JOVENS - GRUPO DE RISCO

Amélia vê a filha entrar em casa depois de 48 horas sem dar noticias. Sente um alívio seguido de um ódio violento, mas desta vez decide não fazer perguntas. Vai até o quarto. Olha e vê Joice, 15 anos, deitada. Parece cansada. Sem palavras.

Joice é a filha mais nova de Amélia, que tem mais dois: Douglas, 38 anos e Felipe, 35. A “caçula” foi uma novidade depois de um tratamento de saúde. Motivo de alegria para família.

O pai, Aldair, morreu três anos depois do nascimento da menina. Com o tempo, os rapazes casaram e Joice passou a ser a motivação de Amélia.

A vida seguiu seu curso, a menina estudava, ajudava nas tarefas de casa e alegrava a vida da mãe. Porém, depois que completou 13 anos, Joice mudou. Aos poucos a doce menina passou a responder a mãe de forma agressiva. Amélia até que tentou justificar e pensou ser “Coisa da idade” que com o tempo passaria, assim como foi com os filhos mais velhos. Mas, não foi o que aconteceu.

O tal tempo descortinou a progressiva piora da relação mãe e filha. Joice passou a chegar tarde em casa; passou a ser vista em más companhias e o temor das drogas tornou-se realidade. Amélia apelou para psicólogos, tentativas de diálogos, castigos... E nada resolveu. Agora, a filha é uma estranha em casa e a mãe não sabe o que fazer.

A realidade descrita é cada vez mais recorrente na sociedade atual. Vários estudos e pesquisas são realizados e todos propõem soluções que, na prática, não surtem efeitos na maioria das vezes. O choque de gerações nunca mostrou tantas diferenças como os de hoje. Logo na geração da informação, da informática, do DNA e das derrubadas de barreiras?

Livres (?)

A cada dia os jovens buscam mais uma tal liberdade sem limites, especialmente no que tange a família. Já os pais que sofrem com a falta de tempo, devido ao trabalho, em muitos casos tentam compensar com comportamento mais liberal: "De fato hoje os pais têm menos tempo disponível para os filhos, o que gera sentimento de culpa. Os excessos são observados quando pai ou mãe agem de forma extremamente permissiva, ou são exigentes demais e tornam os poucos momentos de união cheios de cobranças", explica Carolina Nikaedo, psicóloga da Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico (Edac), de São Paulo. Geraldo Possendoro, professor de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chama a atenção para a atitude que alguns pais têm atualmente: "Cada vez menos dizem 'não' aos filhos. A família não estabelece limites, da infância à adolescência".

Vulnerabilidade

Um recente estudo na ONU diz que: “O Brasil tem 17,9 milhões de habitantes entre 15 e 19 anos”, que sem os limites necessários para sua formação, se expõem cada vez mais a situações de perigo. Basta ver os gráficos da violência nos Centros urbanos: “O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial em mortes de jovens por homicídios e outras violências (48,6 por 100 mil jovens), tornando-os o principal grupo de risco da atualidade. São adolescentes e adultos jovens, do sexo masculino [...] residentes em áreas pobres e às vezes periférica das grandes metrópoles, de cor negra ou descendente dessa etnia, com baixa escolaridade e pouca ou nenhuma qualificação profissional" diz M. C. Souza Minayo.

Por um futuro

Não há como discutir o comportamento do jovem moderno sem olhar para as mudanças na família. Assim como não há como debater a violência sem olhar para os detalhes que indicam o inicio de um comportamento delinqüente. Infelizmente os muitos estudos sobre o caso ignoram a necessidade que o jovem tem de ser parte de um plano familiar em que os pais têm papel fundamental com atenção e amor.

Ainda que este amor seja instrumentalizado em limites que, na maioria das vezes, não serão entendidos. Medidas que não “envelhecem” com o tempo, nem são prerrogativas de uma geração.