CONSUMA E SEJA FELIZ.

Assuma sua condição de folião neste carnaval, é desta forma que a imprensa e o governo insistem em te alienar neste período. Outrora você já recebeu outros rótulos, esta será só mais uma vez dentre muitas outras.

Não me venha com este papo de moralismo, cheio de escrúpulos ou com preceitos culturais e religiosos. Você aprendeu a ser patriota durante os jogos da seleção, de quatro em quatro anos é induzido a torna-se eleitor, semanalmente dividem-nos como torcedores amigos da Rede Globo, portanto, seja coerente e fantasie-se como folião.

Diariamente você assume papéis, conforme as regras da sociedade brasileira, sem nunca ter se questionado o “porquê” de tudo isso. A verdade, amigo leitor, é que já faz muito tempo que você deixou de ser cidadão, de fato, e passou a ser considerado apenas como consumidor. Em outras palavras, você será tratado como cidadão enquanto tiver pelo menos um real no bolso!

Reflita, por um instante, e perceba que você está condicionado a associar que as suas possibilidades de aquisição e de consumo determinam o seu grau de felicidade. Consumir é a mais nova forma de busca da felicidade.

Obedeça aos slogans oficiais: use camisinha, beba com moderação, não dirija depois, feliz natal e próspero ano novo – leia-se consuma sempre - como turista, folião e torcedor. A cada final de semana, nos feriados prolongados, no carnaval e em todas as outras festas populares, consuma e seja feliz.

O nosso país é rico, mas o povo é muito pobre e, infelizmente, não consegue realizar plenamente esta felicidade, seguindo esta proposta de sociedade consumista, típica do capitalismo neoliberal. Um modelo internacional que atravessa uma grande crise e futuramente irá falir.

Neste cenário, em que a nossa Constituição Federal foi rasgada e substituída pelas leis do mercado internacional, o maior desafio do nosso povo é ultrapassar a dinâmica do modelo consumo/felicidade e mobilizar-se para exercer a sua cidadania plena. Isso só será possível através do acesso a uma renda digna e, sobretudo, pelo investimento constante em escolaridade inclusiva, capaz de auxiliar o desenvolvimento dos indivíduos na formação intelectual e na construção da cidadania.