Mudar o mundo de alguem

Em uma noite fria, dessas em que o frio chega a doer, e a chuva vem pra deixar tudo congelante, cheguei a rodoviária a espera de minha condução.

Já era noite, vi um homem deitado no chão. Ele tremia tanto que impressão que tive era que ele estivesse tendo alguma crise.

Aproximei-me e perguntei se estava tudo bem.

Ele assustado levantou a cabeça, e falou, quase sussurrando “O ladrilho que está muito gelado”.

Ele tremia de frio.

Naquele momento eu me senti péssima, inútil, fútil.

Como ia viajar levava comigo lanches. No qual entreguei a ele. Ele me agradeceu, levantou e comeu com tamanho gosto que eu comecei a chorar.

Era um simples pão com presunto. E a ele se fez baquete.

Voltei em casa, peguei um cobertor, mais alguns lanches e rezei com toda minha fé para que ele ainda estivesse ali. E estava.

Sem mexer nele o cobri, no qual ergueu a cabeça e começou a chorar. Foi quando eu ouvi uma das historia mais triste da minha pequena vida.

Disse que não sabia como me agradecer, que a noite passada havia tentado se esconder em um banheiro público de outra cidade, e alguns policiais o achou, bateu e o colocou pra fora. Em pranto me disse que não estava fazendo nada. Apenas tentando se esconder da chuva e do frio.

Perguntou-me, “Por que eles fizeram isso” me mostrando os pontos na cabeça.

Senti-me um lixo. E disse que não sabia, (e eu realmente não sei), mais que Deus havia visto tudo. Eu só pude chorar, e segura às mãos dele.

Falou-me que perdeu pai e mãe muito cedo. Sem família caiu no mundo.

“Nunca roubei, matei, bebo minhas pinga, mais não faço mal a ninguém. Eu não incomodei a senhora. Não foi? Eu estava aqui quietinho. E você como anjo de Deus veio me ajudar. Sabe dona tem cachorro que tem mais que eu. Tem casa, comida, valor. Eu não tenho nada. Me diz, fala onde ‘ocê’ mora que eu amanha te devolvo”. Essa fala ficou marcada em minha mente.

A vontade que eu tinha era de poder dar a ele uma vida boa, algum valor. Mais não pude. Falei que o cobertor era dele e que havia comida na sacola. Dei um dinheiro no qual ele jurou não usar com bebida, jurou me mostrando os remédios que estava tomando para não inflamar os pontos.

Despedi-me aos prantos. E ele voltou a deitar, já não tremendo tanto.

Foram os minutos mais longos da minha vida.

Embarquei a São Paulo, deixando meu coração ali. Percebi que sou rica. E pude ver claramente como o mundo está mesquinho, individual e amargo.

Como os policiais puderam ter tal ato?

Como tantas pessoas passaram por ali e “não o viu”.

Este cobertor e os lanches não me deixaram mais pobre.

Mais o deixou mais aquecido.

Esta na hora de começar a enxergar as pessoas como seres vivos.

Parar de achar normal mendigo, crianças em sinais.

Não você não ira mudar o mundo.

Você mudara o mundo de alguém.

Biatrice Bindi
Enviado por Biatrice Bindi em 25/03/2013
Código do texto: T4207521
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