VELOCIDADE SEM FREIO

A rapidez de mudanças ocorridas com a modernização dos processos vivenciais, fruto da globalização e do capitalismo, deixou-nos a saudade perene de um passado seguro, onde podíamos fotografar bons momentos, com a lente de uma emoção sadia.

O progresso sempre foi e será bem-vindo, em suas múltiplas formas de desenvolvimento humano. Porém, ninguém se perguntou se a humanidade estava preparada para recebê-lo como surpreendente raio, partindo nossas perspectivas de vida e deixando profundas seqüelas sociais.

Dormimos por décadas e décadas, nos braços esplêndidos de uma vida tranqüila, onde o trabalho era sinônimo de estímulo e bem-estar; os valores morais eram repassados de geração à geração, e tínhamos tempo para o lazer, o fazer e a conquista de amizades reais.

De repente, até porque não nos tivéssemos apercebido de tal veloz evolução, acordamos sob o stress de uma acirrada competição profissional, prisioneiros da insegurança em nossos próprios lares e buscando relacionamentos, em telas de computadores. Fomos atirados indefesos, como simples marionetes, no palco de um egoísmo inaceitável e de uma ambição sem limites.

Mutilados de crenças, ofuscados por centenas de informações, pressionados pelo tempo e frustrados em nossos sonhos, seguimos no corre-corre desenfreado de todos os dias, engrossando o sangue que corre por nossas veias, rumo ao enfarte e doenças degenerativas ou crônicas.

A insônia nos recebe a cada noite, e saúda um novo dia de desânimo, com músculos doloridos e tensos, para enfrentarmos com estóica coragem, os danos físicos e morais, de um ambiente de trabalho competitivo, onde muitos parasitas sugam nosso suor, para se apresentarem como candidatos a uma promoção que, por questão de justiça, seria nossa.

É nesse rio de rápida correnteza, que somos obrigados a remar, até que a tão sonhada aposentadoria nos chegue, recheada de projetos e esperanças. Quantos sonhos e fantasias nela depositamos! Liberdade, liberdade, teu nome é UTOPIA! Quando ela nos chega, vem refletindo uma realidade espantosa, que nos remete ao passado.

Quantos anos nos degraus universitários! Quantas renúncias e esforços! Quantas indisposições e momentos de lazer, tivemos que esquecer, para prosseguirmos na conquista de nossas vitórias!

A desilusão nos invade e chega até nosso âmago. Alongamos o olhar até a estante repleta de livros - manancial do conhecimento necessário para atingirmos nossas realizações. O que fazer com eles agora? O tempo já os fez retrógrados.

Temos a plena consciência de que a vida continua e, que nela, teremos de nos enquadrar de forma igualmente ágil, para não ficarmos à beira da estrada, observando o entusiasmo daqueles que, como nós, trabalham incessantemente, para usufruírem dos bens de uma futura aposentadoria.

Esse é o tempo da reflexão e das opções. Podemos nos acomodar, cruzar nossos braços e deixar que a vida, por si só, nos conduza a algum lugar, ou podemos arregaçar as mangas e buscar nossos sonhos de volta. Desta vez, pisando em terra firme, até que o peso dos anos nos convença de que é hora de parar e colher o fruto das sementes que plantamos.

Ercy Fortes
Enviado por Ercy Fortes em 13/06/2013
Código do texto: T4339532
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