A VOZ DAS RUAS II
Por Carlos Sena


Li um bom artigo na Folha de São Paulo acerca das invasões que tomam conta do Brasil. Li outro no Estadão, outros mais no Diário de Pernambuco. Evidentemente que todos muito bem escritos e igualmente dando diagnósticos sociológicos e políticos da “crise”. O que eu não vi em nenhum deles foi nos terem dito o que disseram antes dos fatos acontecerem. Algo que nos servisse de alerta acerca do que pudesse acontecer e o seu “porquê”. É nesse aspecto que a nossa imprensa metida a autoridade nas diversas áreas escorrega, literalmente “na maionese”. Explico: todo mundo está surpreso, inclusive alguns jornalistas que tem fama de preconizarem o futuro em suas colunas como se pitonisas fossem como fazem ostensivamente com a inflação. Agora que os jovens tomaram conta das ruas todo mundo encontra uma explicação. Na teoria todas elas ficaram bonitas. Falam da corrupção e da falta de compromisso dos políticos; dizem que a culpa é do PT, mas é também do PSDB, etc. Diferente dos artigos que lemos, queremos atrevidamente dizer que o que acontece hoje em nossas ruas já foi preconizado por Cazuza quando bradava em uma das suas lindas canções: “ideologia eu quero uma pra viver”... O que tomou esses jovens não foi senão isso (repito) a busca de uma ideologia pra viver, porque há pouco tempo boa parte deles vivia curtindo “na boquinha da garrafa” e outras baboseiras do axé, fank e Calypsos da vida. Porque certamente ainda não tinham despertado que viver vai muito além do que se vê; vai muito além da educação frouxa que seus pais lhes deram e até mesmo que cocaína é uma droga. Eles despertaram para que no futuro tenham vida digna e pertençam a um país decente que leve seu povo a sério. Os jovens, graças a Deus descobriram que eram ultrajados na sua cidadania. E que quem faz isso é o seu país via classe politica – esses que estão aí de rabo preso por roubo e negociatas mil com o nosso dinheiro – o mesmo dinheiro que falta pra saúde e para educação e para o transporte e outras coisas mais. Os jovens também descobriram que os três poderes constituídos da nação “jogam” na medida em que “se ajudam mutuamente” tanto no nepotismo quanto no surrupiamento dos direitos legítimos do povo. Dito diferente os nossos jovens estão nas ruas sem precisar pintar as caras, mas as mostrando para quem quiser e não quiser ver. Porque no fundo eles não se sentem representados pelos políticos. Os mesmos políticos que alguns deles e seus pais ajudaram a eleger porque se deixaram levar pelo riso fácil e pelas jogadas de Marketing políticos. Agora, diante da roubalheira, da violência e da insegurança que assola o país patrocinado pelos poderes constituídos, descobre-se que FATAVA IDEOLOGIA PRA VIVER. Diante dessa falta de esperança o caminho mais certo e legitimo é a rua, porque “a rua é do povo como o céu é do Condor”.
Pensando com meus botões fico refletindo: os jovens estão dando um banho nos mais velhos, pois descobriram em tempo que o país não tem partidos políticos, mas agremiações criadas para aglutinar interesses escusos.  Partidos, literalmente par-ti-dos. Paridos para nunca serem inteiros na seriedade, porque partidos eles se fortalecem no suborno, no conchavo, nas negociatas espúrias.
Portanto, não vi nos artigos que li acerca dessas invasões das nossas ruas pelos jovens esse viés acerca da atual crise. Vi sim, receitas prontas com requentadas teorias sociológicas que até estavam no limbo da ciência Sociológica. Talvez falte aos que estão no poder maior uma maior intimidade com as redes sociais, provavelmente porque a única rede que boa parte dos políticos conhece é a rede da corrupção generalizada de que fazem parte...