Mulheres que amam demais.
Por Carlos Sena


 
Podemos pensar: mas, amor pode ser demais? Pode e é como normalmente acontece com algumas mulheres. Com alguns homens, certamente. O diferencial é a forma de expressão da demasia do amor. O amor é um dos sentimentos humanos que mais nos causa perplexidade: por sua grandeza e por sua complexidade e, também, pela sua simplicidade. Ele é grande na medida em que todos querem viver um grande amor; ele é complexo porque sendo singular é cheio de pluralidades e é simples porque se faz e se refaz nas formas mais simples do comportamento humano.
Talvez um dos  seus grandes mistérios seja o tamanho do amor. Porque não se deve amar de mais nem de menos, mas apenas e simplesmente na medida certa. Há estudos que provaram que a maioria das mulheres que buscaram ajuda psicanalítica porque não sabiam mais viver sozinhas, o fizeram porque amaram demais. Como esses estudos foram focados mais nas mulheres, por isso intuo que não seja tão diferente em relação aos homens. O que se tem que compreender, talvez, é o ponto certo do amor, ou seja, o seu limite entre amar pouco ou amar de mais. Amar na medida certa, seria isso que talvez precisássemos compreender e, mais que isso, por em prática.
A pessoa ama demais quando se esquece de si. Ama demais quando faz da vida do outro a sua própria vida. Quando deixa de ter amigos, quando não vai ao cinema sozinho (a), quando tudo é colocado na mão ou nos olhos ou nos cinco sentidos do ser amado. Já nos diz uma canção que “O amor é um grande laço, um passo pra uma armadilha, tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha”... Um pouco disso, talvez. Mas, a rigor, amar demais é deixar-se de amar no “varejo” e “no grosso” viver a vida do outro como se ele ou ela fosse. Descobrir esse ponto de equilíbrio é uma tarefa que ninguém, exceto os amantes, poderão encontrar. Ninguém que estiver fora da relação pode ajudar, pois em nada irá ajudar nesse processo. Processo: essa é a palavra certa, acredito. Por ser processo, supõe-se que seja construção a dois em que ambos, conscientemente ou não, estejam dispostos a buscas o ponto de equilíbrio que leve as pessoas a nunca se sentirem, numa relação, amando demais.
Assim, amar na medida certa não depende de nenhuma “receita de bolo”; nem da Psicologia fajuta que geralmente os programas vespertinos de TV costumam, popularescamente, desfolhar. De algumas coisas, algumas certezas: quem se ama,  quem se respeita, quem respeita o outro, quem sabe acerca dos limites entre duas pessoas, quem respeita a individualidade do outro, quem sabe o valor do companheirismo e da sua liberdade, certamente já tem um bom caminho andado para alcançar a medida certa do amor: nem de mais nem de menos. Apenas o amor. Apenas o olhar no olhar, o toque no toque, o sentir no sentir.