Dia das “Amazonas”
O Dia Internacional da Mulher, comemorado na última sexta, não é uma data dedicada às “mulheres de Atenas” tal como descritas na famosa canção de Chico Buarque. Tampouco às de Esparta, mesmo que essas tivessem uma importância social relevante na sua cidade-estado grega em comparação às atenienses. A data se refere mais às lendárias Amazonas, citadas na mitologia desse mesmo povo, guerreiras que andavam à cavalo e manipulavam com mestria o arco e a flecha.
Mas como na história essa data proveio do pensamento e da prática de esquerda (entendida a partir da sua origem na Revolução Francesa), das lutas socialistas e anarquistas do século XIX, de quando as conseqüências sociais da Revolução Industrial assolavam dramaticamente a expressiva e emergente classe operária urbana (para as quais o até então revolucionário pensamento liberal burguês não dava conta), é uma data destinada às guerreiras no sentido figurado: é uma homenagem à mulher que trabalha e que vai à luta por seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais. Logo, é uma data com simbologia política, destinada à cidadã, não à fêmea, seja ela a socialmente estereotipada como a “romântica” ou como a “erótica”.
Assim, o Dia Internacional da Mulher tem a mesma vertente histórica, política, social e econômica do Dia do Trabalhador. Enquanto o 1º de maio é a data do trabalhador (fabril), o 8 de Março é a data da trabalhadora (fabril), e transcende esse ao acrescentar as lutas específicas do gênero feminino, social e juridicamente oprimido desde sempre e em processo de emancipação alavancado nos séculos XIX e XX. A mulher do século XXI já nasce com todas essas conquistas como fato consumado, herança vinda do “sangue, suor e lágrimas” (grande frasista o Churchill!) das milhares de precursoras que lutaram e (literalmente) morreram por elas.
A data é para a mulher da canção da Rita Lee (“sexo frágil não foge à luta e nem só de cama vive a mulher”), não para a da canção do Benito di Paula (“caminha sambando, quem não viu, [...], mulher brasileira é feita de amor”), embora a condição de mulher abarque as duas realidades. É uma data para mulheres como Rosa Luxemburgo, Olga Benário, Dilma Rousseff e Yoani Sánchez (pode soar herético para alguns, mas não é só pela via da esquerda que a mulher participa), não para as modelos da Playboy e dos anúncios de cerveja (nada contra elas). É para a mulher que trabalha e empreende e, também, para a ativista, para a militante.
E, tanto quanto o 1º de Maio, o 8 de Março sofre deturpações feitas por setores da grande mídia que preferem valorizar o “trabalho” e o “feminino”, esvaziando tais datas de seu conteúdo histórico, classista e ideológico. De certa forma o sentido dessas efemérides é “datado”, pois não estamos mais vivendo sob as agruras sociais do modelo capitalista típico do início da Revolução Industrial. A mulher (assim como o trabalhador assalariado) já avançou muito na questão dos direitos, do mercado de trabalho, da gestão econômica (comando de empresas públicas e privadas), da participação política, da liberdade sexual e da vida social cotidiana. E, também, a evolução tecnológica diminuiu em muito o peso demográfico do trabalhador assalariado fabril no processo produtivo e, por conseqüência, na sociedade, o que afetou a importância política e econômica da classe operária entendida em seu conceito clássico.
Entretanto não podemos esquecer ou mistificar o sentido histórico do Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as mulheres que lutaram e que lutam e pela sobrevivência individual e social nos seus lares, nos seus locais de trabalho e em outras esferas sociais. Vocês foram e são “imprescindíveis”, no sentido que Brecht dá a palavra naquele seu famoso poema. Nem atenienses, nem espartanas. Amazonas!
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br
O Dia Internacional da Mulher, comemorado na última sexta, não é uma data dedicada às “mulheres de Atenas” tal como descritas na famosa canção de Chico Buarque. Tampouco às de Esparta, mesmo que essas tivessem uma importância social relevante na sua cidade-estado grega em comparação às atenienses. A data se refere mais às lendárias Amazonas, citadas na mitologia desse mesmo povo, guerreiras que andavam à cavalo e manipulavam com mestria o arco e a flecha.
Mas como na história essa data proveio do pensamento e da prática de esquerda (entendida a partir da sua origem na Revolução Francesa), das lutas socialistas e anarquistas do século XIX, de quando as conseqüências sociais da Revolução Industrial assolavam dramaticamente a expressiva e emergente classe operária urbana (para as quais o até então revolucionário pensamento liberal burguês não dava conta), é uma data destinada às guerreiras no sentido figurado: é uma homenagem à mulher que trabalha e que vai à luta por seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais. Logo, é uma data com simbologia política, destinada à cidadã, não à fêmea, seja ela a socialmente estereotipada como a “romântica” ou como a “erótica”.
Assim, o Dia Internacional da Mulher tem a mesma vertente histórica, política, social e econômica do Dia do Trabalhador. Enquanto o 1º de maio é a data do trabalhador (fabril), o 8 de Março é a data da trabalhadora (fabril), e transcende esse ao acrescentar as lutas específicas do gênero feminino, social e juridicamente oprimido desde sempre e em processo de emancipação alavancado nos séculos XIX e XX. A mulher do século XXI já nasce com todas essas conquistas como fato consumado, herança vinda do “sangue, suor e lágrimas” (grande frasista o Churchill!) das milhares de precursoras que lutaram e (literalmente) morreram por elas.
A data é para a mulher da canção da Rita Lee (“sexo frágil não foge à luta e nem só de cama vive a mulher”), não para a da canção do Benito di Paula (“caminha sambando, quem não viu, [...], mulher brasileira é feita de amor”), embora a condição de mulher abarque as duas realidades. É uma data para mulheres como Rosa Luxemburgo, Olga Benário, Dilma Rousseff e Yoani Sánchez (pode soar herético para alguns, mas não é só pela via da esquerda que a mulher participa), não para as modelos da Playboy e dos anúncios de cerveja (nada contra elas). É para a mulher que trabalha e empreende e, também, para a ativista, para a militante.
E, tanto quanto o 1º de Maio, o 8 de Março sofre deturpações feitas por setores da grande mídia que preferem valorizar o “trabalho” e o “feminino”, esvaziando tais datas de seu conteúdo histórico, classista e ideológico. De certa forma o sentido dessas efemérides é “datado”, pois não estamos mais vivendo sob as agruras sociais do modelo capitalista típico do início da Revolução Industrial. A mulher (assim como o trabalhador assalariado) já avançou muito na questão dos direitos, do mercado de trabalho, da gestão econômica (comando de empresas públicas e privadas), da participação política, da liberdade sexual e da vida social cotidiana. E, também, a evolução tecnológica diminuiu em muito o peso demográfico do trabalhador assalariado fabril no processo produtivo e, por conseqüência, na sociedade, o que afetou a importância política e econômica da classe operária entendida em seu conceito clássico.
Entretanto não podemos esquecer ou mistificar o sentido histórico do Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as mulheres que lutaram e que lutam e pela sobrevivência individual e social nos seus lares, nos seus locais de trabalho e em outras esferas sociais. Vocês foram e são “imprescindíveis”, no sentido que Brecht dá a palavra naquele seu famoso poema. Nem atenienses, nem espartanas. Amazonas!
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br