Artigo sobre relacionamentos no século XXI : o famoso "ficar"
Livros, festas e paixão
O notável desenvolvimento técnico-científico-informacional das últimas décadas não tem sido de todo benéfico. Tornou-nos menos humanos. A sociedade atual, marcada pela sede erótica e financeira e superficialidade nas relações, carece do mais primitivo instinto: o sentir.
Estudos fervorosos, trabalho incessante e a busca desenfreada pelo sucesso profissional nos estafam; não há tempo nem paciência para nos dedicarmos ao outro nem lidarmos com qualquer tipo de cobrança.
Diante desse cenário frio e corrupto, transcorre a banalização dos sentimentos e, por conseguinte, o recém-popularizado “ficar”. Desconhecido pelas gerações anteriores, o verbo –que aqui adquire novo valor semântico: estabelecer contato físico descompromissadamente- já faz parte do vocabulário cotidiano dos pais.
Aqueles marcados pela frivolidade e indiferença vêem na proposta, em tesem o caminho para a felicidade: liberdade, desligamento familiar e o abandono do romantismo.
Curiosamente, o contingente de casais ainda é assombroso. O namoro permite compartilhamento de experiências, conhecimento e a troca de carícias com maior intimidade. Parecem não saber lidar tão bem com questões polemicas como infidelidade, mas basta sair às ruas para observar milhões de apaixonados. Acomete-nos, então, uma dúvida atroz: que tipo de relacionamento seria o ideal?
Trata-se de algo excessivamente pessoal, mas meu conservadorismo me impede de compreender qual o prazer existente em carícias sem afeto, abraços e beijos em vão, para, se me permitirem a extravagância clichê, saciar os desejos da carne. Pois bem, eu prefiro saciar a fome da alma.
Uma coisa é certa, quando as peles se tocam ardentes e os olhos se encontram mimeticamente, já não há mais tempo para análises e é hora de se entregar. É no avassalador beijo que se segue que se avalia a durabilidade daquela relação e, qualquer que seja nossa escolha, o importante é a manutenção do estado de êxtase pelo maior tempo possível.