A ação brutal da policia em São Paulo

Uma intensa mobilização levou milhares de pessoas às ruas na cidade de São Paulo a protestar contra o aumento de tarifas de ônibus assim como por melhorias no transporte público. As manifestações têm atraído diversos perfis – estudantes, professores, idosos, taxistas, militantes, políticos e até curiosos com toda a movimentação.

Os protestos foram marcados por atos de violência da Polícia Militar contra manifestantes, repórteres e até mesmo pedestres que passavam pelos locais. Ficou evidente a absoluta desigualdade do aparato repressor da policia contra alguns manifestantes que depredaram patrimônios públicos e privados.

Durante vários dias, diversos atos de agressão foram constatados: jovens foram atingidos por bala de borracha, inclusive a curta distância. Muitas agressões verbais, cacetadas, bombas de efeitos morais e de gás foram desferidos contra os manifestantes em diversos pontos. Além disso, profissionais de imprensa ficaram feridos e alguns foram detidos durante a cobertura do protesto.

Conforme relata José Murilo em seu livro Cidadania no Brasil: o longo caminho; o histórico das policias militares estaduais, agravou-se durante o governo militar. Nessa época, os policiais foram postos sob o comando de oficiais do exercito e passaram por um processo de militarização no seu treinamento. Com a Constituição de 1988, tirou-se o controle do Exercito dos policiais, transferindo-o para os governos do estado. Contudo, ainda permanecem os resquícios da ditadura, através de um modus operandi militarizado.

Dentro de um espírito combativo, muitos desses policiais não percebem que devem proteger e garantir os direitos dos cidadãos. Mesmo a policia civil (p.212), age de forma inadequada dentro daquilo que é esperado em uma sociedade democrática. São inúmeras as denuncias feitas contra os policiais civis que variam desde práticas abusivas de autoridade, torturas de suspeitos dentro da delegacia, extorsão e corrupção.

Apesar da transição para a democracia no Brasil, a redução da violência policial ainda está em processo complexo e indefinido. Diversas estratégias de mecanismos de controle policial devem ser implementadas a fim de coibir práticas ilegais cometidas pelos policiais e aqueles que estão no seu comando.

O controle externo/interno da hierarquização e disciplinamento dos próprios policias devem passar por um processo de desmilitarização e reeducação das suas condutas predominantemente agressivas. Ademais, cabe destacar que a própria imprensa deveria ter um papel fundamental no acompanhamento e monitoramento dos policiais, para que a sociedade civil cobre das autoridades, medidas efetivas contra o uso da força excessiva dessa corporação.

Muitas dessas medidas ao serem colocadas em práticas, possibilitarão que os manifestantes através de suas reivindicações possam continuar exercendo o seu papel de cidadão ativo, buscando lutar por uma sociedade mais justa e igualitária através de uma democrática menos fragilizada por tamanhos atos de violência policial e pelo descaso do governo.

Referência

Carvalho, José de , 1939- Cidadania no Brasil: o longo caminho – 13 edição – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010