Aterro de Seropédica: solução que virou problema

Quase dois anos após a inauguração do aterro sanitário de Seropédica, prejuízos provocados pelo empreendimento podem ser percebidos, tanto por moradores quanto pelos órgãos responsáveis pela fiscalização. Esses problemas geraram várias multas para a Ciclus, empresa que administra o centro de tratamento de resíduos. O motivo das penalidades é o não cumprimento de alguns requisitos obrigatórios para o bom funcionamento do aterro, como a construção de um lugar para tratar do chorume e a construção de um cinturão verde.

Algumas irregularidades são apontadas pela professora Tatiana Cotta, do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ela conta que além do local escolhido, em Santa Rosa, Chaperó, estar sob proteção ambiental e ser um solo arenoso, relatórios contrários apresentados, inclusive pela Ciclus, foram suprimidos pelas autoridades municipais para que o aterro fosse instalado. Outras tecnologias mais avançadas não chegaram a ser discutidas, como a transformação do lixo em combustível para ônibus.

Hoje, segundo a professora, a empresa que administra o aterro leva o chorume para Niterói. Essa substância quando não tratada traz grande mau cheiro. Tatiatana Cotta diz que como não é possível tratar a quantidade total deste resíduo nesse município, há relatos de que o resto vem sendo despejado em plena Baia de Guanabara

Outros problemas foram aparecendo com o tempo, principalmente para população que vive perto do aterro. Animais peçonhentos são atraídos pelo lixo e o mau cheiro. Problemas respiratórios tornaram-se mais frequentes na população devido ao aumento do movimento dos caminhões que transportam cerca de 30 mil toneladas semanais – só da cidade do Rio de Janeiro – por uma estrada sem pavimentação, até o aterro.

A presença de moscas varejeiras também é comum, levando a empresa a distribuir à população remédios contra os insetos. Relatos feitos por moradores à professora dizem que toda noite um funcionário do aterro solta fogos de artifício para espantar os urubus do local.

Ainda segundo moradores, a água que a população costuma pegar em um poço da região sofreu alteração no sabor desde o começo do funcionamento do aterro, levantando a hipótese de uma possível contaminação do lençol freático. A desvalorização dos imóveis é outro problema, já que as pessoas não conseguem vendê-los devido à localização e ao frequente mau cheiro do local.

O aterro não afeta somente os que vivem às proximidades do terreno. De acordo com Tatiana, uma empresa à cerca de 10Km tem que usar artifícios contra as moscas varejeiras, principalmente no refeitório. Alunos que vêm de Itaguaí para a UFRRJ já sentem o mau cheiro do aterro na estrada que liga os dois municípios. A localização da fazenda é quase na divisa entre Seropédica e Itaguaí.

Alguns pontos positivos são destacados pela professora como benefícios tributários e o ICMS ecológico. A economia é outro ponto positivo, principalmente para os empreendimentos da região, devido ao aumento da circulação de trabalhadores do aterro sanitário, que necessitam de hotéis e alimentação.