Raízes da Família

RAÍZES DA FAMÍLIA

Quando o homem das cavernas abriu os olhos para o mundo, estava dentro de uma família. De lá para cá o agrupamento social experimentou fases etapas e evoluções, mas sempre guardou em si aquela estrutura inicial de dois seres – um homem e uma mulher – que se dispõe a fundar uma sociedade de pessoas, com base em sentimentos, valores e hierarquias. Incluída na gemeinschaft de F. Tönnies, a sociedade familiar se inicia a partir do desejo de “viver juntos, de modo íntimo, privado e exclusivo”. Esse tipo de comunidade é sociologicamente caracterizada por uma união, por um acordo de sentimentos ou emoções entre pessoas de sexos diferentes. Embora os modernismos atuais preconizem famílias compostas por dois homens ou duas mulheres, eu prefiro me ater ao modelo bíblico, onde/quando Deus criou homem e mulher, “macho e fêmea os criou...”.

A moderna família ocidental é fruto do urbanismo desencadeado a partir do século XVIII, no início da chamada “revolução industrial”. A transformação da aldeia rural em vila e depois em cidade, provocou modificações na constituição familiar, ocasionando mudanças, também no ethos de seus componentes. Deste modo, a família é tida como o grupo social primário, principalmente pelo fato de ser fundamental na formação da natureza social e dos ideais do indivíduo. Na família, como celula-mater, a evolução ocorre sempre resguardando um paradigma, de onde, mesmo avançada, a sociedade pode haurir os verdadeiros valores.

Os escritos mais rudimentares, colhidos junto à pesquisa arqueológica, são unânimes em apontar a família como primeira instituição social. Mesmo antes de qualquer vínculo oficial ou religioso, já se encontra referências a respeito de homens e mulheres que se atraíram (seja por instinto e/ou afeto), procriaram e passaram a uma vida em comum.

No mestre T. Bottomore, grande especialista das ciências humanas, vamos encontrar bons fundamentos sobre essa doutrina: “A estrutura social é um dos conceitos centrais da sociologia, mas não é empregado com coerência ou sem ambigüidades. A estrutura de uma sociedade começa - fato inegável sob os aspectos sociológicos, psicológicos e antropológicos - na família, onde dois seres se unem para dar curso, através do sentimento e do compromisso solidário, a uma nova fase da história de suas vidas”.

Os antropólogos acentuaram coerentemente as funções sociais da família nas sociedades primitivas. O laço entre o pai e a mãe não é apenas, nem de forma predominante, o privilégio sexual concedido aos esposos, mas desponta como força-vínculo capaz de dar a todos os membros a segurança capaz de forjar o caráter e a personalidade das pessoas, e em especial, dos mais jovens. A família, então, passa ser um núcleo, distintivo e constitutivo, no seio da sociedade. Uma sociedade se faz com famílias.

Como ensina R. H. Lowie, “A família individual, nuclear, é um fenômeno social universal. Não importa o tipo, a constituição jurídica nem a duração das relações maritais; o fato que se destaca, entre tantos outros, é que em toda a parte, o marido, a mulher e os filhos pequenos, constituem uma unidade básica, à parte do restante da comunidade, porém, diretamente integrada a ela”. (In: Primitive Society, Londres, 1926).

Embora a análise sociológica se limite à mera descrição de fatos sociais, torna-se importante observar - e isso veremos adiante no campo da psicologia - que o indivíduo, uma vez constituído, seja pela união marital seja pelo nascimento - e até pela adoção, no grupo familiar, a ruptura desse vínculo é capaz de acarretar danos físicos, morais e comportamentais, de toda ordem. Rompida a linha afetiva do indivíduo das suas raízes familiares, independente do dano psíquico, ele passará a apresentar uma conduta social inadequada, distante dos padrões éticos normais e, sobretudo, no que tange à sua anti-sociabilidade.

Ainda nesse aspecto, antes de passarmos para o tópico seguinte, é interessante consignar algumas funções básicas da família. Segundo A. Etzioni, elas se inter-relacionam entre si e, como tal, não podem ser descuidadas, sob pena de prejudicar o desempenho orgânico do grupo familiar e social.

funções biológicas funções sociais funções psicológicas

reprodução convívio satisfações

de higiene solidariedade afetivas

sexuais manutenção de segurança

culturais e status

Para que se harmonizem as relações em uma família, todas essas funções devem ser consideradas como prioridade constitutiva dos seres que a compõem. A desconstrução da problemática social passa por essa harmonização.

O autor é, junto com a esposa Carmen, especialista em família, atuando em encontros, cursos de noivos, terapias de aconselhamento e seminários para casais. Escritor, com mais de cem obras publicadas, entre elas “Quer casar comigo?” (Ed. Paulinas, 1983), “A família Modelo” (Ed. Loyola, 1986) e “A casa sobre a rocha” (Ed. Vozes, 2ª. edição, 1996): "Vivência e convivência" (Ed. O Recado, 2013).