Domésticas, “bons” tempos.
Por Carlos Sena
O mundo moderno tem avançado nas relações de trabalho. A empregada doméstica no modelo do passado está com os dias contados. Isso é bom e alvissareiro, diante de um país que ainda não se livrou do ranço do autoritarismo tão cultivados pelos senhores de engenho do nosso período colonial. Lembrando que até pouco menos de Cinquenta anos Bom Conselho e Limoeiro – cidades do interior pernambucano – eram comandadas pelos últimos coronéis destas bandas: José Abílio Ávila e Chico Heráclito. Eles eram símbolo de um tempo em que empregada doméstica era uma escrava estilizada, pouco diferente das escravas propriamente ditas. Suas casas, normalmente eram mantidas nos trinques por mulheres vindas das fazendas e dos sítios, mesmo da cidade, mas que trabalhavam como boi de carga em troca de um prato de comida ou de outros favores como um enterro de um parente, tirar um familiar da cadeia, etc. Passada essa fase, temos hoje algumas leis que protegem os empregados domésticos, mas que não estão completas, pois lhes falta a completude de direitos que alcança os demais trabalhadores.
Segundo se noticia os empregados domésticos passaram a ter todos os direitos dos demais trabalhadores, inclusive hora extras. Penso agora as dondocas vão se lascar; também alguns novos ricos que massacram as empregadas, também vão se lascar. Da mesma forma vão se lascar os filhinhos de papai que são dependentes da empregada pra tudo, porque os pais são omissos e acham que um filho lavar uma cueca, fritar um ovo, fazer um arroz, etc., tornam alguém menos homem ou menos mulher. Grande maioria desses patrões, embora já pagando o salário mínimo se acham os melhores do mundo e, em troca disso praticam “escravidão” disfarçada na medida em que obrigam as empregadas a ficar além do horário e fazer atividades que não estão no seu nível de competência. Certíssimo que temos patrões exemplares – não desses que falamos. Estamos aqui fazendo loa a dignidade do trabalho e do trabalhador e enaltecer que respeitar o outro é obrigação de todo ser humano independente do que ele faça como atividade laboral. Geralmente os empregados domésticos são culpados do que some em casa e, não raro, ainda são assediados sexual e moralmente pelos membros da família.
O Congresso Nacional está em vias de aprovar a igualdade dos domésticos as demais trabalhadores. E agora? Devem estar perguntando alguns. O que faremos com esse “povo” cheio de direitos? E eu respondo despretensiosamente: tem empregado doméstico quem pode! Isso é um luxo que quem puder ter que tenha e quem não, administre. Administrar isso é fácil: dividir as tarefas da casa! Quem sujou limpe. Cada membro da família dobre sua roupa de cama, varra seu quarto e arrume seu guarda roupa. Algumas atividades maiores e mais pesadas? – Ora contrata uma diarista por semana e se resolve a maioria dos problemas, desde que a família desperte que em comunidade todos tem que contribuir com o ambiente que é de todos, principalmente sendo família. Outra dica? Aprendam a congelar. Aprendam a economizar com futilidades como vestidos caros, camisas, sapatos, etc., considerando que os guarda-roupas estão cheios de roupas e sapatos que nem sempre são usados. Vaidade? Tem quem pode. Quem não pode se sacode ou paga o preço de ter uma empregada em casa. Só que essa que está por vir tem hora de entrar e sair e se passar de sua hora habitual de trabalho você vai pagar hora extra. Achou ruim? Uma dica: está provado que as atividades domésticas são um grande aliado de quem quer perder calorias. Lavar roupa, lavar o carro, o banheiro, etc., são salutares pra saúde e não mata ninguém.
Algumas pessoas dizem que agora as empregadas vão ter o mercado de trabalho reduzido. Pode ser. Mas a maioria delas está deixando de ser doméstica, está estudando e partindo para o comércio e para a indústria, ou mesmo trabalhando como serviços gerais em firmas terceirizadas nas empresas. Nos países europeus e americanos, empregado doméstico é luxo. Lá as leis trabalhistas são mais rigorosas do que as nossas. Mas lá, justiça se faça, os pais educam os filhos para serem solidários na manutenção da casa. No nosso Brasil eu quero ver certos pais que não tem moral para mandar um filho ir à padaria comprar o pão, agora quererem que eles arrumem seus quartos e lavem suas cuecas ou calcinhas. Imaginem lavar um banheiro ou sujar o chão que eles mesmos sujaram, pois só veem televisão com um prato na mão ou um copo de bebida.
Insisto: empregado doméstico é luxo. Há muita gente por aí que paga o salário da empregada sempre um dentro do outro. O 13º salário? Esse se arrasta o ano inteiro e, não raro, só é pago quando da demissão do empregado intermediada pelo sindicato da categoria.
O outro lado dessa moeda é igualmente verdadeiro: o mercado de empregado doméstico vai ficar mais fechado, pois eles terão que se capacitar para poder não cometer os erros do passado. Os sindicatos terão que se esmerar no sentido de que seus associados tenham nova visão das suas atribuições e que, ao assumirem um novo emprego dentro das novas regras que virão, aprendam a não se meter na vida dos patrões, a não ser guardiões de fofocas familiares e, acima de tudo, a não se permitir aos assédios morais e sexuais que, não raro, contavam com o beneplácito de ambos.
Por Carlos Sena
O mundo moderno tem avançado nas relações de trabalho. A empregada doméstica no modelo do passado está com os dias contados. Isso é bom e alvissareiro, diante de um país que ainda não se livrou do ranço do autoritarismo tão cultivados pelos senhores de engenho do nosso período colonial. Lembrando que até pouco menos de Cinquenta anos Bom Conselho e Limoeiro – cidades do interior pernambucano – eram comandadas pelos últimos coronéis destas bandas: José Abílio Ávila e Chico Heráclito. Eles eram símbolo de um tempo em que empregada doméstica era uma escrava estilizada, pouco diferente das escravas propriamente ditas. Suas casas, normalmente eram mantidas nos trinques por mulheres vindas das fazendas e dos sítios, mesmo da cidade, mas que trabalhavam como boi de carga em troca de um prato de comida ou de outros favores como um enterro de um parente, tirar um familiar da cadeia, etc. Passada essa fase, temos hoje algumas leis que protegem os empregados domésticos, mas que não estão completas, pois lhes falta a completude de direitos que alcança os demais trabalhadores.
Segundo se noticia os empregados domésticos passaram a ter todos os direitos dos demais trabalhadores, inclusive hora extras. Penso agora as dondocas vão se lascar; também alguns novos ricos que massacram as empregadas, também vão se lascar. Da mesma forma vão se lascar os filhinhos de papai que são dependentes da empregada pra tudo, porque os pais são omissos e acham que um filho lavar uma cueca, fritar um ovo, fazer um arroz, etc., tornam alguém menos homem ou menos mulher. Grande maioria desses patrões, embora já pagando o salário mínimo se acham os melhores do mundo e, em troca disso praticam “escravidão” disfarçada na medida em que obrigam as empregadas a ficar além do horário e fazer atividades que não estão no seu nível de competência. Certíssimo que temos patrões exemplares – não desses que falamos. Estamos aqui fazendo loa a dignidade do trabalho e do trabalhador e enaltecer que respeitar o outro é obrigação de todo ser humano independente do que ele faça como atividade laboral. Geralmente os empregados domésticos são culpados do que some em casa e, não raro, ainda são assediados sexual e moralmente pelos membros da família.
O Congresso Nacional está em vias de aprovar a igualdade dos domésticos as demais trabalhadores. E agora? Devem estar perguntando alguns. O que faremos com esse “povo” cheio de direitos? E eu respondo despretensiosamente: tem empregado doméstico quem pode! Isso é um luxo que quem puder ter que tenha e quem não, administre. Administrar isso é fácil: dividir as tarefas da casa! Quem sujou limpe. Cada membro da família dobre sua roupa de cama, varra seu quarto e arrume seu guarda roupa. Algumas atividades maiores e mais pesadas? – Ora contrata uma diarista por semana e se resolve a maioria dos problemas, desde que a família desperte que em comunidade todos tem que contribuir com o ambiente que é de todos, principalmente sendo família. Outra dica? Aprendam a congelar. Aprendam a economizar com futilidades como vestidos caros, camisas, sapatos, etc., considerando que os guarda-roupas estão cheios de roupas e sapatos que nem sempre são usados. Vaidade? Tem quem pode. Quem não pode se sacode ou paga o preço de ter uma empregada em casa. Só que essa que está por vir tem hora de entrar e sair e se passar de sua hora habitual de trabalho você vai pagar hora extra. Achou ruim? Uma dica: está provado que as atividades domésticas são um grande aliado de quem quer perder calorias. Lavar roupa, lavar o carro, o banheiro, etc., são salutares pra saúde e não mata ninguém.
Algumas pessoas dizem que agora as empregadas vão ter o mercado de trabalho reduzido. Pode ser. Mas a maioria delas está deixando de ser doméstica, está estudando e partindo para o comércio e para a indústria, ou mesmo trabalhando como serviços gerais em firmas terceirizadas nas empresas. Nos países europeus e americanos, empregado doméstico é luxo. Lá as leis trabalhistas são mais rigorosas do que as nossas. Mas lá, justiça se faça, os pais educam os filhos para serem solidários na manutenção da casa. No nosso Brasil eu quero ver certos pais que não tem moral para mandar um filho ir à padaria comprar o pão, agora quererem que eles arrumem seus quartos e lavem suas cuecas ou calcinhas. Imaginem lavar um banheiro ou sujar o chão que eles mesmos sujaram, pois só veem televisão com um prato na mão ou um copo de bebida.
Insisto: empregado doméstico é luxo. Há muita gente por aí que paga o salário da empregada sempre um dentro do outro. O 13º salário? Esse se arrasta o ano inteiro e, não raro, só é pago quando da demissão do empregado intermediada pelo sindicato da categoria.
O outro lado dessa moeda é igualmente verdadeiro: o mercado de empregado doméstico vai ficar mais fechado, pois eles terão que se capacitar para poder não cometer os erros do passado. Os sindicatos terão que se esmerar no sentido de que seus associados tenham nova visão das suas atribuições e que, ao assumirem um novo emprego dentro das novas regras que virão, aprendam a não se meter na vida dos patrões, a não ser guardiões de fofocas familiares e, acima de tudo, a não se permitir aos assédios morais e sexuais que, não raro, contavam com o beneplácito de ambos.