Os perfeitos conviventes
Prólogo
A notável escritora Lya Luft escreveu e publicou, aqui mesmo, no Recanto das Letras, o artigo intitulado “O Casal Perfeito”. No contexto ela escreveu:
“Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar. A querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.” – (SIC). – Lya Fett Luft (Santa Cruz do Sul, 15 de setembro de 1938) é uma escritora e tradutora brasileira. É também uma professora universitária aposentada e colunista da revista semanal Veja.
Ah! Antes que Eu esqueça é de bom grado informar o nosso (Da tia Fátima e meu) segredo. A rotina, que é a destruidora inevitável de qualquer relação não faz parte de nossas vidas! Somos insólitos e por isso consideramo-nos perfeitos conviventes.
COMO FUI E, AINDA HOJE, SOU CONSIDERADO
Por algumas mulheres eruditas já fui tachado de femeeiro. Pelas mais simples, aos gritos, fui chamado de “galinha”, embora Eu preferisse, motivado pelo machismo inconsequente, ser comparado a um galo. Do mesmo modo que o bem e o mal convivem em cada um de nós creio existir conviventes, casal, amantes, namorados e afins perfeitos.
Não nego: Milhões de vezes, em diversas ocasiões, nem sempre tempestivas, pensei em ficar só. Debalde. Minha natureza dicotômica pede diálogo e afeto mesmo que seja do outro Eu lírico.
Existem conviventes perfeitos? Por que as pessoas se casam? O que se busca em uma vida a dois? É possível viver feliz sendo solteiro (a)? Como ter ou preservar sua privacidade convivendo com outra pessoa de costumes e hábitos diferentes? Quando escrevi sob o tema “Um amante perfeito” asseverei:
As mulheres contemporâneas tornaram-se independentes e perderam a fragilidade de outrora, contudo são femininas. E essa excelsa beatitude (Refiro-me à feminilidade e aqui não escrevo nenhum exagero) por si só já é suficiente para que nós homens passemos a tratá-las com a devida delicadeza.
Claro quero deixar que a satisfação sexual não está baseada na quantidade de relações sexuais, mas sim na qualidade de cada uma delas e compreender que a visão sexual difere entre homens e mulheres. Higiene, discrição, paciência e afeição é o cerne do segredo para a conquista plena da confiança mútua.
QUEM DEVERÁ ESTAR NO COMANDO?
Nem um nem outro deverá se achar no comando, mas é preciso que se conquistem as etapas para a confiança mútua. A preocupação maior deverá ser com o prazer feminino, posto que elas sejam privilegiadas quanto ao tempo de conquista do acme do gozo sexual. Paciência e não egoísmo é o maior segredo para ser considerado por elas um bom de cama.
Não se pode negar: Nós homens temos um desenvolvimento sexual mais carnal e ambicioso, enquanto as mulheres alcançam o prazer sexual de forma mais pausada e afetiva. Daí a extrema necessidade em sermos pacientes. No meu entender a maior virtude de um perfeito amante é a paciência, o controle da pressa, a tolerância e o reconhecimento de nossa fragilidade biológica diante da ternura e delicadeza da mulher.
A MULHER IDEAL OU A AMANTE PERFEITA
Amante perfeita é você! Mulher bonita, perfumada, de bem com a vida, com o astral lá em cima, esquecida dos problemas comuníssimos da vida material, livre da TPM e disponível quando o clima esfria ou esquenta.
A mulher ideal cuida de sua autoestima. Esquece a vizinhança indiscreta. Valoriza-se. Grita. Geme. Chora. Ri. Sussurra palavrões e agita o corpo feminil. Entrelaça os seus dedos quando a penetração se torna mais progressiva e profunda.
Por favor, NUNCA SE considere incapaz, gorda, feia, relaxada, idiota; deixe o estresse do dia a dia do lado de fora do quarto e aproveite, sem medo nem culpas, os momentos de prazer que o seu corpo for capaz de lhe proporcionar, junto ao seu parceiro, devidamente estimulado pelas carícias e beijos mais ousados, sobretudo pelas peraltices que sua excelsa feminilidade for capaz de criar.
NEM TUDO SÃO FLORES COM O PASSAR DO TEMPO
Os diletos leitores e amigas leitoras haverão de dizer: “Nem tudo são flores com o passar do tempo”. Sim! Isto mesmo. Por isso a notabilíssima escritora Lya Luft escreveu o texto intitulado “O casal Perfeito”:
“Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar. A querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.” – (SIC). – Lya Fett Luft (Santa Cruz do Sul, 15 de setembro de 1938) é uma escritora e tradutora brasileira. É também uma professora universitária aposentada e colunista da revista semanal Veja.
CONCLUSÃO
Corria o ano de 1967. Foi nesse abençoado ano (Assim o considero) que Eu comecei a cortejar a briosa mãe dos meus três filhos, refiro-me a Dona Fátima, a quem carinhosamente chamo de tia Fátima. Ela estava com treze anos de idade e Eu com dezessete.
Adolescentes, nossos hormônios explodiam a olhos vistos! Vivenciamos, à época, uma odisséia que nos levou a um mundo fascinante de conquistas afetivas, de um alvissareiro contentamento; paixões, luxúria desbragada, não necessariamente indecorosas.
Hoje temos uma vida a dois bastante moderada, talvez demasiada simplória, sem malícia. Podemos usar ostensivamente nossas coroas de louros pelas vitórias justas e merecidas alcançadas. Nossos amados filhos têm orgulho de nossa convivência pelo exemplo que garbosamente lhes legamos.
O TEMPO PASSA DEPRESSA PARA QUEM ESTÁ FELIZ
Hoje passados quarenta e seis anos de convivência marital parece que nada mudou no que diz respeito à cumplicidade, apreciação das virtudes e aceitação dos defeitos mútuos. No ato do consórcio matrimonial, os cônjuges realizam algumas promessas. Prometem amar e respeitar um ao outro, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe.
Estranhamente, muitas vezes os votos formulados são esquecidos em pouco tempo. Esposos se antagonizam. Criam dificuldades um para o outro. E o que começa como um lindo sonho de amor, em muitos casos acaba com um desfazer da aliança, em meio a muita mágoa e, às vezes, com ressentimentos tão fortes que se envenenam mutuamente com acusações medonhas.
Onde ficaram as promessas do casamento? Onde se escondeu o amor eterno jurado tantas vezes, durante o namoro? Sumiu a paixão desenfreada? A libido? A energia que está na base da agressividade e da criatividade humana desapareceu? A vitalidade jovial não é mais a mesma?
ESCREVO SOBRE ATOS E FATOS MEUS
Sim! Falo (escrevo) por mim. Já não existe mais o halo e brilho forte do amor preconizado sagrado e resistente ao inexorável passar dos anos. Não nos abraçamos e tampouco nos beijamos ostensivamente ("Para inglês ver"), mas em nosso envelhecer com dignidade estão presentes os pressupostos desejos de amar um ao outro de outro melhor jeito.
Quarenta e seis anos de convivência com altos e baixos, próprios da espécie humana, as rugas sulcam nossos rostos e, às vezes, ficamos impacientes um com o outro, mas reconhecemos que estamos maduros, que não somos mais um casal de adolescentes. Somos cúmplices, não irascíveis. Somos tolerantes, não acomodados. Estamos cientes de que temos limitações e defeitos. Também virtudes.
Conseguimos o que parecia impossível: superamos as paixões de outrora quando éramos insaciáveis e as emoções desenfreadas do tempo em que éramos libertinos, inconsequentes, às escondidas. Hoje, em vez de beijos, abraços e carícias; ou mesmo uma cópula (Muitas vezes fizemos isso, sem culpas ou pudores, nas praias de Fernando de Noronha durante o período 1978/1982) fazemos um agrado um ao outro quando contamos uma piada e/ou fazemos um lanche frugal junto.
Nossas intimidades maritais sempre foram semelhantes ao fragor de uma tempestade, sem linde. Agora compreendemos o refrão: "Depois da tempestade vem a bonança". Nesta auspiciosa maturidade vivemos um período tranquilo, venturoso, feliz. Não há luxo, pompa, ostentação, magnificência. Existe prosperidade, tolerância e complacência mútua.
RESUMO DA CONCLUSÃO
Casamento é bom, é sonhar sim, mas com o pé no chão, ou seja, nem tudo são flores, nem tudo é perfeito, nem tudo acontece como a gente quer, nem tudo é um mar de rosas. Existirão problemas, dificuldades, discussões, algumas decepções e desilusões. Tudo com vistas a testar capacidades de superação, construir uma história digna de ser contada pelas futuras gerações da família.
Meus avós maternos e paternos assim como meus pais (Mamãe Júlia e papai Muniz) mantiveram-se casados até que o necessário desencarne os separassem. Eles se superaram. A tia Fátima e Eu estamos nos superando. Aceitamo-nos com nossos defeitos.
Hoje, ela está com sessenta anos de idade. E Eu com gládio (Energia física e/ou moral) no rosto sério digo sem pejo do ridículo: “Não a trocarei jamais por três de vinte”. Há quem diga que "a cavalo velho se dá capim novo", mas não é menos verdade que "para consertar uma cerca velha usa-se vara nova". Não quero correr esse risco.
O EX-INCORRIGÍVEL FEMEEIRO NÃO É HIPÓCRITA
Para a tia Fátima NÃO SOU um hipócrita. Isso conta positivamente na maturidade da relação entre os conviventes. Não há como duvidar de quem é ordeiro por natureza, justo, leal, responsável quanto as obrigações familiares e profissionais; da sinceridade de quem promete e cumpre amar, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe.
É mais do que certo que depositamos um no outro a esperança de uma vida plena de felicidade. O amor e a confiança geram a expectativa de que a união nunca vai acabar. As juras de amor eterno são promessas de lealdade, fidelidade, que dão a certeza de respeito mútuo durante toda uma existência a dois. Combatemos juntos, a cada instante, um inimigo comum: A ROTINA!
Ah! Antes que Eu esqueça é de bom grado informar o nosso (Da tia Fátima e meu) segredo. A rotina, que é a destruidora inevitável de qualquer relação não faz parte de nossas vidas! Quero repetir para não deixar dúvidas: Nesta auspiciosa maturidade a tia Fátima e Eu vivemos um período tranquilo, venturoso, feliz. Não há luxo, pompa, ostentação, magnificência. Existe prosperidade e complacência mútua. Somos insólitos e por isso consideramo-nos perfeitos conviventes.