Poder da Memória na Construção e Desconstrução do Medo da Morte

Ao estudar paradigmas como o medo da morte, deparei com a memória a qual possui conceitos cruciais; ela surge nas ciências humanas. A memória como propriedade de conservação, retém em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas; graças às quais o homem pode utilizar impressões ou informações do passado.

Memória é uma palavra que veio do latim; memória em primeiro lugar é algo que não está em lugar algum, porque ocupa e preenche todos os lugares. (GUARINELLO, 1993, pp. 180-2)

A memória também pode ser entendida como uma reflexão sobre o passado, um debruçar sobre os vestígios; como afirma Henri Bergson (1994) a lembrança é a sobrevivência do passado. O passado conserva o espírito de cada ser humano, aflorando a consciência na forma de imagens lembradas. A sua forma pura seria a imagem presente nos sonhos e nos devaneios de uma memória construída.

Sendo ela uma forma de ação representativa. É no fundo um jogo dos sentidos possíveis nos quadros, mais ou menos indefinidos do tempo.

Porém não podemos considerá-la somente uma eterna repetição do mesmo, do idêntico a si. Ela é ação reflexiva, uma inquisição proposta ao tempo; ela pode ser a afirmação do próprio tempo, de sua eficácia transformadora. É uma reflexão sobre as mudanças na historiografia.

O conceito de memória por si só já é seletiva, ocorrendo um subjetivismo dos fatos; onde grande parte da historiografia é construída por um pequeno segmento de memória coletiva, um segmento que acaba se enquadrando em uma esfera de atuação e influência social relativamente limitada.

A produção historiográfica é um conjunto de pequenos segmentos da memória coletiva, o vinculo entre memória coletiva e história cientifica. O vínculo construído tem relação positiva, pois enriquece as representações possíveis da memória coletiva. Mas também pode ser vista sobre um ângulo negativo, porque a história cientifica se volta regularmente contra as representações produzidas pela memória “espontânea” da sociedade.

A memória coletiva é deste modo, um meio fundamental da vida social, uma das dimensões da ação coletiva e um vínculo de poder. Le Goff (1984) citado por Bergson (1994) afirma que a memória coletiva foi um importante elemento da luta das forças sociais pelo poder. A memória não é, portanto, um espaço homogêneo. No proceder da história, a história cientifica é o conjunto de produção social da memória que é analisada através de vertentes da historiografia contemporânea, que procura pensar tal relação; propagando uma total cisão entre memória e história, uma fusão completa das sociedades contemporâneas.

Contrariamente a memória coletiva foi proposta um jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Sendo notado uma grande preocupação em se transformar em senhores da memória e do esquecimento; algo de grande preocupação das classes, dos grupos e dos indivíduos que dominavam as sociedades ocidentais. No entanto os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores através dos mecanismos de manipulação da memória coletiva.

A memória é um instrumento de grande valor ao qual possibilitada percebermos, os grandes medos do Ocidente Médio. No entanto com a construção cientifica é visível às fraquezas da memória, com os esquecimentos forçados pelo acaso da preservação.

Os conflitos e imagens criadas na Idade Média a respeito da morte levam os indivíduos a um nível metafórico de perturbação, na perca de indivíduos de forma voluntária ou involuntária, a memória coletiva se determinava por uma perturbação de identidade coletiva, onde ambos alimentavam do medo e da dor, os quais pouco tinham a esperança de um “novo amanhã”.

Por essas vias, Halbwachs (1984) amarra a memória individual e a memória dos grupos. No entanto a memória é uma tradição coletiva que envolve toda uma sociedade, onde as convenções verbais são propriamente ditas, a forma de produção de uma sociedade que constitui o quadro ao mesmo tempo mais elementar e mais estável da memória coletiva.

Sobre os estudos da morte, podemos ver a contribuição da memória, em diversas formas que engloba todas as comemorações ritualísticas dos defuntos, como procissões funerárias, aniversários dos mortos, celebração litúrgica dos mortos; fosse ele um morto comum ou um morto especial, ou seja, um “santo”. (DELUMEAU, 1989)

O poder da memória não se limita na comemoração dos defuntos, elas os tornam presentes através de palavras como o nome.

Sob diversas formas a memória é fundamental para compreendermos os medos das sociedades humanas, pois é possível abordarmos inúmeros sentidos de uma memória que transmitia aos indivíduos as práticas e formas de rituais litúrgicos.

A memória para Santo Agostinho (1990) representa a maior faculdade intelectual e a chave da relação entre Deus e o homem.

Estas analogias monásticas continuam exercendo grande influência durante a Idade Média, no entanto a memória ocupa um lugar central na cognição humana, mas de maneira diferenciada entre os indivíduos.

Mas quando falamos em faculdades não podemos deixar de destacar as faculdades da alma, sendo uma delas a memória, cujo papel é de englobar as múltiplas questões com relação à imortalidade do individuo e sua responsabilidade que em meio as complexidade acaba-se confrontando com um dos aspectos fundamentais da memória o esquecimento que é atribuído ao homem por diferentes razões que se define ao meio. (AGOSTINHO, 1990)

Notavelmente a memória desempenha o papel de construção do medo da morte, algo transmitido através da cultura, do cristianismo e da sua injunção eucarística, que tem relação dicotômica entre sagrado e profano; ideais que predominaram a existencial humana.

Diante dos comportamentos que homem tem perante a morte, podemos entender que suas reações com relação ao medo de morre pode ocorrer vários, dependendo do seu relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a igreja, com a profissão; enfim com os grupos de convívio e os grupos de referencia peculiares a esses indivíduos e a própria sociedade.

A memória tem o poder de fundamentar as tradições de uma cultura, como produto social que liga a reprodução da sociedade organizada e que reproduz constantemente as repetições, ou seja, o caráter de unificação, representado de forma simbólica nas festas cívicas ou populares, nos ritos religiosos ou nos rituais de passagem da vida para a morte.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 16/05/2013
Reeditado em 16/05/2013
Código do texto: T4294315
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