Aos pobres, sirvam insetos!
Depois que a ONU anunciou que a saída para diminuir a fome no mundo seria consumir insetos, eu pensei: Estou louca? Entrei em coma e ao acordar sou integrante de um reality show? O mundo mudou e eu sigo na era das cavernas? Nada disso, estamos em pleno século XXI e a maneira que a organização das nações unidas (ONU), uma das maiores e mais importantes entidades internacionais encontrou para assumir elegantemente que não há solução para a problemática da fome, foi essa bizarra declaração.
O mais impressionante é que assim que o anúncio foi feito, jornais do mundo todo correram para mostrar onde e como os insetos já são servidos no almoço, “vejam os espetinhos de escorpiões da China”, disse um jornalista americano, “Que tal um petisco de besouro?”, perguntou um brasileiro. Todos agiram com naturalidade e até com um certo tom de brincadeira, afinal, a fome está na África, não em seus países. É exótico comer baratas fritas, aranhas empanadas, durante uma viagem de férias até a Ásia, depois, voltamos para nosso arroz com feijão e carne. Sempre.
Me estranha muito e me causa revolta essa decisão da ONU, principalmente porque apesar de comer insetos, os chineses, os mais conhecidos no planeta a apreciar esse tipo de iguaria, também comem muita carne, macarrão, peixe e frango. A dieta alimentar desses povos não é restrita a excentricidade, eles admiram e muito esse tipo de prato, mas até mesmo lá, existem lugares onde não se come qualquer tipo de inseto. Quem já esteve no país ou admira a cultura daquele povo, sabe bem do que falo.
Pelo que entendi, do alto de sua sabedoria infame, a organização quer que as populações pobres, quase a totalidade dos países africanos, cultivem esse tipo de animais em casa, para facilitar o consumo e até a comercialização em alguns poucos casos. Mais difícil é cultivar animais e legumes, para isso, necessitariam de água, que na maior parte do planeta, ou está canalizada para atender os grandes centros, ou poluída pela exploração de minério e pedras preciosas.
Mas e os direitos humanos, onde ficam o respeito à saúde, ao bem estar, o direito a um alimento sadio? Não houve um questionamento sequer a esse respeito, e se houve, foi tão ínfimo que passou despercebido pela imprensa mundial. Como pode uma organização se calar diante de um fato tão ultrajante? Não fosse isso, como explicar que no sertão nordestino brasileiro famílias inteiras definham por falta de água, assistem a suas plantações e gado morrerem e são obrigadas a comer animais rasteiros para não terem o mesmo fim? Afinal, o sertanejo fica no sertão, o resto do país e seus ativistas, esses não.