MASOQUISMO SOCIAL



A maioria esmagadora do povo Brasileiro, tem hábitos impregnados em sua conduta político-comportamental, que vem retardando nosso desenvolvimento social. Somos, ainda, dentre os países da América do Sul - por exemplo - o mais acanhado no avanço social, muito apesar de sermos, economicamente, o principal deles.

Temos na distribuição de renda, dentro os países economicamente desenvolvidos e/ou em desenvolvimento, a mais perversa evidência de que somos um povo submisso ao patrão, que aceitamos os cabrestos do patrão. Aliás, chego a pensar que a grande maioria do povo, pela submissão com que encara o patrão, o doutor, tem uma dependência cultural dessa figura, da figura de alguém que lhe diga como pensar, o que pensar. Alguém, politicamente, a quem ele obedeça.

Isto também está claro na forma como sobrevive o coronelismo contemporâneo, através das oligarquias que ainda dominam tantos estados. E não creio que esse domínio seja imposto. Vejo como uma dependência do povo para com essas figuras, essas famílias, esses patrões. Por mais que sejam explorados, por mais que o desenvolvimento chegue e as informações se democratizem; por mais que a exploração venha a tona e se evidencie, pouco, muito pouco se vê de mudança nesse gosto pela obediência, esse hábito e gosto pelo cabresto, quase veneração aos chefes oligárquicos.

Lembro-me da grande figura política de Ulisses Guimarães. Um grande líder político, democrático. Mas não era herdeiro de nenhuma oligarquia. Não era coronel. Não se apresentava como patrão. Quando candidato a Presidente, teve pouco mais de 5% dos votos.

Temos o Sarney. Manda e desmanda no nordeste. O povo maranhense é um dos mais pobres dentre todos os estados. Mas o Sarney é rei. Manda prender e manda soltar. Quem ele indica é eleito, da filha, ao afilhado. É o patrão do Maranhão, muito apesar do tudo de falcatrua que a modernidade das informações permite vir à tona. O povo do Maranhão o idolatra.

Poucos são os estados razoavelmente livres dessa dependência, desse obediência civil. Temos os Collor nas Alagoas, o Sarneísmo no Maranhão. Os Bornhausen em SC. Na Bahia temos os Magalhães. Enfim, se já não temos mais um estado formalmente oligárquico, temos um povo ainda muito dependente, obediente e submisso às oligarquias.

Em cada pedacinho de chão desse nosso país, temos alguém que manda e um povinho que obedece. Não posso mais acreditar que essa obediência seja dependência econômica como ocorria nos velhos tempos. Não creio que seja necessidade de sobrevivência como nos idos tempos. Creio piamente que seja uma cultura enraizada, uma herança quase genética.

Discutimos sobre eleições, discutimos o fato de que candidatos notadamente “sujos” são eleitos e não entendemos. Falamos que o povo não sabe votar, ao mesmo tempo que aplaudimos a democratização das informações. Conversamos sobre a rebeldia dos jovens, os mesmos jovens que continuam votando nos donos da cidade, do estado. Nele ou a mando dele.

E não vou entrar no mérito da obediência à farda. Deixemos esse aspecto para outra ocasião. Importante e pensarmos, refletirmos sobre o porquê dessa dependência, dessa necessidade, desse vício social de devoção ao patrão, ao doutor, ao coronel, ao explorador, àquele que nos explora, que nos corrompe, que nos engana.

Vejo nisso um gosto pelo masoquismo social. Não tenho outra explicação que não seja essa.

Enquanto o Brasil é englobado ao mundo. Enquanto o avanço tecnológico salta aos olhos de todos. Enquanto as informações circulam em velocidade já superior a luz. Enquanto o mundo e o Brasil se desenvolvem tecnologicamente, eletronicamente, nossa evolução efetivamente cultural gatinha em passos de tartarugas, presa ao gosto pelo coronelismo.

Por isso nosso desenvolvimento social é tão lento, tão acanhado. Por isso a exploração econômica e social da massa pelos poderosos e tão medonha, tão enfadonha. É que o povo gosta. Gosta sim. Não foi a toa que aquela música do “tapinha não dói” fez e faz tanto sucesso
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Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 05/02/2013
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