo!...
Foi este o papo ao final de mais um dia de expediente na Justiça, em que de repente me vi forçada a mudar de planos na hora de ir embora para contornar a volta para casa com a iminência de mais passeatas no Rio a partir das dezessete horas.
Há duas semanas tem sido assim. Mas não me queixo. Porque dia vinte de junho estava lá, fiz questão de também escrever a história - junto daqueles em torno de um milhão de manifestantes em festa cívica de reivindicações na Avenida Presidente Vargas.
E lá estava, em maioria, a geração rede social. A grande detonadora desta avalanche de passeatas tranca-rua que, em poucos dias, puseram em polvorosa todo este país de proporções continentais, de norte a sul! Em todas as suas tribos!
Tinha os de cabelo moicano. Tinha os de cabelos coloridos. De piercing. Caras pintadas! De oradores inflamados sobre o carro de som, à massa colorida em branco, verde, amarelo e outros matizes comprimida em volta, e ao longo da extensão da gigantesca avenida de quatro pistas, lá estavam eles urrando a plenos pulmões seus gritos de ordem: contra a corrupção! Contra a PEC 37! Por saúde, transporte e educação de qualidade!
Chegou um cavalo de Tróia! Não consegui fotografar da distância em que estava com meu grupo, lá na quarta pista, mas vibrei com a rapaziada pulando e correndo para clicar a sensação com a novidade!
Justiça seja feita: àquela altura do levante que apenas começava a tomar conta do Brasil, a eles já se juntara de ótima vontade as gerações detrás, das quais faço parte, entusiastas e pululantes como se tivéssemos retrocedido, nem que somente em fôlego e ideologia, aos anos vibrantes da nossa adolescência!
Lá estava eu de máscara de Anonymous e bandeira em punho. Apito a plenos pulmões! E fomos acompanhando a massa compacta e impressionante que principiava a sua marcha agora em meio a alarido ensurdecedor misturado a papéis picados chovendo aos magotes dos prédios altos que emolduram a importante via carioca, e ao estrondo de helicópteros cruzando os céus a toda, repórteres, artistas, jornalistas...
Fato histórico! Inesquecível!
Em Aracaju, meu pai, septuagenário, declara, eletrizado: lembra os meus tempos de 68, quando saí com cartazes nas ruas!! - Doido de vontade de voltar atrás no tempo! Não era para menos! Via repetir-se, inacreditável, e quando menos todos esperavam, o fenômeno social havido na época da Revolução, hoje presente nos livros de história!
Mas o que vivemos agora não é ainda o conteúdo imortalizado dos livros, porque está sendo escrito, todos os dias, a cada novo levante, em plena Copa das Confederações! A última ocasião a ser admitida como viável para acontecer uma revolta destas proporções no Brasil! Neste Brasil de há muito quieto, estranhamente letárgico, ao qual o mundo e nós mesmos nos víamos habituados - sem cobrar e reclamar da sucessão crescente e espantosa de absurdos e escândalos acontecendo no sistema político e social do país!
Sofrendo como rebanho dopado debaixo do efeito já tido como assegurado do pão e circo das ilusões do futebol e carnaval. A inércia, em muitos de nós, já se fazia asfixiante! E lançávamos, os mais lúcidos, o olhar desesperançado ao redor, para o gado dócil pastando em pleno charco fétido; e nos perguntávamos: será que ninguém acorda?!
Será que ninguém reage?!!
E, no meio da desolação, em muitas ocasiões, outro questionamento repetia-se, como eco pungente: e a juventude?! Onde foi parar a força dos jovens, dos estudantes, que presenciamos em levantes contra tantas mazelas sociais e humanas acontecidas não somente no nosso país, mas em todo o mundo?!
Mas, na era da globalização, em que por vezes nos aparenta ter, a humanidade, se calcificado num estilo de ser mecânico, frio, inumano, comentava-se que esta nossa juventude se alienara definitivamente diante da frieza das telas dos computadores!
- Jovens?! Eles não estão nem aí! Querem ficar as vinte e quatro horas do dia falando abobrinhas nas redes sociais, fechados em egoísmo, sem se ligar em nada, sem se preocupar com nada, nem com ninguém!
Que ledo engano, meus leitores!
É hora de se penitenciar!
É hora de aprender mais - e de se admitir que sempre podemos aprender! Também com os nossos filhos!
Com essas gerações rede social!
E digo com propriedade, porque tenho dois filhos, em fases diferentes da chamada adolescência! Uma mais nova, um mais velho! E, de público, quero confessar!
Quantas vezes não atormentei meu rapazinho com a preocupação mórbida a respeito dos excessos justamente com o uso das redes sociais?! Com o número de horas, que julgava excessivo, diante da tela do computador, achando, como muitos pais e mães certamente responsáveis, que nada de útil se extraí de uma tal overdose de web?! A
Angustiada e aflita, muito naturalmente, com os riscos que de fato existem - mas considerando que nada mesmo se aproveita de bom, numa modalidade de convivência que, a meu ver, seria fria e distanciada, nunca substituindo a qualidade da interatividade no nível pessoal, olho a olho!
E veio num rompante histórico a geração rede social em peso, atropelando todo mundo: políticos, nas suas agendas! Pais e mães preocupados! Mídia impressa e televisiva! Autoridades, intelectuais, do nosso país e do mundo! Para ensinar que, ao contrário do que talvez a maioria de nós pensávamos - nós, das gerações mais velhas, condicionados por conceitos talvez bem intencionados, mas emperrados em percepções em descompasso com a dinâmica da atualidade - eles estão articulados, sim!
Conectados com o mundo, sim! E, principalmente, preocupados com o que acontece ao redor e aos que os cercam, mais ainda!
Mesmo em se considerando que todo impulso altruísta parta, primeiro, de uma perspectiva egoística, meus amigos, essa garotada que está aí nos deu uma lição inesquecível, indelével, e não necessariamente inédita: não se engane pelas aparências, das pessoas ou das situações! Porque correm o risco de que não reflitam exatamente a realidade!
Nossos garotos e garotas foram para as ruas num levante maciço, devastador, irresistível - manifestaram o gigantismo do país adormecido em décadas de insatisfações engasgadas em ilusões improdutivas e em sofrimento! E mudaram em dias o que não conseguimos em décadas de meros murmúrios embalados por cerveja e carnaval! No "país da Copa"! No "país do samba"! Mas no que, de fato, isso nos levou à condição de povo feliz, num país com qualidade de vida digna, real?
E isso exige coragem! Isso exige abnegação!
Isso exige, sobretudo, amadurecimento, meus amigos!
Nossos garotos e garotas estão prontos!
Sejamos gratos! E que Deus os abençoe na sua missão, como seres humanos, e como brasileiros!
Já temos, neste país de tão falsos e poucos heróis, de quem nos orgulhar!...