Individualismo e vida social- Sim! é possível harmonizar
Uma das formas de males humanos é agradar o coletivo e em virtude dessa falsa sensação de realidade passamos a viver uma ilusória vida de aprovação e aceitação social que nem sempre - e na maioria das vezes - nos faz seres frustrados. Crescemos numa sociedade que não nos prepara para a solidão e para o individualismo. Somos programados para atender demandas e essas demandas sempre em virtude dos outros nos torna meramente uma peça da engrenagem, não nos permitindo ao toque, à sensação de existir à parte de disso tudo. Talvez essa seja uma das razões pelas quais as pessoas solitárias se suicidam, velhos aposentados e ociosos morram mais rapidamente, especialmente os que são abandonados ou postos em asilos - no isolamento.
A verdade é que não sabemos nos aventurar pela solidão. Parece-nos hostil, o fundo do oceano negro e abismal. Não são poucos os que após perceberem-se não indivíduos, mas um número no sistema, se rebelam, se exilam, ignoram a existência - ainda assim continuam frustrados porque, por incrível que pareça, somos resultados de uma coletividade; então onde está o problema? Ora, todo o dilema consiste em não excluir as ações pelo coletivo, porém em que mesmo agindo em função do todo possamos ser percebidos e aceitos como indivíduos, seres com vontades próprias, paixões e aspirações particulares, de orientações e vocações que enriquecem na vasta multifuncionalidade social e que, acima de tudo, possa exercer através dessas particularidades, o ato que cumpre seu essencial papel na sociedade. Como exemplo podemos tomar um professor, com formação em letras, trinta e poucos anos, casado, que se empenha em dar-se em função da educação, vivendo e trabalhando em nome dela. Esse indivíduo, embora goste do que faça e também nutra grande apreço por sua educação, em determinado momento vai estagnar, estafar e quem sabe desenvolver sérias patologias. Por quê? Apesar de ter a profissão que escolhera, a condição financeira presumida, o fato de viver em função da educação pode torná-lo esquecido de si mesmo, empenhando-se meramente para atender as expectativas sociais do grupo. Inconscientemente esse indivíduo vai protestar a necessidade de ser e viver o que ele de fato é: individuo. Suas necessidades pessoais podem não estar sendo supridas, ainda que atender a necessidade coletiva traga alguma satisfação; Agora, imagine que esse mesmo professor, cumprindo esse mesmo processo, acrescente a isto alguma atividade que lhe torne particularmente satisfatória, por exemplo, musica ou produção livre de poemas e afins, quem sabe reuniões semanais para discutir questões sociais pertinente á matéria por ele dada, enfim, uma variedade de interesses que o satisfazem. Isto certamente o fará não apenas ser professor (peça do sistema educacional), mas um educador eficiente, porquanto além do cumprimento do dever se aplica em doar-se pelo bem individual, para atender as aspirações particulares que possam ser captadas em sala de aula, agregando ao interesse de grupo (escola) o interesse particular de seus discentes.
Para concluir deixe-me dar uma referência que acho no mínimo curiosa: Toda ação social que o sistema impõe aos cidadãos é antes anunciada por inúmeros meios, como filmes, anúncios, propagandas... tudo previamente preparado para que, antecipando a realidade por meio da ficção sejamos acostumados com a idéia , uma espécie de adestramento da mente humana, como por exemplo, a invasão de privacidade em nome da segurança por meio de monitoramento, como vemos no “Big Brother” de todo o mundo, o domínio social e a perda do direito de ir e vir, a manipulação de sensações e de liberdade como percebemos em Matrix e Matrix Reload, a inserção de novos hábitos e orientações “sui generis” como observamos em novelas, etc.; Somos o que querem que sejamos - livres alienados, mas nunca alienados livres. Seremos peça do sistema ou faremos dele um trampolim para a liberdade? A escolha é tua, é minha, é nossa...