O comércio das greves no Brasil
Mais uma greve chega ao fim sem que os grevistas tenham sua pauta de reivindicações atendidas. Pode parecer uma crítica, mas na verdade é uma observação consciente da banalização do movimento grevista em todo o país.
Foram três meses de braços cruzados, justiça seja feita, por se tratar de atendimento essencial, parte dos técnicos do hospital regional de Altamira seguiram trabalhando normalmente, o que garantiu a integridade dos pacientes. Mesmo assim, foram três meses de paralisação e de muita conversa, a empresa que administra o hospital não aceitou negociar com grevistas, entrou na justiça pedindo a ilegalidade do movimento. A justiça deu parecer favorável aos trabalhadores e pediu que os pontos cortados fossem desconsiderados.
Ora! Se a justiça considerou legal o movimento, como explicar que após tanto tempo de paralisação, os técnicos retornam ao trabalho sem que a pauta fosse atendida? Se legal, entende-se que é justa, ou não? Não, pelo menos na visão da empresa que administra o hospital.
O ponto cortado, não se sabe se será recompensado. O tempo parado, certamente será cobrado com plantões, corriqueiramente o é. As reivindicações, essas ficaram para o ano que vem, quando certamente essa e outras paralisações irão assolar o país, sempre antes de uma eleição, ou após, como forma de pressionar novamente os gestores.
Uma coisa é certa, com tantos movimentos frustrados, os questionamentos sobre o movimento de greve, o direito a greve, ganha cada vez mais força nos corredores do Congresso e ameaça um dos direitos mais fundamentais do trabalhador brasileiro. Os sindicatos perdem força com tantos movimentos frustrados, os trabalhadores param, pressionam, pedem reajuste, melhores condições de trabalho, reposições. As empresas contra-atacam, ditam o reajuste (quando ditam, na maioria das vezes nem fazem propostas), sempre a baixo do esperado pelas categorias, os sindicatos aceitam e os trabalhadores voltam ao trabalho esgotados e desacreditados.
Em grande parte essas derrotas se devem a pressão no país por essa representatividade que apesar dos descontos anuais e alguns mensais, em nada representam os trabalhadores. O que não faltam são servidores indignados com os descontos e insatisfeitos com os resultados de negociações trabalhistas. Quem não se lembra da última batalha entre professores e o governo paraense, depois de prejudicar o calendário de milhares de estudantes, o sindicato aceitou a proposta indecorosa do Estado e todos voltaram ao trabalho. Quem se deu mal nessa? Professores que mais uma vez perderam, e alunos que terão aulas nos sábados, domingos, feriados...
O mesmo se repetiu no país com a greve dos professores universitários. Foram meses de prejuízo ao calendário das federais, uma negociação humilhante e o retorno com mais uma derrota no currículo. Quem perdeu? O mesmo grupo, como sempre. Assim como a PM que parou por 24 horas, deveria ter parado por mais tempo, mas só foram 24 horas e um prêmio de consolação. A rápida paralisação em nada ajudou no processo de luta pela PEC 300, na verdade só enfraqueceu a batalha, mesmo assim, todos estão nas ruas, nas salas de aula, nas construções, nos hospitais, esperando o próximo desconto sindical na folha, porque esse, esse não faz greve, não paralisa, não suspende um dia sequer sua participação no salário final dos brasileiros sindicalizados.