Tragédia anunciada? Será?

No Brasil há sempre alguém disposto a prevê algo sobre o futuro, inflação, desemprego, casamento de famosos. O que ninguém se propõe a adivinhar, e isso a história está aí para confirmar, é a morte de centenas de jovens estudantes, confinados em uma boate tomada pela fumaça e chamas de um incêndio anunciado no instante em que outro jovem resolveu acender um rojão dentro de um lugar fechado e isolado com material altamente inflamável.

Sinto pela família de cada uma das vítimas, a lógica é o filho enterrar o pai e não o contrário. Mesmo assim, como explicar as inúmeras mortes sem olhar com criticidade e observar absurdos como superlotação, alvará de funcionamento vencido, extintores que não funcionam, portas estreitas, saídas de emergência inexistentes.

A lista de irregularidades é grande e apesar da tragédia, não é exclusividade da boate Kiss, como também não foi do restaurante que explodiu no centro do rio, ou do condomínio que incendiou por completo em São Paulo. Em Belém uma boate pegou fogo, uma pessoa morreu, mas alguém aqui já cruzou com algum lugar lacrado por ter o alvará vencido? Ou multado por não ter instalado equipamentos anti-incêndio? Eu não, e aposto uma hora de caminhada como uma rápida passagem pelos prédios públicos, shoppings ou condomínios brasileiros vai revelar que nada, absolutamente nada mudou, apesar dos vários acidentes pelo país.

Um avião da TAM caiu por problemas técnicos, matando centenas de pessoas no Brasil, isso por um acaso serviu de alerta para a Boeing parar e reavaliar seu projeto. Não, e só não serviu, como ela segue afirmando, apesar das enumerar cenas de problemas ao redor do mundo, que não há problemas. Helicópteros e pequenos aviões veem sofrendo acidentes há anos no país, mas isso ainda não foi motivo para a ANAC intensificar sua fiscalização, tão pouco fechar escolas que tão aulas de forma irregular e prender pilotos sem habilitação.

Uma jovem, não faz muito tempo, morreu depois de cair de um brinquedo em um dos maiores parques do país, o brinquedo como todos viram em fotos e um tempo depois foi comprovado pela perícia, estava quebrado, mas apesar disso, outros acidentes já ocorreram em parques pelo país, e nem a fiscalização os fechou, como os proprietários passaram a ter mais cuidado com a vida daqueles que pagam para se divertir. Esse talvez seria o ponto, o ponto em que o país parasse, e como os EUA, reavaliassem sua legislação. Talvez, não fossem outros interesses, bem menos nobres, mas, um pouco mais importantes.

As chuvas, sempre tão reclamadas em estados do Nordeste, costumam causar estragos no Sul e Sudeste do país, o que até hoje, apesar das milhares de vítimas fatais, fez com que as autoridades reavaliassem suas políticas de contenção de encostas e pusessem em práticas planos de habitação. Mesmo após três anos da última catástrofe na serra carioca, ainda hoje há lugares intrafegáveis por causa de desmoronamentos, famílias inteiras sem ter onde morar e sobrevivendo com ajudas do governo.

O sofrimento dessas famílias não só deveria comover, mas obrigar as autoridades brasileiras a agir como autoridades. Enquanto isso não acontecer, outros pais seguirão enterrando seus filhos, no transito, em parques, em morros, ou como este fim de semana, em boates alegres e repletas de meninos e meninas sonhadores.