“O Jeitinho Brasileiro que Mata" - em Santa Maria
O inicio da semana foi marcada pelas noticias do incêndio na boate Kiss em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, pelos menos cinco grandes potências noticiaram o ocorrido pelo mundo. Até o momento cerca de 234 pessoas foram mortas. A cidade passou pelo processo de revolta, horror e comoção entre reconhecer e enterrar os seus. Toda tragédia é cheia de histórias, encontros e desencontros, pessoas que escaparam, pessoas que salvaram e se salvaram, alguns heróis e também vitimas. O sentimento de solidariedade paira sobre a cidade, não quem não se sensibiliza? Esse é o sentimento mais bonito que brota em meio às tragédias. A capacidade de se fazer irmãos de dor.
Longe de ser apenas uma tragédia literária que é marcada pelo conflito entre a vontade humana e os desígnios inelutáveis do destino, a tragédia de Santa Maria é marcada por concessões e falhas por setores que deveriam justamente promover a segurança da sociedade. As investigações sobre as causas continuam, o ministério publico estadual foi acionado, os bens dos proprietários bloqueados, alguns já foram presos. O que ainda fica no coração de muitos brasileiros é que essa tragédia talvez pudesse ter sido evitada. Não foi um ataque terrorista, nem um mar enfurecido, não passou um furação por /Santa Maria. Não foi algo inevitável. Não foi a natureza que devorou a vida de centenas de jovens. Foi algo mais casual, mais cotidiano, algo que muitos brasileiros até se orgulham. Poderíamos mencionar a irresponsabilidade dos órgãos públicos ou a ganância dos organizadores. Mas vejo que o “jeitinho brasileiro” mais uma vez prevaleceu. O famoso “jeitinho” de deixar o que é correto. Então só depois da tragédia, do choro de mães que perderam mais de um filho, só depois que cada brasileiro ora em silêncio, pede justiça sem esperança de se encontrar e dar as mãos com ela. E que se vê que alvarás são concedidos sob suspeitas, que não há regularmente fiscalização, e que vender o dobro de ingressos em um lugar que não suporta se chama lucro, é que vemos que o “jeitinho” pode matar. O que nos falta quanto sociedade para que essas tragédias não ocorram? Religião? Ética? Respeito? Legislação? Abandono de práticas antigas como o tão famoso “jeitinho brasileiro”. Que repensemos as nossas práticas, o que como brasileiros estamos deixando de legado, como estamos escrevendo a nossa história. E até quando o “jeitinho brasileiro” vai nos danar do caráter a vidas.
Cyrlene Rita dos Santos