Afasta de mim esse ‘Cálice’
Esse ano o Brasil comemora 28 anos sem a ditadura militar brasileira, período negro na história do nosso país. Em 85 o fim do militarismo consolidou um momento de liberdade, liberdade de expressão, de justiça, de “movimento”. Em 88 com a criação da Constituição passou a ser lei essa tal liberdade, que tanto lutamos para conseguir, mas será que ela realmente existe?
Hoje o que mais ouvimos, vemos e presenciamos, desde o que prega a mídia até o que o corre na boca das pessoas é a história do respeitar opiniões “respeite a minha que respeito a sua”, isso é fabuloso. Deixamos o absolutismo narcisista para acreditar num comunismo democrático. Isso soa lindo nos ouvidos alheios, mesmo podendo ser entendido como uma forma de se acomodar perante a tudo e todos – o que é triste, porém necessário para quem quiser ter boa convivência em sociedade e não criar inimigos sem nem mesmo conhecê-los direito – é horrível quando julgam sem saber o que a outra pessoa, realmente, quis dizer, e pior ainda, é totalmente injusto quando não há permissão de explicar aquilo que ficou como errado sem nem mesmo entender o verdadeiro significado.
Após toda essa transição de leis que existiu entre os anos de 85 e 88 houveram várias delas que ampararam a questão de liberdade, principalmente a de expressão, como por exemplo, o Art. 39 da Constituição que fala sobre a regulamentação da comunicação social, onde traz consigo que os meios de comunicação asseguram sobre o direito à informação e a liberdade de imprensa, além da possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião, dentre vários outros segmentos que amparam esses meios (a alínea está disposta na íntegra pela internet). Portanto uma mídia impressa ou digital tem total alvedrio de se expressar, com restrições é claro – afinal, temos bom senso –. Contudo, mesmo com todas essas definições e regulamentações que defendem essa tal liberdade, ela não é, totalmente repeitada ou utilizada. Quantas vezes você não deixou de falar alguma coisa com medo de ser repreendido? E a quantidade de vezes que não fez algo por medo de ser julgado, mesmo sabendo da existência de tudo isso que defende sua opinião? O fato de estar sendo diferente em algo ou tentar fazer o que nunca fez lhe trás uma insegurança, um medo que ao mesmo tempo te inibe de agir de certo modo, assusta o próximo e a si mesmo, então se formos analisar bem no fundo não utilizamos dessa liberdade tão pregada dentre o meio social, muito menos ela é respeitada. Porém, mesmo com todos esses meios “degenerativos” de extinguir a opinião ainda existe quem as defende com unhas e dentes, assim como existem aqueles que se influenciam com tudo que ouvem. Não têm opinião própria e ainda pior, julgam sem nem mesmo entender o porquê de estarem julgando. Seria isso uma “fé cega”? Algo há se pensar.
Por fim é bom lembrar que estamos passando apenas um momento aqui nesse lugar e que tudo que fizermos, a forma como um dia pensamos e agimos irão ser apagada com o tempo, não queira que a sua se apague assim, um dia depois da sua inexistência, seja mais persistente em suas opiniões, acredite mais em você mesmo, mostre a todos que você tem voz e pensamentos críticos, afinal é seu direito. Não se cale por pensar diferente. Na maioria das vezes tentarão te repreender e deixá-lo com medo, mas saiba que tem direitos e que são vigorados por leis que regulamentam um país, então não deixe que a sociedade te apague, não estamos mais na ditadura, aja como diz a letra de Chico Buarque de Holanda: “Quero inventar o meu próprio pecado/ Quero morrer do meu próprio veneno” (Cálice) e seja mais corajoso.
Artigo originalmente publicado no jornal Folha Extra no dia 14/03/2013 - Wenceslau Braz/PR