Que vengam los cubanos

QUE VENGAN LOS CUBANOS!

Antônio Mesquita Galvão

O mundo inteiro sabe que a medicina de Cuba é uma das mais adiantadas e eficazes do planeta, seja no aspecto da clínica quanto na produção de medicamentos, vacinas, etc. A indignação do CFM (Conselho Federal de Medicina) contra a intenção do governo brasileiro trazer 6000 médicos de Cuba, situa-se mais na linha do corporativismo do que do interesse do povo, especialmente daquelas pessoas que vivem nas regiões ínvias do norte e nordeste, onde o atendimento médico é uma piada. Enquanto a demografia médica do Brasil é de 1,8 médicos por 1000 habitantes (dados 2011), em outros países, como Argentina e Chile esses números beiram os 4/1000. Enquanto no Rio há 3,6/1000 o índice no Pará e Amazonas é inferior a 1/1000.

A questão sobre os médicos cubanos é mais ideológica do que outra coisa. Sabemos que as elites brasileiras tem um medo-pânico com relação a tudo que se refira a Cuba. Elas temem uma “cubanização”, como se os médicos fosse agentes comunistas que viriam se infiltrar no Brasil para desestabilizar o sistema. Se a medicina cubana é de má qualidade, como se explica a saúde daquela população apresentar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), índices bem melhores que os do Brasil e comparáveis aos dos EUA? Na Europa e Oriente Médio, perto de 34% dos médicos são estrangeiros.

A vinda dos médicos cubanos deveria ocorrer sob contrato. Viriam prestar serviços nas regiões tais e tais. Caso contrário, os contratos seriam rescindidos e os vistos cancelados. Hoje temos uma distorção gritante dos que se formam em universidades gratuitas, e o governo não tem como obriga-los a atender as necessidades nacionais, criando cinturões de médicos nas capitais, em detrimento do interior. Eles ganham o estudo de graça e não admitem ser lotados onde haja reais necessidades. Há no Brasil uma grande "injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro aos brasileiros, e não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto não se aprova o projeto do senador Cristovam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes. Na semana passada, cerca de 300 prefeitos brasileiros pediram a contratação de médicos cubanos para prestar serviço em seus municípios.

Cuba, especialista em medicina preventiva, exporta médicos para 70 países. Graças a essa solidariedade, a população do Haiti teve amenizado o sofrimento causado pelo terremoto de 2010. Enquanto o Brasil enviou tropas, Cuba remeteu médicos treinados para atuar em condições precárias e situações de emergência. Há por aqui um temor de encarar a competência dos médicos estrangeiros.

Como ressalta Frei Betto, em um artigo recente, quem dera que, um dia, o Brasil possa expor em suas cidades este outdoor que vi nas ruas de Havana: "A cada ano, 80 mil crianças do mundo morrem de doenças facilmente tratáveis. Nenhuma delas é cubana”.